O professor José Arthur Giannotti está preocupado. Talvez seja a única pessoa preocupada que não acompanha o movimento das bolsas. Sua ansiedade relaciona-se com a democracia. Ele acredita que o Brasil experimenta uma prática democrática "na casca", enquanto o núcleo das instituições nacionais vive um surto de autoritarismo que pode não acabar em boa coisa. A desmoralização dos costumes políticos, a impunidade das malfeitorias praticadas pelo aparelho do Palácio do Planalto, bem como a marginalização do Congresso, levam água para propostas salvacionistas e demagogos. Se fosse necessário algum sinal de que os temores do professor são justificados, bastaria o exemplo da concepção e do cenário da edição da Medida Provisória do ProTudo.

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Os feiticeiros da Fazenda, do Banco Central e do Planalto redigiam a MP num prédio da Praça dos Três Poderes enquanto os doutores Guido Mantega e Henrique Meirelles estavam na Câmara, relatando aos parlamentares as providências que o governo tomava para proteger a economia nacional. Não disseram uma só palavra sobre o ProTudo.

Levando-se em conta que a MP seria remetida ao Congresso, alguém fez papel de paspalho. Talvez os parlamentares, talvez todos. O grande antecedente remoto da atual crise justifica os receios de Giannotti. Diante da depressão dos anos 30, o presidente dos Estados Unidos, Franklin Roosevelt, montou um sistema que foi a um só tempo redentor para o futuro da sociedade americana e um exercício de autoritarismo federal. Cavalgando a opinião pública e o Congresso, Roosevelt só foi barrado pela Corte Suprema e, ainda assim, tentou empacotá-la, criando um sistema pelo qual acrescentaria seis novos ministros aos nove existentes.

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Roosevelt, um aristocrata, perseguiu empresários e amargurou o fim da vida do banqueiro Andrew Mellon, secretário do Tesouro de seus três antecessores. Mesmo assim, teve perigosos demagogos mordendo-lhe os dedos. O maior deles foi Huey Long, o adorado larápio que governara a Louisiana e pretendia disputar a Presidência na eleição de 1936. Foi contido por uma bala na barriga. (A história de Long está no filme "A Grande Ilusão", com Sean Penn).

Felizmente a sucessão americana desembocou numa disputa entre dois políticos moderados (noves fora as suspeitas de que Barack Obama flerte com medidas protecionistas). Se a bolha tivesse estourado em janeiro, o candidato republicano poderia ter sido Mike Huckabee, que propusera o confinamento dos aidéticos e defendia o emparedamento da fronteira com o México. Com Sarah Palin na vice, formariam a dupla do Deus-Me-Livre.

A crise econômica pode colocar o Brasil no trilho que leva ao aparecimento de excentricidades, como se deu com Fernando Collor. Ou ainda, à radicalização do governo a partir de propostas autoritárias que estão nas gavetas do PT. Coisas como "matriz ideológica" controlando a imprensa, a necessidade de se criar uma poderosa máquina de centrais sindicais e a transformação do Banco do Brasil e da Caixa num comi$$ariado de primeira e última instâncias.

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Eremildo oferece tecnologia para a PM-SP

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Eremildo é um idiota e acredita em tudo o que a PM de São Paulo diz. Acredita inclusive que ela tem o melhor treinamento e todos os acessórios da alta tecnologia. O idiota pretende oferecer ao comando da tropa sua espetacular novidade: uma escada que permite a entrada de um policial em qualquer janela do segundo andar de um prédio. Ele acha que o Batalhão de Choque ainda não conhece esse tipo de equipamento, pois seus sábios tiveram três dias para planejar a invasão do apartamento onde estava Lindemberg Alves e, na hora do vamos ver, apareceram com uma escada curta.

Natasha e o FMI

Madame Natasha soube que o diretor-geral do FMI, doutor Dominique Strauss-Kahn, de 59 anos, arrumou uma namorada húngara, de 26, na repartição e achou que o Fundo já não é tão ortodoxo como dizem. Como ela suspeita que os femetecas morrem de medo dos americanos, passou os olhos no último relatório da Casa, intitulado "As Américas, lidando com a crise financeira mundial". Não deu outra: lá está um pequeno capítulo e ele se chama: "Perspectivas para os Estados Unidos: Desaceleração importante e recuperação lenta".

Madame reconheceu o truque. Quando alguém quer desidratar um fenômeno, ou esconder sua opinião, recorre ao "importante". Assim, um escritor ou uma crise não são "grandes", mas "importantes". Natasha informa: importante é a Avenida Paulista, que começa ao lado do cemitério e termina no Paraíso.

Mico gordo

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A Agência Nacional de Vigilância Sanitária micou. Em 2007 ela liberou o remédio Acomplia, que ajuda a emagrecer. Como a droga potencializava quadros depressivos, a agência reguladora americana recusara-se a liberá-la. Na semana passada, a União Européia cancelou-lhe a licença, e o laboratório Sanofi-Aventis anunciou a suspensão temporária das vendas do Acomplia.

E a Anvisa? Só acordou depois que o fabricante jogou a toalha. Repetiu-se o mico de 1997, quando a Europa e os Estados Unidos fecharam seus mercados ao emagrecedor Isomeride mas, numa história mal contada, a Vigilância Sanitária de Pindorama levou um mês para contrariar o laboratório.

Vende-se

Um apartamento de 180 metros quadrados com vista para o mar de Miami valia U$ 850 mil ano passado. No começo da crise o dono quis vendê-lo por US$ 750 mil e micou. Agora pede US$ 650 mil e aceita ofertas. Quem quiser pode alugá-lo por US$ 4 mil anuais (repetindo, anuais), desde que fique com as despesas de impostos e condomínio. Um corretor assegura que daqui a dois meses a peça sairá por US$ 450 mil.

Festão

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Se Barack Obama vencer a eleição americana, Washington terá a primeira grande festa popular do século. Será uma dia inesquecível na vida de quem passar por lá. A posse está marcada para o dia 20 de janeiro, uma terça feira. Na segunda-feira, os americanos terão o feriado da memória do líder negro Martin Luther King, assassinado em 1968. Já não há quarto de hotel vago na cidade. Tem gente pedindo US$ 3 mil por cinco dias num apartamento de dois quartos.

Melhor calado

O doutor Guido Mantega deveria cumprir uma semana de voto de silêncio. Ele passou 35 anos de sua vida adulta na oposição. Nesse espaço de tempo, ouviu 18 ministros da Fazenda dizendo que a inflação estava sob controle e que o governo não corria o risco de perder o controle da dívida externa. Só Mantega sabe quantas vezes acreditou no que ouviu.

Se foi um crente, deve ir ao Museu da República para ocupar uma vitrine, pois personificará o filho da Velhinha de Taubaté. Caso ele tenha duvidado das palavras de seus antecessores, seria o caso de se perguntar: por que alguém deve acreditar em mim quando digo que "não tem banco quebrando?"