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A minha criatividade, (e)leitor, vem sendo colocada à prova pelas atuais eleições. Tudo tão tranqüilo, tudo tão normal, tudo sem debate que, sinceramente, me pergunto sobre que tema escrever. Tudo está tão morto e parado que temos até alguns candidatos implorando ao eleitor pela chance de um segundo turno. Qual a razão desse marasmo? São duas, a meu ver.

Uma primeira diz respeito ao desempenho do atual prefeito. Essa impressionante e imutável taxa de intenções de voto acima dos 70% revela de forma inapelável que o sucesso da atual administração não é apenas fruto do marketing político. O fato é que o prefeito agiu de forma eficaz em regiões da cidade onde a esquerda usualmente conseguia mais votos. Creio que opera aqui a mesma lógica de sucesso do governo Lula. Num país em que as elites políticas nunca fizeram nada em benefício da população mais pobre, nem mesmo o mínimo, a execução de melhoras simples e superficiais produzem um ganho político muito grande. Quem nunca ganhou nada sabe rapidamente quando ganha alguma coisa e, o que é mais importante, sabe identificar o responsável pelo ganho.

A segunda resposta diz respeito às forças de esquerda. Essas, definitivamente, parecem ter perdido o rumo. São incapazes de enfrentar o prefeito no seu próprio terreno. Não conseguem formular um discurso novo, efetivamente transformador, e já não podem retomar as antigas proposições, estigmatizadas como arcaicas. O Partido dos Trabalhadores passa por um processo evidente de destruição de sua antiga identidade, tendo à sua frente uma elite partidária totalmente seduzida pelo jogo eleitoral, cada vez mais afastada dos movimentos sociais e cada vez menos disposta a se diferenciar do que aí está. Os demais partidos (PV e PSol), ao contrário, procuram ansiosamente aquilo que nunca tiveram: base social e identidade política. O PMDB, por sua vez, sucumbe sob o despotismo de uma única liderança. Assim como quase todo silêncio profundo usualmente esconde um grande perigo, a tranqüilidade do pleito atual esconde uma paz de cemitério, uma quase tragédia política.

Renato Perissinotto é cientista político e escreve às terças-feiras.

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