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Mal refeito do susto de um quase revés eleitoral que a certa altura chegou a dar como certo, o governo já enfrenta turbulências na área política às quais o PT não estava acostumado nas três vezes em que ganhou as eleições presidenciais. No geral, as previsões eram no sentido de que depois do vendaval da campanha acirrada viria a calmaria do dia a dia. A oposição algo fortalecida, mas ainda minoritária, a população cuidando da vida e a base parlamentar dita aliada voltaria para seus afazeres em busca do melhor lugar na troca das cadeiras na Esplanada dos Ministérios e adjacências.

As coisas, no entanto, não saíram como previsto. A oposição não falou fino, a situação − com destaque para o PMDB − não assinou o cheque em branco e o PT, depois de reclamações iniciais, começou a defender publicamente a necessidade de mudar para poder continuar.

O discurso dos críticos contra o qual reagiam passou a ser vocalizado pelos petistas: o partido rendeu-se ao fisiologismo, trocou a interlocução com a sociedade pela atuação via máquina do governo e concentrou todo o seu foco em disputas eleitorais.

Resultado, a população percebeu, reduziu significativamente seu apoio ao partido, respaldou a oposição como nunca havia feito antes e esses fatores tiveram reflexo imediato no Congresso. A reação foi instantânea. Sem direito à carência nem ao aguardo da posse dos deputados e um terço dos novos senadores eleitos. A insatisfação vai de A a Z, incluindo uma bancada do PT que se percebe isolada. É com esse cenário que a presidente Dilma Rousseff se depara nesta semana de movimentação partidária intensa em Brasília, na desconfortável situação de se ver obrigada a trocar os pneus com o carro em movimento.

Da reunião da Executiva Nacional do PT marcada para ontem a fim de fazer um balanço das eleições, discutir o que fazer no segundo mandato e examinar o rumo a tomar na disputa pelas presidências da Câmara e do Senado, se o tom não fosse de autoengano não se poderia esperar um quadro otimista. Embora sejam muitas, as dificuldades não são intransponíveis. O problema é que dependem de duas premissas: autocrítica e correção de rumos.

Hoje e amanhã, é a vez de o PMDB se reunir. Primeiro para discutir qual a proposta do partido para a reforma política. Difícil acreditar que, no clima conflagrado em que o partido se encontra e tendo em vista a amplitude dessa pauta, os peemedebistas se mantenham presos ao assunto durante o jantar no Palácio do Jaburu.

O tema que interessa mesmo ao partido é o da agenda do dia seguinte na reunião do Conselho Político: a conduta da bancada no Congresso nos próximos quatro anos. Em particular, nos dois primeiros em que os deputados apoiam a eleição de Eduardo Cunha para a presidência da Câmara contra (e por isso mesmo) a vontade do Planalto.

O que está em jogo − e esta é uma mudança que faz diferença − não é mais a quantidade de cargos que o governo possa oferecer. No mandato que agora termina, o partido percebeu que seu poder real está no Congresso. No Executivo, o nomeado não tem autonomia. Segundo Eduardo Cunha, há uma chance de o partido chegar a um acordo com o PT: "Se eles apoiarem o PMDB para a presidência, está fechado". Logo... O argumento para convencer os deputados a não cederem é o mesmo que será utilizado para conquistar os votos do PSDB e demais partidos de oposição: "Não entregar o comando do Congresso ao PT para preservar o equilíbrio dos poderes."

Pode ser que seja um dos assuntos do encontro marcado pelos tucanos para a mesma quarta-feira, a fim de marcar a reentrada em cena do senador Aécio Neves. Na ocasião, o PSDB dará o tom − de certo modo já antecipado – da contundência com que pretende fazer oposição. Atento ao quadro, o governo dá sinais de que o contraditório entrou no seu rol de preocupações.

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