O deputado Marco Feliciano entendeu muito bem qual o sentido dos protestos à sua permanência à frente da Comissão de Direitos Humanos e Minorias. Eles nada têm a ver com torcidas de clubes de futebol ou com agruras de brasileiros acusados de crimes no exterior.
No entanto, se faz de desentendido isso partindo do princípio de que não sofra de algum tipo de déficit de inteligência. Vai à embaixada da Indonésia pedir "clemência" a dois brasileiros condenados à morte no país e cogita ir à Bolívia para dar conforto aos presos acusados de participação na morte de um garoto durante partida do Corinthians.
Se o deputado quer apresentar credenciais humanitárias e anda em busca de gestos que amenizem a antipatia decorrente da maneira agressiva como expressa suas convicções pessoais, o pedido de prisão de um manifestante que o chamou de racista durante mais uma tentativa frustrada de fazer andar os trabalhos da comissão não o ajudou nesse intuito.
Muito menos quando definiu assim a ordem: "Isso é democracia". Sentiu-se ofendido e mandou prender o ofensor, em ato inútil, porque o alegado crime não prevê prisão em flagrante.
Pelo jeito, como transita de peito aberto e cabeça erguida em meio à confusão criada sempre que aparece em público, o deputado Feliciano está pouco ligando para os ataques. Ao contrário, deve estar adorando surfar na onda que o levou do anonimato ao estrelato.
Frequentando as manchetes cumpre seu objetivo e, portanto, vai ficar onde está enquanto puder se beneficiar da situação: não perde um voto entre aqueles que pensam como ele e provavelmente ganhará muitos mais na próxima eleição, devido à notoriedade recentemente adquirida.
Não cedeu aos apelos do presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves, que, entretanto, não se sensibiliza com a presença de um deputado (João Magalhães) de seu partido, o PMDB, processado por corrupção e fraude, na presidência da Comissão de Finanças e Tributação.
O PT indicou dois condenados pelo Supremo Tribunal Federal à Comissão de Constituição e Justiça e, com isso, e mais o fato de os demais partidos terem se desinteressado da comissão presidida por Feliciano, vão dando argumentos para o PSC bater o pé.
Pressão por pressão, pelos critérios em vigor, a barulheira tem menos força que o regimento. Por este, o indigitado parlamentar só sai se quiser. Mais eficaz talvez seja mudar de estratégia.
Se a maioria não quer que ele fique, se não está apenas jogando para a plateia, que exerça seu poder de fato: reorganize as tropas, acorde cedo, vá para dentro da comissão, não falte a uma sessão sequer, vigie a pauta e imponha derrotas sistemáticas ao presidente. Aí veríamos se, desprovido de autoridade, um maestro sem orquestra, teria tanto interesse em continuar.
Lava mãos
Em princípio, parece louvável a recusa do governo federal em encaminhar ao Congresso projeto que propõe nova regulamentação aos meios de comunicação para que o PT o use como pretexto para tentar aprovar controle de conteúdo.
Mas o governo poderia mobilizar a maioria que oficialmente se diz contra aos petistas para discutir o indispensável marco regulatório propriamente dito e simplesmente excluir qualquer coisa que mais remotamente exale odor de censura. No voto ou no veto.
Por que não faz? Mais ou menos pela mesma razão pela qual se manteve distante da confusão da distribuição dos royalties do petróleo entre estados produtores e não produtores: medo de enfrentar a adversidade política.
No projeto relativo à comunicação, embora esteja com o discurso constitucional, social e institucionalmente mais correto, o Planalto estaria em confronto com o PT, e essa dividida também não quer administrar.