Papai Noel
É falta de educação puxar conversa sobre o tombo do fundo Fairfield Greenwich em rodas do andar de cima de Pindorama.
Seu dono, o investidor Walter Noel, tinha excelentes relações com famílias notáveis do Rio de Janeiro. Pode-se especular que as aplicações de brasileiros com Noel tenham passado do bilhão de dólares.
Coisa parecida, em ponto muito menor, só aconteceu em 1995, quando quebrou a casa de câmbio do banqueiro Jorge Piano.
Aos 72 anos, Noel viveu a reapresentação da Belle Époque. Há alguns anos comprou uma mansão de US$ 9 milhões perto do Lago Agawan, em Nova Iorque. Não era uma casa qualquer, pois fora projetada pelo arquiteto Stanford White, o quindim da plutocracia norte-americana no início do século passado. É de White o palácio do filme O grande Gatsby.
Stanford White foi assassinado por um corno em 1906. A cena está no filme Ragtime, com o escritor Norman Mailer no papel do arquiteto.
Sábios da banca
Nos últimos meses, os sábios do banco de investimentos Morgan Stanley previram em duas ocasiões que o Brasil corre o risco de entrar numa recessão a partir do mês que vem.
Nada contra previsões, até porque essa possibilidade é real. O que não se entende é que esses mesmos sábios jamais façam previsões sobre o desempenho das casas onde trabalham.
O Morgan Stanley fechou o ano com um prejuízo de US$ 2,2 bilhões.
Somado ao buraco de 2007, o prejuízo dos acionistas ficou em quase US$ 6 bilhões.
Se os sábios da banca tivessem previsto os seus próprios desastres, a conta da geléia financeira de 2008 teria sido menor.
Eremildo, o Idiota
Eremildo é um idiota e estava na Praia de Sauípe quando chegaram os governantes de 31 países da América Latina e do Caribe para discutir a integração política e econômica da região.
Ele decidiu que em abril irá à reunião da Cúpula das Américas, em Trinidad e Tobago, para propor a criação, para ele, do cargo de integrador de todos os organismos de integração americana.
Pela conta do idiota, as Américas e o Caribe têm 35 nações, e os organismos integradores, globais ou setoriais, executivos ou consultivos, existentes ou projetados, são 17. A saber: OEA, Mercosul, Unasul, Alba, Aladi, ACS, BID, Caricom, Cepal, Comunidade Andina, Cúpula das Américas, Grupo do Rio, Nafta, SIC e, no forno, o projeto norte-americano da Alca, a proposta do FuSul, do presidente do Equador, e a última novidade, a OEA do B, sem os Estados Unidos.
Zé Emanuel
No início de novembro, quando Barack Obama anunciou a escolha de Rahm Emanuel para a chefia da Casa Civil de seu governo, o jornalista Tutty Vasques escreveu:
"Guardem bem este nome: Rahm Emanuel. É o Zé Dirceu do Obama. Depois não digam que não avisei." De arrecadador de fundos para Bill Clinton em 1992, passou a operador político de seu governo. Saiu da Casa Branca e associou-se a uma boutique de investimentos, onde juntou US$ 18 milhões em dois anos e meio. Com amparo da turma do papelório, elegeu-se deputado. Obama ainda não tomou posse e o nome de Emanuel já queimou um filme.
Apareceu no radar das conversações com o governador do Illinois, que leiloava a cadeira de senador de Obama.
Os doutores que zelam pela doutrina da fé econômica do governo fazem inveja aos bons tempos do cardeal Ratzinger. Em 2000, o Banco Central armou um concurso para 300 analistas e, na prova de títulos, desqualificou a Unicamp, considerada um ninho de pensamento crítico da ekipekonômica tucana. Felizmente a armação foi desfeita. Agora, o comissariado do Ipea foi por um caminho parecido e piorado. Abriu um concurso para 62 vagas de técnico de planejamento (R$ 11 mil mensais) e submeteu os candidatos a uma prova que ofendeu o idioma, banalizou a qualificação dos candidatos e beneficiou conhecimentos de almanaque.
Exemplificando, primeiro pela agressão ao idioma, numa pérola pinçada por Madame Natasha: "Considerando aspectos da configuração das redes urbanas regionais no Brasil e do imbricamento dessa morfologia com a economia produtivista nacional, julgue os itens que se seguem (...)."
A prova agrediu a complexidade do pensamento do sociólogo Francisco de Oliveira ao atribuir-lhe a afirmação de "não haver capitalismo monopolista sem o Estado". Tudo bem, mas Dadá Maravilha poderia ter dito a mesma coisa. (Nunca é demais lembrar que em 2003 Nosso Guia mandou tirar um texto de Oliveira de um livro publicado pelo Instituto da Cidadania.)
Uma questão mostra a opção por conhecimentos inúteis: "Uma política de conservação dos cavalos-marinhos deve ser voltada para o Gerenciamento Costeiro e Marinho e a Fiscalização Contra o Comércio Ilegal, dispensando uma articulação com a Política Nacional de Recursos Hídricos e as práticas agrícolas no Continente." Certo ou errado?
Esse concurso atraiu 8 mil jovens que estudaram a sério e querem servir ao Estado. Não deveriam ser testados por examinadores rudimentares, até mesmo desleixados. Acusar os comissários de terem produzido um teste de conhecimento esquerdista é elogio impossível. A prova é apenas burra. Durante a ditadura, foi o rigor acadêmico do Ipea, associado a uma certa tolerância com o pensamento dissidente, que preservou o acervo intelectual de uma geração de economistas como Pedro Malan.
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A Petrobras poderá aliviar a crise coreana
A Petrobras atendeu ao apelo de Nosso Guia para estimular a economia. Na Coréia. No primeiro semestre, a empresa resolveu contratar doze unidades de perfuração. Anunciou seu interesse ao mundo, apareceram cerca de 15 interessados e a indústria brasileira arrematou dez das doze empreitadas. Um negócio de US$ 18 bilhões ao longo de mais de dez anos.
Agora, o comissariado da empresa quer contratar uma unidade de perfuração para águas profundas em área internacional. Há uma certa corrida contra o tempo para fazer o negócio com a empresa Vantage, que está construindo um equipamento na Coréia. A companhia é uma sociedade de norte-americanos, taiwaneses e noruegueses.
Trata-se de um contrato que pode chegar a US$ 1 bilhão em cinco anos.
Como a unidade será usada fora do Brasil (talvez na Líbia, Turquia ou Angola), a Petrobras não está obrigada a cumprir as exigências da legislação brasileira. A contratação poderá ser justificada pela pressa que a Petrobras tem de receber a unidade. Não deixa de ser esquisito que ela conduza o negócio sem uma comunicação formal e pública ao mercado.
Bastaria anunciar à praça o interesse pelo equipamento. Se de fato não houvesse no mundo um fornecedor capaz de concordar com o preço e o prazo, a escolha seria natural como o nascer do sol.
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