As pesquisas de opinião que estão sendo divulgadas contêm, todas elas, um paradoxo que até o momento não foi resolvido: como é possível que cerca de 70% dos eleitores queiram mudanças no governo — e a maioria, inclusive, as quer substituindo a presidente Dilma Rousseff —, e ao mesmo tempo ela continue sendo a favorita da eleição, com o dobro de intenção de votos que o candidato mais bem colocado da oposição, o senador Aécio Neves, do PSDB?

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Os números internos da pesquisa mostram mais coerência com esse sentimento de mudança do que seu resultado final, e há estudos que indicam que é real a chance de a presidente repetir a atuação do candidato José Serra, derrotado por ela em 2010. Durante muitos meses o candidato tucano ficou à frente das pesquisas, nessa mesma faixa de 40%, mas os indicadores internos das pesquisas já apontavam para sua derrota.

O índice que obtinha era mais produto do recall de suas campanhas anteriores, assim como o da presidente Dilma hoje se deveria à sua permanente presença em atos públicos e ao recall da última eleição. Que indicadores são esses?

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A taxa de rejeição da presidente Dilma hoje é estável e bem acima das dos seus adversários mais fortes: ela tem 33% de eleitores que a rejeitam, enquanto Aécio Neves e Eduardo Campos reduzem suas taxas de rejeição à medida que se tornam mais conhecidos — o tucano para 20%, e o socialista para 13%.

A taxa de aprovação de seu governo está "no limbo", na definição do cientista político Alberto Carlos Almeida, do Instituto Análise. Ele tem um estudo que mostra que, em 46 de 104 eleições para governador realizadas entre 1994 a 2010 em que havia um candidato à reeleição, todos os que chegaram à eleição com o índice de ótimo e bom igual ou maior do que 46% foram reeleitos.

Ao contrário, os que disputaram a reeleição com a soma de ótimo e bom igual ou menor do que 34% foram derrotados. Como a presidente Dilma tem atualmente 35% de ótimo e bom, segundo a mais recente pesquisa do Ibope, estaria em situação delicada, à beira da reeleição ou da derrota, segundo a forma como os números se comportarem durante a campanha.

Nesse mesmo estudo, o cientista político Alberto Carlos Almeida mostra que 40% a 43% dos candidatos à reeleição nos governos dos estados que chegaram às urnas com índices de ótimo e bom entre 35% e 45% se reelegeram, o que demonstra que a derrota é mais provável nessa faixa de avaliação, embora não uma certeza.

Uma ressalva importante que Alberto Carlos Almeida faz é que é possível melhorar a avaliação no decorrer da campanha. Dilma terá três vezes mais tempo de propaganda eleitoral que o tucano Aécio Neves e sete vezes mais que Eduardo Campos, do PSB.

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Há dois exemplos clássicos na nossa curta história da reeleição para presidente da República: Fernando Henrique foi reeleito em 1998 com 43% de ótimo e bom, tendo saído de 38% em julho. E Lula foi reeleito em 2006 com 47% de ótimo e bom, tendo os mesmos 38% nesses quesitos em julho daquele ano.

O que esses indicadores mostram é que a situação da presidente Dilma na atual eleição é mais desfavorável do que a da eleição de 2010, quando tinha no então presidente Lula um fiador a toda prova, com mais de 80% de aprovação popular e uma economia crescendo a 7,5% ao ano, bem ao contrário do que acontece hoje.

Dilma hoje é a candidata da continuidade, quando a maioria quer mudanças, mas caberá aos candidatos da oposição a tarefa de convencer os eleitores de que eles são capazes de realizar as transformações que a sociedade quer, enquanto a campanha governista trabalha com a ameaça que representaria uma mudança de governo na direção errada.

Além de todos os instrumentos de que um presidente da República dispõe em um presidencialismo forte como o brasileiro, a presidente Dilma tem a seu favor uma tendência que marca as disputas eleitorais na América Latina, justamente pelo poder que o Executivo acumula. A revista britânica "The Economist" ressalta que, desde 1985, somente dois presidentes no exercício do cargo perderam a reeleição na região.

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