Nesta semana completa-se 1 ano do dia em que o ministro da Defesa, Nelson Jobim, anunciou à patuléia que as empresas aéreas seriam obrigadas a ressarcir os passageiros por conta de atrasos, cancelamentos de vôos e overbooking.

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Num exemplo, o cliente que penasse um atraso de três a quatro horas num vôo do Rio a Brasília seria indenizado com R$ 198, em dinheiro ou milhas. A tabela entraria em vigor logo depois do carnaval, com a edição de uma medida provisória.

O ano está no fim e o doutor voltou a falar em tráfego aéreo, prometendo serviços regulares durante o movimento das festas. É a "Operação Feliz 2009". Tomara que dê certo, mas cadê o projeto do ressarcimento de 2007?

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Quem acreditou em Jobim fez papel de bobo, porque maiores foram os poderes da aerocracia. O papel de paspalho é um risco a que se submete qualquer pessoa que acredita no governo, mas as justificativas oferecidas para a propaganda enganosa exigem que o paspalho se transforme num quadrúpede.

A política de ressarcimento não teria entrado em vigor porque a situação normalizou-se. Tolice. A compensação deveria vigorar exatamente numa situação de normalidade. Isso ajudaria a implantação da novidade sem massacrar as empresas.

Como o Congresso reviu sua docilidade diante da emissão de medidas provisórias, o governo teria decidido enviar um projeto de lei ao Congresso. Bingo. Nesse caso, a menos que haja interesse do Planalto e um acordo de lideranças, a tramitação no Legislativo consome pelo menos um ano. Por que o anteprojeto continua no gaveteiro da comissária Dilma Rousseff?

Há ainda o argumento da complexidade da questão. Ela exigiria estudos e debates. Tudo bem, então o ministro Jobim não deveria ter feito um overbooking de expectativas que não podia atender.

As coisas ficariam mais fáceis se o governo admitisse que as companhias aéreas não querem ressarcir os passageiros a quem vitimam.

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Nos Estados Unidos e na Europa elas aceitam esse tipo de compromisso, mas, como o Brasil foi um dos últimos países do mundo a adotar programas de milhagem, não se pode esperar que os aerotecas abandonem seus aliados.

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Um veneno tucano para a Petrobras

A oposição tucana no Senado fez uma tempestade num copo de veneno. No dia 31 de outubro, a Petrobras tomou emprestados R$ 2 bilhões na Caixa Econômica por 180 dias, a juros de mercado. Se uma empresa que tem R$ 11 bilhões em caixa e gira em torno de R$ 4 bilhões por mês decide fazer um papagaio de R$ 2 bilhões, nada há de estranho nisso.

Grosseiramente, é como se um cidadão que tem R$ 5 mil aplicados e ganha R$ 2 mil mensais resolvesse pedir ao banco um empréstimo de R$ 1 mil.

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A Petrobras fez o empréstimo pelos motivos mais elementares. Precisava do dinheiro para despesas imediatas e o crédito secara. (Em outubro ela recolheu R$ 4,7 bilhões de impostos e royalties.) Tanto o empréstimo da Caixa como outro feito no Banco do Brasil (R$ 751 milhões) foram triviais, sem nada a ver com juros subsidiados.

É tóxico o argumento segundo o qual a Caixa não deveria emprestar à Petrobras porque esta não é sua função. Ela financia programas de saneamento a 9,5% ao ano, e a carteira que em outubro emprestou à Petrobras a 14,1% nada tem a ver com a conta da infra-estrutura. A Caixa fechará novembro com R$ 4,2 bilhões de empréstimos comerciais a empresas.

Pena que a marquetagem da Petrobras insista em dizer que seu plano de investimentos está inalterado. Se é assim, foi concebido por aloprados, pois lidava com a exploração de poços cuja produção pode custar até US$ 80 por barril.

Bom negócio com o petróleo a US$ 150.

Como o barril está a US$ 55, basta fazer a conta.

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GilmarNet

O presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Gilmar Mendes, vem recebendo uma envaidecedora superexposição de seu comissariado de informações.

O sítio do STF tem um espaço destinado a "artigos e discursos" dos ministros. Desde abril, quando Mendes assumiu a presidência da corte, listaram-se ali 20 obras suas, dez das quais proferidas no exterior.

Nesse período, foram quatro os textos e discursos dos outros dez juízes. (John Roberts, que preside a Corte Suprema dos Estados Unidos desde 2005, ainda não listou artigo ou palestra na página do seu tribunal.)

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Exemplo tucano

É ensurdecedor o silêncio do tucanato diante do processo de cassação do mandato do governador da Paraíba, Cássio Cunha Lima. Não disseram uma palavra louvando o Judiciário, quando ele foi posto para fora, muito menos defendendo-o.

Persistiram em obsequioso silêncio mesmo depois que Cunha Lima decidiu anarquizar as finanças do estado.

Se o partido não quer falar, tudo bem, mas a dissimulação de José Serra e Aécio Neves não cai bem nas biografias de candidatos a presidente da República.

Força catarinense

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Uma vinheta ilustrativa da capacidade dos catarinenses de superar desastres. Em 1878, o alemão Bruno Hering chegou ao vilarejo de Blumenau e comprou um tear.

Dois anos depois, uma enchente levou o que tinha. Conseguiu dinheiro emprestado e foi em frente.

Um século depois, a Hering era uma das maiores empresas do setor têxtil brasileiro.

A empresa mobilizou-se para proteger seus funcionários e sua página na internet está recolhendo contribuições para as vítimas da enchente.

Papai Ali Babá

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Está na pauta de votações da Câmara dos Deputados um projeto de emenda constitucional (130-B) que altera o rito processual do julgamento dos parlamentares acusados de malfeitorias. Hoje eles são denunciados ao Supremo Tribunal Federal. Uma vez aceita a denúncia, o STF os julga, sem direito a recurso.

Pela proposta, caberá ao Supremo aceitar ou não a denúncia, mas depois disso a papelada desce ao juízo de primeira instância, iniciando-se uma lengalenga que pode durar dez anos.

Com a aprovação da emenda retornam à mansidão das comarcas e ao paraíso dos recursos os processos dos mensalões do PT (40 companheiros) e do tucanato mineiro (27 bicudos).

Três e nada

De um velho administrador de crises econômicas e intrigas palacianas: "Barack Obama precisava escolher um nome para enfrentar a crise econômica. Escolheu três: Timothy Geithner, um habilidoso quadro do Fed, Lawrence Summers, um economista talentoso de temperamento abrasivo, criou um novo conselho de sábios para o terceiro, Paul Volcker, imponente ex-presidente do Fed. Meu medo é que sejam necessários seis meses para descobrirmos quem manda, em que direção".

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Do mesmo sábio:

"Em 1933, ao tomar posse, com o sistema financeiro aos frangalhos, Franklin Roosevelt disse que ‘a única coisa de que devemos ter medo é do próprio medo’. Obama precisa descobrir uma maneira de dizer a mesma coisa".

Mangabeira 2008

A cada dia são mais doces as lembranças que o professor Mangabeira Unger tem do seu ex-aluno Barack Obama na Faculdade de Direito de Harvard.

Em 2005, a opinião do mestre era seca: um quadro interessado em servir ao sistema.

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