Mal começaram as eleições municipais e um tema parece que irá dominar a pauta das discussões entre os candidatos à prefeitura de Curitiba: o transporte coletivo. Nos debates, nas campanhas e nas entrevistas o tema é sempre abordado com um mix de orgulho e lamentação. Em geral, observa-se que aquilo que já foi um dia modelo para o Brasil e para o mundo revela hoje sinais evidentes de esgotamento.
Não vejo como não concordar com tais avaliações. Quando cheguei à Curitiba, há quase 16 anos, utilizava com muito mais freqüência o ônibus para me locomover. Raramente recorria ao carro, por exemplo, quando tinha que resolver problemas burocráticos no centro da cidade. A apresentação plástica dos ônibus e dos tubos impressionava quem vinha de cidades com pouca preocupação com o embelezamento urbano. Mas não era só isso. O transporte era verdadeiramente eficiente e o preço atraente. Valia a pena deixar o carro em casa. De lá para cá, aos poucos, fui deixando de utilizar o ônibus e recorrendo cada vez mais ao carro. O desconforto aumentou e o preço, definitivamente, não compensa. Morando no Ahu e trabalhando no prédio da Reitoria, não há razão para que eu abandone o conforto do meu carro por um transporte coletivo desconfortável e caro. Sou, portanto, um dos que contribuem para a piora progressiva do trânsito e do ar de Curitiba.
Muito se fala em "consciência ecológica". Que tal se o futuro prefeito desse uma ajuda ao surgimento dessa consciência? Que tal se ele investisse efetivamente num transporte coletivo que concorresse com o carro no que diz respeito ao conforto e ao preço? Mais eficiente do que apostar num discurso "educativo" de eficácia duvidosa e em mecanismos punitivos tais como pedágio urbano e rodízios, seria investir num sistema de transporte que mostrasse à classe média (essa gente tão apegada a seus carros que está até parando de beber) que é vantajoso andar de ônibus. Seria, além disso, uma forma de diminuir o apartheid social que cada vez mais caracteriza essa cidade.
Renato Perissinotto é cientista político e escreve às terças-feiras.
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