Ruiu a negociação para um ordenamento do comércio mundial. O petróleo está a 140 dólares o barril, e o tanque de um SUV bebe mais de cem dólares numa bomba de gasolina dos Estados Unidos. Isso no andar de cima. No de baixo, o barro necessário para fazer cem biscoitos de terra com óleo de soja e sal na favela de Fort Dimanche, em Port au Prince, subiu 40% em um ano. Como diria Bob Dylan, "alguma coisa está acontecendo por aí, Mr. Jones, e você não sabe o que é."

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Ninguém sabe, mas o melhor que se tem a fazer é reconhecer que a "Coisa" está acontecendo. Em 1973, quando o preço do barril de petróleo pulou de 2,90 dólares para 11,65, poucas pessoas perceberam que se acabara uma Idade de Ouro iniciada em 1949. Henry Kissinger, um dos donos do mundo à época, escreveria mais tarde: "A revolução do petróleo (…) era inevitável, mas sua inevitabilidade só foi vista depois."

Nessas horas, pequenos grupos de pessoas tomam decisões que mudam a história de um país. No Brasil de 1974, governando numa economia dependente de petróleo, o presidente Ernesto Geisel resolveu pisar no acelerador. Aproveitou o dinheiro fácil do mercado mundial e foi buscar a manutenção de altas taxas de crescimento. Investiu na pesquisa e exploração do petróleo descoberto em 1974 na Bacia de Campos, lançou um programa de estímulo ao plantio de soja no cerrado e criou o Pró-álcool, destinado a substituir parte do consumo de gasolina. O etanol, o petróleo da plataforma continental e os grãos do cerrado tornaram-se alavancas do progresso nacional.

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Esse é o lado bom da história. No lado ruim, criou-se a lenda da "ilha de tranqüilidade" e tomou-se gosto pelo endividamento externo a juros camaradas. Ele passou de 12,5 bilhões de dólares no início de 1974 para 50 bilhões em 1979.

Nessa hora veio uma nova "Coisa". Com a inflação americana a 13%, o presidente do Fed, Paul Volcker jogou a taxa de juros para cima, levando-a a 21,5% no final de 1980. Resultado: dois anos depois o Brasil quebrou, entrando numa crise que mutilou os sonhos de uma geração

Em 1993 um curioso encontrou com Volcker e comentou: "Lendo o seu livro de memórias, fica a impressão de que o senhor quebrou o Terceiro Mundo para salvar a banca americana (que emprestara dinheiro aos emergentes da época)". Ele respondeu: "Esse era o meu serviço".

A "Coisa" voltou a rondar a economia mundial, e Volcker, aos 80 anos, é um dos notáveis colaboradores de Barack Obama em sua campanha para presidente dos Estados Unidos. Ele não tem medo de cara feia.

Na hipótese de um surto protecionista americano, o Brasil só tem a temer impulsos mágicos como os da Argentina dos Kirchner ou a tese da "ilha de tranqüilidade" da ekipekonômica dos anos 70. Um piripaco no mercado externo pode descarrilhar a economia de Pindorama, que exporta minério e importa trilhos com o dólar na casa dos R$ 1,50. O câmbio como política de controle da inflação quebrou o país em 1999, com uma cotação semelhante à de hoje. Pode-se não saber como será a "Coisa", mas certamente ela não beneficia países que decidem se desindustrializar.

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À espera da "Coisa", a China lançou um programa de construção de 200 cidades de 3 milhões de habitantes em dez anos. Ou seja, dez Campinas por ano. Isso significa, entre outras coisas, fé no mercado interno. A China não é boba e protegeu sua lavoura contribuindo para melar uma negociação na qual o Brasil concordara em abrir seu mercado industrial em troca de concessões futuras na área agrícola.

Hoje, os livros-texto de História contam com naturalidade que a crise dos anos 70 era inevitável e que uma alta dos juros americanos em 1980 era tão certa quanto o nascer do sol. Quem disser que sabe como será a primeira "Coisa" do século XXI estará num exercício de presunção ou desperdiçará uma oportunidade de ficar rico investindo nas suas expectativas. Uma coisa é certa: em qualquer crise e qualquer tempo, quem contrapôs a teoria da "ilha de tranqüilidade" às ameaças da "Coisa" comprou um lindo mico, como o que subiu no ombro de George Bush.

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Pelos camelôs

A ida de Lina Vieira para a Secretaria da Receita Federal permite a esperança de que no novo cargo ela ressuscite uma iniciativa que lançou em 2006 como secretária de Tributação do Rio Grande Norte. Ela se chamou "Cresce RN" e destinava-se, num dos seus aspectos, a estimular a formalização dos vendedores ambulantes.

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O camelô ou dono de barraquinha que comprasse (com nota fiscal) até R$ 36 mil anuais em mercadorias podia se inscrever no programa. Recebia um número de cadastro e uma carteirinha, sem pagar nada, nunca. O pulo do gato estava na nota fiscal, pois o cidadão provocaria a formalização de sua compra, junto a um vendedor que nada tem de pobrezinho.

O programa recebeu poucas adesões e, por outros motivos, acabou afogado pelo Simples. Talvez seja possível repensá-lo. Seria mais produtivo do que perseguir os ambulantes.

Caveirão paulista

A cúpula da polícia de São Paulo resolveu criar o Caveirão do Silêncio. Trata-se de um blindado que protege o secretário de Segurança Ronaldo Marzagão e o delegado-geral Maurício José Lemos Freire. A delegada que detonou uma quadrilha onde havia 12 policiais (três delegados) envolvidos na falsificação de milhares de carteiras de motorista foi burocraticamente afastada da Corregedoria. Ela já fora ameaçada durante a investigação do sumiço de 327,5 quilos de cocaína apreendidos pela delegacia de narcóticos, caso no qual o Ministério Público denunciou cinco policiais (outros três delegados). Marzagão e Lemos Freire tratam publicamente os episódios como se eles fossem irrelevantes.

De olho

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O chanceler Celso Amorim desmente os murmúrios de que almeja o lugar de diretor-geral da Organização Mundial do Comércio. O mandato do francês Pascal Lamy termina no segundo semestre de 2009. A ver.

Mágica

Num lance de prestidigitação, Susan Schwab, a chefe da delegação americana em Genebra, fez desaparecer a bandeira dos Estados Unidos durante o funeral da Rodada de Doha. A responsabilidade pelo desastre caiu no colo da Índia e da China, enquanto os EUA ficaram apenas como coadjuvante. Na realidade, quem embarcou para Genebra levando um muro na bagagem foi a delegação americana. A senhora Schwab foi casada com um mágico profissional.

Malvadeza

Carla Bruni-Sarkozy deu uma entrevista à "Vanity Fair" comparando-se a Jacqueline Kennedy. Há uma diferença entre as duas: La Bruni apareceu pelada (pela sua vontade) 15 anos antes de se tornar mulher do presidente da França. Jackie só foi fotografada em pêlo (sem o seu conhecimento, numa trama de Aristoteles Onassis seu segundo marido) seis anos depois da morte de John Kennedy.

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Maluf na tevê

Passa pela idéia de Paulo Maluf, candidato a prefeito de São Paulo, abrir seu programa eleitoral com as cenas de sua espetaculosa prisão, com direito a algemas. Maluf é réu em três processos. No final de 2005, ele ralou 41 dias de cárcere.