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Em 1995, quando o Estado tinha o monopólio das telecomunicações, a Embratel avisou a patuléia que ofereceria "acesso pleno aos seus serviços de Internet". "Acesso pleno" significava o seguinte: os teletecas aceitavam apenas mil novos usuários por mês. Havia 15 mil vítimas na fila. Pensava-se em estatizar o tronco da rede.

Felizmente, o ministro das Comunicações era o grão-tucano Sérgio Motta. Ele chutou o balde, acabou com o monopólio, leiloou as teles e passou adiante a Embratel. Sobrou uma sementinha, a Telebrás.

Ela dormiu durante nove anos e reapareceu, misturando megalomania, mico, fracasso e dinheirinho fácil.

A megalomania saiu do Planalto. É um projeto de estatização do uso comercial dos 16 mil quilômetros da rede de fibras ópticas do sistema elétrico e da Petrobrás. Seria coisa boa, capaz de levar conexões de banda larga para quase todas as cidades brasileiras. O governo acredita que, com R$ 10 bilhões, levará a internet rápida a 150 mil escolas. O ministro das Comunicações, Hélio Costa, anunciou que a iniciativa pode ser tocada ressuscitando-se a Telebrás.

Faltou contar que em 1999 o acesso a essa rede de fibras foi vendido à empresa americana AES, associada à Eletrobrás. Para isso, criou-se uma estatalzinha chamada Lightpar. A Eletronet faliu em 2003, deixando um buraco de R$ 700 milhões nas contas dos fornecedores. A essa altura a Lightpar estava aparelhada pelo PT. Noves fora um escândalo pessoal envolvendo menores, sumiram livros com informações financeiras e, num só semestre de 2005, ela custou R$ 724 mil, com 28 funcionários para fazer nada. Numa economia capitalista, os credores da Eletronet micariam. Como a bolsa da Viúva foi esquecida na mesa, eles querem vender seus créditos.

Quando Hélio Costa anunciou que a Telebrás poderia ressuscitar, o governo de Nosso Guia produziu dinheirinho fácil com um negócio inexistente. As ações da empresa saíram do estado de catalepsia e valorizaram-se 200% num só dia.

A iniciativa privada, que recriou o sistema nacional de telecomunicações, está confinada à periferia da exploração da rede de fibras. Os teletecas, que azucrinaram os consumidores e conceberam a sociedade da Eletrobrás com a Eletronet, apresentam-se como a voz do futuro. São o ronco do passado.

Borba de Moraes e seu amor aos livros

Para quem gosta de livros e, sobretudo, para quem gosta de quem gosta deles, saiu "O mestre dos livros — Rubens Borba de Moraes", de Suelena Pinto Bandeira, publicado pela heróica editora do professor Briquet de Lemos. Nele, conta-se a vida do organizador da segunda maior biblioteca do país, a Mário de Andrade, de São Paulo. Negando a imagem pacata do bibliômano, Borba foi um dos organizadores da Semana de 22 e combateu na Revolução de 32. Nos anos 40 foi acusado de dilapidar o patrimônio emprestando à choldra volumes que colocava numa biblioteca ambulante armada em cima do chassi de um caminhão. Em 1942 o prefeito Prestes Maia acabou com a festa que proporcionava "romances policiais a meia dúzia de vagabundos".

Poucas pessoas fizeram tanto pelos livros no Brasil. Borba de Moraes (1899-1986) organizou uma preciosa biblioteca particular que hoje está incorporada à coleção Guita e José Mindlin. Nela há uma pasta com folhas manuscritas e datilografadas. São as suas memórias. Algum editor piedoso poderia públicá-las. Formariam um volume de umas 350 páginas. É um prazer vê-lo descrever a bailarina Isadora Duncan ("pré-pelancuda") ou Villa-Lobos ("prima-dona") levando-o a uma das ruelas da Lapa para conhecer "uma grande cantora".

Capitão USP

Está na internet o volume 61 da revista do Instituto de Estudos Avançados da USP. Chama-se "Dossiê Crime Organizado" e junta 14 artigos. Numa época em que havia teorias para tudo, o venerando Chacrinha dizia que "eu vim para confundir, não para explicar". Diante de um problema para o qual hoje buscam-se explicações simples e às vezes letais, como a do Capitão Nascimento, o "Dossiê" ensina o tamanho da complicação.

"O primeiro erro advém do uso da expressão ‘guerra’, que já denota certa confusão. Não se trata de guerra, mas sim de repressão às atividades criminosas." ("Criminalidade organizada nas prisões e os ataques do PCC", de Sérgio Adorno e Fernando Salla)

"A sobreposição de dois mercados ilegais — um que oferece bens econômicos ilícitos e outro que o parasita impondo a troca de mercadorias políticas — constitui um dos eixos principais da reprodução ampliada da violência no Rio de Janeiro." (Michel Misse, "Mercados ilegais, redes de proteção e organização local do crime no Rio de Janeiro")

"Contrariamente às máfias ítalo-americanas, essa organização (do crime) no Rio de Janeiro jamais contou com os laços estáveis da lealdade que existem entre relacionadas por parentesco ritual ou de sangue." (Alba Zaluar, "Democratização inacabada: fracasso da segurança pública").

O título do artigo de Jacqueline de Oliveira Muniz e Domício Proença Jr fala por si: "Muita politicagem e pouca política os problemas da polícia são".

O endereço é o seguinte: http://www.iea.usp.br/iea/

Recordar é viver

Os grão-tucanos que em 2005 riram de FFHH, quando ele sugeriu que se depusesse imediatamente o senador Eduardo Azeredo da presidência do PSDB, aprenderam mais uma lição.

Quem propagou a lorota segundo a qual o mensalão tucano diferia do petista porque não tinha dinheiro público está desmentido pelo procurador-geral, Antonio Fernando de Souza. Tungaram a Viúva em pelo menos R$ 3,5 milhões. Da patuléia que estava à espera de esgoto, morderam R$ 1,5 milhão da Companhia de Saneamento.

Pode-se ler a íntegra da denúncia no sítio da Procuradoria-Geral, sob o título "Inquérito 2280". São 89 páginas arejadas e bem escritas. Valem uma sapeada, pois fazem bem à alma.

12.878 escravos

Foi achado um tesouro. São dois livros com o registro de nascimentos, mortes e casamentos ocorridos entre 1860 e 1899 nas terras que vão serra abaixo de Itaguaí a Angra dos Reis. Eram os domínios do comendador José Joaquim de Souza Breves. Ele pode ter sido o dono da maior escravaria dos tempos modernos. Tinha 26 fazendas de café e produzia 1,5% das exportações nacionais. (Seus bisnetos tiveram que trabalhar para viver.)

Nos dois livros estão lançados os nomes e as matrículas de 12.878 escravos, o que sugere que Breves teve um plantel superior aos cinco mil negros que normalmente lhe é atribuído. Os livros já foram integralmente fotografados por Eduardo Schnoor, persistente caçador do passado do café.

Até aí, tudo são números. A graça está em saber que o comendador e sua filha Leôncia foram padrinhos de batismo de um menino pardo a quem deram o nome de Leôncio, alforriando-o em seguida.

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