Pelo andar da carruagem, a clínica de acupuntura do doutor Geraldo Alckmin terá dois ilustres clientes, George Bush e Marta Suplicy. O presidente americano conseguiu fechar seu governo com a humilhação de ter transformado os Estados Unidos num coadjuvante da Europa no trato de uma crise financeira. Foi valente para invadir terras alheias, mas amarelou ao sentir o bafo do dragão. Não teve a coragem de deixar o mercado limpar Wall Street (o que poderia ser maluquice, mas era o desdobramento de seu lero-lero), muito menos a audácia do primeiro-ministro inglês, Gordon Brown, que cacifou a banca. Marchava para um fim de governo desastroso, mas nem seu pior inimigo escreveria semelhante epílogo. Transformou Herbert Hoover, o presidente da crise de 1929, num gigante.
Marta Suplicy marcou hora na clínica do doutor Geraldo dando marcha a ré no estilo de campanha com que disputou o primeiro turno. Teve um amargo resultado, em segundo lugar, com 120 mil votos abaixo do seu capital de 2004. Apesar disso, seu desempenho foi elegante. Pretendia assegurar os votos da periferia e reconquistar os eleitores com maior renda e escolaridade, propulsores da alvorada de sua vida política.
Não conseguiu, mas poderia prosseguir a caminhada de forma graciosa.
Tinha mercadoria para entregar, pois a história dos transportes públicos brasileiros registrará que foi ela quem criou o Bilhete Único, hoje instituído em quase todas as grandes cidades do país, com exceção do Rio de Janeiro. Quando Marta menciona seu programa de distribuição de uniformes para estudantes da rede pública, orgulha-se de ter feito o certo. O mesmo sucede com o transporte para a garotada e os Centros Educacionais Unificados, os CEUs.
Faltaram-lhe votos para chegar ao segundo turno como favorita, mas não se pode atribuir esse resultado a baixarias de seus adversários. Seria natural que mudasse alguns aspectos de sua campanha, mas reapareceu com uma inversão irracional, mesmo para a lógica petista. Pensar que a "malufização" de Gilberto Kassab pudesse reverter os números significava o menosprezo pela inteligência dos eleitores a quem pedia o voto. A denúncia da participação de Kassab no consulado ostrogodo de Celso Pitta foi, na essência, uma tentativa de transformar a eleição de 2008 num replay da campanha de 2000, quando São Paulo a elegeu, derrotando o próprio Paulo Maluf.
O candidato Kassab é um derivativo do tucano José Serra. Geraldo Alckmin duvidou da consistência dessa aliança e foi devolvido à condição de nota de pé de página que tenta se intrometer no texto.
Será possível derrotar o prefeito? A ver, mas a inflexão trouxe para Marta mais prejuízos do que apoios. Isso para não falar na sua tentativa de horizontalização do debate.
A nação petista de São Paulo confirmou seu fascínio por iniciativas alopradas. Em 2002, sábios a serviço da campanha de Aloízio Mercadante meteram-se num lance desesperado que misturava denúncias, dossiês e dinheiro. Pretendiam reerguer o candidato no segundo turno e acabaram aumentando a vantagem do tucano José Serra. Desta vez, sem recorrer a qualquer ilegalidade, Marta Suplicy jogou uma casca de banana na outra calçada e correu ao outro lado da rua, para escorregar nela.
Elio Gaspari é jornalista.
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