De onde poderá vir o próximo apagão? Do setor elétrico. Pois é lá que Nosso Guia está a um passo de rodar o programa Anac 2.0. Desde o ano passado, a Banda Garotinha do PMDB do Rio (12 deputados, talvez oito) exige a nomeação do ex-prefeito Luiz Paulo Conde para a presidência das Centrais Elétricas de Furnas. Ela é uma das 50 maiores empresas do país, opera 11 hidrelétricas, 19 mil quilômetros de linhas. Atende metade das residências de Pindorama.

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Aos 73 anos, Conde foi um razoável prefeito do Rio (1997–2001). Com o apoio de César Maia, ganhou uma eleição perdida. Opondo-se a ele, perdeu uma reeleição ganha. Como candidato, prometeu um trem japonês que ligaria o Centro à Barra da Tijuca, quis aterrar a enseada de Botafogo e sonhou em revitalizar a região portuária da cidade. Não fez nada disso, mas foi um prefeito bem-humorado. Numa fase posterior, associou-se ao PMDB e às artes do casal Garotinho, chegando a vice-governador de Dona Rosinha. Como político, foi uma promessa da segunda divisão, até que o eleitorado o mandou à terceira. Hoje é secretário de Cultura de Sérgio Cabral.

Conde tornou-se um político profissional, mas é arquiteto, presidiu o IAB e projetou a casa de Ayrton Senna em Angra. Teve algumas boas idéias para do Rio. Infelizmente, ficaram quase todas no papel. Seus conhecimento elétricos limitam-se à definição dos pontos de luz e das tomadas numa planta. Tem a mesma qualificação técnica para dirigir Furnas que o doutor Milton Zuanazzi tinha para presidir a Anac: entende de outra coisa, mas tem bons amigos.

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A Banda Garotinha do PMDB ameaça votar contra a proporrogação da CPMF se Conde não for eletrificado. É possível que, a contragosto, Nosso Guia faça essa nomeação. O PMDB sabe que Lula prefere escolher um técnico mas, a esta altura, parece que Conde se tornou um capricho. Antes de consumar o desastre, seria bom recordar o passado de Furnas.

O tucanato preservou na poderosa diretoria de engenharia o doutor Dimas Toledo. Influenciados por conversas de butique de Belo Horizonte, os petistas mantiveram-no no cargo. Nessa época, o comissário José Dirceu teria dito ao seu aliado de base Roberto Jefferson: "Vamos resolver esse negócio por cima. Deixa o Dimas lá." Deixaram, e quando quiseram tirá-lo nasceram as contrariedades que desembocaram no escândalo do mensalão. Mais tarde, as malfeitorias tucanas e petistas de Furnas lubrificaram o grande acordo de 2005, que deixou a patuléia no papel de boba.

O escracho custou caro a Furnas, a Dimas e aos espertalhões que julgavam ter descoberto uma mina de ouro. Segundo Roberto Jefferson, os petistas estacionaram numa caixinha de R$ 3 milhões mensais. Uma coisa é certa: em 2002, pessoas que trabalhavam com Dimas ouviram-no vangloriar-se de ter ajudado a eleger três governadores, quatro senadores e mais de 20 deputados.

Se a Banda Garotinha do PMDB prensasse o governo para nomear o doutor Luiz Paulo Conde ministro das Cidades, o pleito poderia ser considerado parte do jogo político. Afinal, entende de urbanismo. Colocá-lo em Furnas a partir de uma pressão que está a milímetros da chantagem, é um jogo sujo que acabará mal, talvez no escuro.

Agência O Globo

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