Nosso Guia é um renomado agitador de idéias inúteis no cenário internacional. A última foi a criação de um "Conselho de Segurança do B", para a ONU. Seria um organismo negociador "paralelo", "informal", uma girafa, enfim. Antes, Lula já havia associado o Brasil ao TransPinel, o gasoduto que iria da Venezuela à Argentina, e a uma taxa aeroportuária mundial para remediar a pobreza. Isso para não se falar no imposto global sobre venda de armas, que durou o tempo necessário para que alguém lembrasse que o Brasil é um razoável mercador do bazar de equipamentos leves.

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O "Conselho de Segurança do B" seria formado por países emergentes, capazes de mediar conflitos em regiões onde as nações poderosas estão presas por velhos compromissos e não conseguem lidar direito com os problemas. Exemplo: as dificuldades da diplomacia americana no Oriente Médio. Solução: o caso receberia a ajuda do "Conselho do B". Nas palavras do chanceler Celso Amorim, "idéias novas e interlocutores novos".

Só a transformação da política externa num elemento de marquetagem justifica semelhante iniciativa. O Brasil está longe do conflito do Oriente Médio e é muito bom que esteja. Assim como é ótimo que o Brasil fique a léguas de distância das confusões asiáticas. É preferível viver numa região onde pipocam os delírios de Hugo Chávez a enfiar o bedelho em crises onde há generais paquistaneses com bombas nucleares.

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Nos últimos vinte anos, todas as iniciativas grandiloqüentes da diplomacia multilateral brasileira resultaram em fracassos. Fracassaram porque eram encenações destinadas a enganar a patuléia nacional.

O maior êxito da diplomacia de Lula aconteceu em cima de uma improbabilidade: a relação com os Estados Unidos. Nosso Guia foi um presente de Deus para George Bush. O presidente americano conseguiu uma relação de grande cordialidade com um barbudo que até bem pouco tempo era chamado de "esquerdista" pelo New York Times. (Agora ele é "veterano socialista", "esquerdista" é o PT.) Como as memórias de Bush serão publicadas antes que Lula comece a escrever as suas, revelarão conversas que hoje nem se suspeita que tenham ocorrido.

Há poucos meses, quando foram publicados os diários do presidente Ronald Reagan, conheceram-se os detalhes do projeto americano de invasão do Suriname, em 1983. Na ocasião foi a diplomacia brasileira quem dissuadiu a Casa Branca. Agora o problema reapareceu, com sinal trocado: o Suriname estaria interessado em hospedar uma base americana em seu território. Segundo o presidente Roland Vene-tiaan, seria uma área de testes. Isso numa época em que o governo do Equador diz que não está disposto a renovar o contrato da base de Manta. Felizmente, o governo paraguaio congelou as conversas que poderiam ter resultado na construção de uma base em Marechal Estigarribia.

Como o secretário de Defesa americano desmentiu que tenha tratado com Venetiaan da criação de uma base militar, Lula poderia telefonar para o companheiro Bush informando-o que o Brasil também não gosta da idéia de ter quartéis americanos perto de suas fronteiras. Afinal, os Estados Unidos já têm Guantánamo e, pelo que fazem por lá, não podem ser considerados vizinhos simpáticos.