Aviso amigo

Em dezembro passado, Lula sabia do que estava falando quando foi à Bolívia e pediu ao "irmão" Evo Morales "paciência, paciência e mais paciência" com a crise política de seu país.

Silêncio dos tolos

A máquina de informações do governador José Serra criou uma variante da lei de Goebbels ("uma mentira repetida mil vezes vira verdade").

Ela diz assim: "Um problema ignorado mil vezes acaba desaparecendo".

O Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes, Enade, mostrou que São Paulo ficou em 18º lugar na lista de estados com universidades bem avaliadas, atrás de Rio Grande do Norte, Acre e Piauí. O secretário de Ensino Superior, doutor Carlos Vogt, não comentou a desgraça. Estava ocupado com outras coisas. Tratar do assunto na página da secretaria, nem pensar. (A USP e a Unicamp não aderiram ao Enade.)

Uma delegada que investigou ladroeiras na polícia paulista foi defenestrada. Explicação? Nenhuma, mesmo que haja.

Um mapa da criminalidade de São Paulo mostrou em que bairros ocorrem mais crimes. A Secretaria de Segurança condenou a divulgação dos números, porque fazem mal à alma dos moradores e ao bolso do mercado imobiliário. Afinal, a maneira correta de análise demanda "procedimentos geoestatísticos de estimação de risco e cokrigagem binomial". (Madame Natasha reconheceu o idioma de Tarzan, mas não conseguiu traduzir os doutores. Ela sabe apenas que "krig-ha, nur tar-mangani" significa "cuidado, mentira de grande macaco branco").

Briga boa

A Vale entrou com uma ação de "enriquecimento sem causa" contra a CSN na 7ª Vara Cível do Rio. Briga de gente grande, envolvendo muitos bilhões de reais.

A disputa gira em torno da Mina Casa de Pedra, em Minas Gerais, uma das melhores jazidas de ferro do mundo.

Durante a privataria, a Vale tornou-se sócia da CSN quando venderam Volta Redonda. Mais tarde, a CSN tornou-se sócia da Vale quando ela foi passada adiante. As duas decidiram contratar uma partilha do minério da Casa de Pedra mas, em 2005, quando as duas empresas descruzaram suas sociedades, a CSN saiu no trato. Desde então, amparada por uma decisão do Cade, ela comercializa o excedente de minério que não usa em seus fornos. Num primeiro lance, a Vale perdeu o pleito, mas continua querendo de volta o que a CSN ganhou vendendo um minério que julga ser dela.

CARREGANDO :)

O comissariado do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, o Ipea, continua dilapidando o patrimônio da instituição. Divulgou um trabalho intitulado "Pobreza e riqueza no Brasil metropolitano", sem autor e sem rigor acadêmico. É um texto tosco, do estilo "elevador". Revelou o que se sabe: "A" desceu (o número de pobres nas regiões metropolitanas) e "B" (os ricos) subiu um tiquinho.

Os dados apresentados baseiam-se num cruzamento de dois conjuntos de estatísticas: a Pesquisa Nacional de Amostras de Domicílios (Pnad) de 2006 e a Pesquisa Mensal de Emprego, ambas do IBGE. Esses números só podem ser misturados com a ajuda de uma metodologia de "imputação" de renda.

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Os doutores explicaram que ela está descrita em "Ribas e Machado (2008)", mas se esqueceram de mencionar o título do trabalho.

Divulgar um trabalho que lida com séries estatísticas de 2002 a 2008 quando ainda faltam quatro meses para o ano acabar é uma ofensa ao calendário gregoriano. O trabalho mostra 27 curvas. Dezoito estão agrupadas em três conjuntos, ilustrando variações ocorridas em cada uma das seis regiões metropolitanas. Verdadeira salada, na qual se misturam escalas diferentes. O curioso vê curvas quase idênticas no percentual de pobres em Salvador e no Rio. Uma foi de 49,9% para 37%, mas a outra oscilou de 28,4% para 22%. Pode ter sido uma trapaça do Excel, capaz de acomodar automaticamente as escalas, mas não é esse o padrão do Ipea.

A certa altura, os doutores falam em "extrato superior da distribuição da renda" (queriam dizer estrato, pois extrato é o de tomate). É um erro bobo, mas revela a falta de atenção de quem o leu. (Este texto, por exemplo, passou por duas piedosas verificações.)

O Ipea tem em casa, encostados, alguns dos melhores estudiosos das questões relacionadas com a distribuição da renda no Brasil. Nenhum deles produziu coisa parecida. Pela tradição, o instituto divulga "Textos para discussão" que, além de serem debatidos internamente, têm rigor e autoria. A pesquisa tosca posta no ar pertence a uma série denominada "Comunicados da Presidência". Valeria a pena organizar um seminário para explicar o que isso significa, senão um exercício neo-stalinista de atribuição de poderes de comunicação excelsa ao presidente do Ipea. O doutor Marcio Pochmann precisa se sentar com Eduardo Nunes, presidente do IBGE, para saber como se valoriza o trabalho dos pesquisadores sem chamar os holofotes para si. Seu gosto pelas luzes já virou piada. No prédio onde trabalha, conta-se que Pochmann acelera seu carro sempre que vê um pardal. Assim, sai na foto.

Duas idéias para a riqueza do pré-sal

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Os 8 bilhões de barris de petróleo das reservas do pré-sal estão estimulando dois projetos na petrocracia do governo.

O primeiro, que parece ser uma ótima idéia, é a transformação desse patrimônio (US$ 300 bilhões) em lastro para a emissão de papéis brasileiros. O dinheiro serviria para o abatimento da dívida interna (US$ 761 bilhões), libertando a Viúva da bola de ferro à qual está acorrentada pela necessidade de se financiar da mão para a boca com empréstimos lastreados na bainha de sua saia.

O segundo projeto pode ser boa idéia, mas também pode ser mais um desastre inventado para massagear burocratas, empreiteiros e caciques.

A Petrobras discute uma estratégia na qual o petróleo do pré-sal, em vez de ser exportado como matéria bruta, alimentaria grandes (e novas) refinarias, permitindo a venda de derivados.

O risco estaria na hipótese de uma queda no valor da gasolina e do diesel.

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Discutido à luz do sol, esse projeto pode prevalecer. Decidido nos consistórios da Petrobras, os riscos ficarão escondidos.