Bolsa ditadura
O bolsa ditadura chegou ao mundo das finanças. O banco mineiro Bonsucesso enviou cartas à clientela que espera o pagamento de indenizações, muitas vezes superiores a R$ 1 milhão.
Ela diz assim:
"Prezado Anistiado,
O governo federal já liberou as primeiras parcelas da indenização de anistiados políticos, impedidos de exercer suas atividades econômicas. O pagamento está sendo parcelado, e pode levar até nove anos.
Mas você não precisa esperar tanto tempo.
Aproveite!!!
A aprovação é imediata, sem burocracia, e as taxas são as melhores do mercado."
O pessoal do Bonsucesso mandou essa carta para Orlando Lovecchio Filho, que teve parte de uma perna amputada por causa da explosão de uma bomba colocada por terroristas na porta do consulado norte-americano em São Paulo, em 1968. O cidadão que pôs a bomba já ganhou uma bolsa ditadura de R$ 400 mil e mais uma aposentadoria de R$ 1.645 mensais. Lovecchio, nem um tostão.
Até hoje nenhum camponês do Araguaia recebeu um só ceitil. É uma gente pobre, que, há 35 anos, apanhou, teve casas e roças destruídas. Nosso Guia, que recebe uma bolsa de R$ 4.890 e já amealhou o equivalente a R$ 1 milhão, bem que poderia organizar um grupo de bolsistas abonados para fazer uma vaquinha em benefício da turma do Araguaia.
Risco Brasil
Enquanto durar o furacão norte-americano, o ministro Guido Mantega, da Fazenda, deveria almoçar toda semana com Henrique Meirelles, presidente do Banco Central.
Se não servirem para nada, esses almoços servirão para que Mantega não dê opiniões a respeito de coisas que são da alçada do BC.
A percepção de que os dois rezam por cartilhas diferentes (o que é verdade) só servirá para aumentar o Risco Brasil.
Olho de mestre
Pouco depois de deixar o Ministério da Justiça, em 2007, o criminalista Márcio Thomaz Bastos cogitou a possibilidade de vir a defender Carla Cepollina, a mulher acusada de ter matado o coronel-deputado Ubiratan Guimarães, famoso por ter comandado a tropa que massacrou 111 presos no Carandiru.
Bastos viu o espetáculo da investigação e concluiu que Cepollina podia ser condenada no noticiário, porém seria possível absolvê-la na Justiça.
Ele desistiu da idéia, mas tinha razão. O processo contra Cepollina foi mandado ao arquivo na mesma semana em que o ex-ministro voltou a um tribunal, ajudando a mandar para a cadeia por 16 anos um médico catarinense que matou a mulher.
Briga feroz
As mudanças que a secretária da Receita, Lina Vieira, vem fazendo no segundo escalão do serviço estão custando muito mais esforço do que se supunha necessário.
Já houve caso de grande empresário que procurou levar a Lula a defesa de suas preferências na direção da Receita em seu estado.
Ave Lula
De um torturador de tucanos:
"A popularidade de Lula está em 80%, mas deveria deixar de ser calculada na escala decimal, passando para o sistema Fahrenheit, aquele no qual a água só ferve a 212 graus."
Warren Buffett, o segundo homem mais rico da América (78 anos e US$ 50 bilhões), ganhou pelo menos US$ 578 milhões em dez dias com ações do banco Goldman Sachs. Há dois meses um papel da Goldman valia US$ 179. Com a crise, caiu para US$ 121. Foi nessa hora que o biliardário fez seu lance, botando US$ 10 bilhões no negócio. Na sexta feira, cada ação valia US$ 128.
Esse pequeno episódio indica que ainda falta muito tempo para a crise do fim do capitalismo e, como nunca, o melhor que se pode fazer é prestar atenção no comportamento dos verdadeiros capitalistas.
Buffet já foi chamado de "Forrest Gump das finanças" pela revista "Vanity Fair". Seu salário (US$ 100 mil anuais, mais uns US$ 250 mil de benefícios) é o mais baixo da lista dos executivos das 200 maiores empresas norte-americanas. Ele vive frugalmente na pequena cidade de Omaha e ensina: "É mais fácil criar dinheiro do que gastá-lo". John McCain gostaria de convidá-lo para a Secretaria do Tesouro, mas ele deu US$ 4.600 para a campanha de Barack Obama. Uma migalha diante dos US$ 40 bilhões que já distribuiu para organizações filantrópicas.
Quem botou US$ 200 no fundo de investimentos de Buffett em 1965 tem hoje US$ 1,25 milhão. Ele consegue esse desempenho seguindo regras simples. Prefere investir nos Estados Unidos, não põe dinheiro em negócio que não consegue entender nem em empreendimento endividado. A maior parte de suas aplicações está em empresas que fabricam coisas que nunca deixarão de ser consumidas: comida, refrigerantes, cerveja e lâminas de barbear. Cantou a pedra do estouro da bolha tecnológica (mesmo assim perdeu algum quando ela explodiu, em 2001). Fora isso, compra ações de empresas que, a seu ver, não têm motivo para valer tão pouco. Esse foi o caso do lance na Goldman Sachs.
O que torna Warren Buffett um tipo inesquecível é a sua banalidade. As pessoas preferem ouvir idéias novas e, geralmente, complicadas.
Quando um sujeito diz que comprou ações de uma empresa que produz lâminas de barbear e sabão porque as pessoas continuarão a tomar banho, parece um bobo. Qualquer bípede poderia ter aplicado mil dólares na Goldman Sachs ao saber que Buffett fizera isso. Teria ganho uns 58 dólares sem fazer nada.
Deve-se ter cautela com as previsões de Buffett para instruir decisões de curto prazo, pois ele não opera nessa faixa. Em maio passado ele disse à repórter Cristiane Barbieri: "O Brasil estava fora do meu radar. Eu tinha uma visão atrasada sobre a economia brasileira porque os países latino-americanos, de maneira geral, têm uma fama ruim em relação à estabilidade de suas moedas. Mas o mundo muda e o Brasil mudou". O doutor acredita que daqui a dez anos o real poderá valer mais que o dólar. A ver, pois nos dez dias ao longo dos quais as ações da Goldman Sachs subiram 6%, o real perdeu 9% do seu valor.
Uma indicação de que as qualidades de Buffett vão além do trivial variado: por muitos anos ele viveu em perfeita harmonia com duas mulheres e, depois de viúvo, casou-se com a segunda quando ela tinha 60 anos.
Deixe sua opinião