Para o bem de todos, Nosso Guia precisa aprender a ficar calado diante da crise financeira. Suas bobagens comprometem a credibilidade do país. Em setembro, falando na ONU, ele disse o seguinte: "Das Nações Unidas, máximo cenário multilateral, deve partir a convocação para uma resposta vigorosa às ameaças que pesam sobre nós". Quem conhecer uma pessoa capaz de acreditar que a ONU tem capacidade, estrutura e autoridade para tratar desse assunto ganha uma passagem de ida e volta a Cuba. Quem conhecer duas ganha só a de ida.
Semanas depois, tratando da capotagem da Sadia e da Aracruz, que torraram R$ 2,7 bilhões em operações cambiais exóticas, Nosso Guia acusou as empresas de estarem apostando contra o real. Falso. Elas perderam dinheiro porque apostaram a favor. Mesmo que estivesse certo, não fica bem para um presidente da República o comportamento que o jornalista americano Murray Kempton atribuiu aos editorialistas: "Depois da batalha, eles vão ao campo e matam os feridos".
Admita-se que sua teoria da "marolinha" foi conversa de palanqueiro. Até porque dias depois, tratando do problema, disse que "não sabemos o seu tamanho". Releve-se a sua interpretação da geografia ao dizer que "até agora, graças a Deus, a crise americana não atravessou o Atlântico". Foi a segunda vez que Nosso Guia relacionou a travessia do Atlântico com um percurso Norte-Sul. Em geral, as pessoas associam essa travessia às viagens de Colombo (de barco) e Charles Lindbergh (de avião), no sentido Leste-Oeste (ou o contrário).
Administrando uma crise que botou a Bolsa de joelhos, meia dúzia de bancos no vermelho e o dólar a R$ 2,30, o presidente da República pode fazer tudo, menos tratá-la com olhar de marqueteiro. Foi isso que George Bush fez nos último 12 meses. Pagará o preço de uma vergonhosa saída da Casa Branca.
Quem trata a crise como coisa pitoresca num personagem pitoresco se transforma. Como ele mesmo já disse, a crise exige "juízo e responsabilidade". Sobretudo dele.
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Paul Volcker e o futuro dos EUA
Se Barack Obama vencer a eleição, assumirá no meio de uma crise daquelas que geram grandes figuras históricas. Esse foi o caso de Franklin Roosevelt em 1933 que mudou a cara da economia e da sociedade americanas. Nenhum dos dois avisou durante a campanha o que ia fazer quando entrasse na Casa Branca. Vai daí, tentar descobrir o que Obama faria é algo como estudar uma nuvem.
Há hoje dois notáveis na sua equipe. Um é Robert Rubin, ex-secretário do Tesouro de Clinton, uma doce figura. O outro é Paul Volcker, ex-presidente do Fed. Se for para fazer malvadeza, não adianta conversar com Rubin. O que faria Vocker? Responde o ex-ministro Delfim Netto, que já o teve na mesa de negociações e passou algum tempo relendo-o. "Pela biografia, Volcker não é homem de sugerir curvas com a forma de um U. Ele é do grupo do V. Uma pancada, e pronto. Em 1980, diante de uma inflação de dois dígitos, jogou a taxa de juros americana a 21,5%. Provocou uma quebradeira, mas resolveu o problema.
Se isso permite prever alguma coisa, Volcker aconselharia uma recessão profunda e breve. Com um detalhe: com ele influindo, mesmo fora do governo, não haverá hipótese de banqueiro sair rico." Quando Volcker estava no Fed o presidente Jimmy Carter mandou-lhe e um recado: só voltaria a ser recebido na Casa Branca se comprasse um terno novo. Ele morava numa quitinete e jantava comida congelada de supermercado.
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Bufômetro
Durante a campanha eleitoral de 2002, a casa bancária americana Goldman Sachs inventou um Lulômetro. Era uma equação elegante na matemática e venenosa na política. Embutia a desconfiança do "mercado" diante de Nosso Guia. A conta induzia a uma previsão de que uma vitória de Lula poderia levar o dólar a R$ 3 antes do fim do ano. Se vencesse Serra, ele ficaria em R$ 2,50.
Passados seis anos, fica criado o Bufômetro, destinado a indicar a solidez da Goldman Sachs. É simples. Ele calcula a rentabilidade do investimento do biliardário Warren Buffett que, no auge da crise comprou 10 bilhões de dólares de ações do banco. Buffett foi mencionado como um bom nome para a Secretaria do Tesouro tanto por Obama como por McCain. Ele pagou, no máximo, US$ 121 por ação. Na sexta-feira ela valeu US$ 84. Pelo Bufômetro o magnata perdia uns US$ 3 bilhões. Ervanário do tamanho do orçamento de Belo Horizonte.
Maldição da maxi
Se o dólar estabilizar numa faixa acima de R$ 2,10 será razoável dizer que a economia brasileira passou por uma maxidesvalorização da moeda. Os precedentes políticos de semelhante mudança deveriam ser vistos por Nosso Guia como uma advertência. Nos últimos 20 anos todos os governos que fizeram (ou tiveram que fazer) maxis capotaram na sucessão presidencial. O mesmo aconteceu na Argentina, México e Chile.
Boa notícia
O presidente da Infraero, Sérgio Gaudenzi, salvou um gol contra dentro da pequena área. A partir de dezembro os 12 maiores aeroportos do país oferecerão conexões gratuitas com a internet pelo sistema WiFi. Repetindo: gratuitas. Havia aerotecas da Infraero querendo que o acesso excluísse as salas de embarque. Seria o caso de alguém pesquisar o origem de$$a idéia. Atualmente, uma empresa de serviços de conexão sem fio oferece a ligação em diversos aeroportos por R$ 25 para 24 horas e R$ 15 por duas horas. De uma lista de 220 aeroportos americanos, a maioria têm WiFi grátis. Poucos cobram tarifas desse tamanho.
Roubini no ar
Já virou chavão: o professor Nouriel Roubini, que previu a crise econômica há mais de dois anos, continua pessimista. Na semana passada, sua página na internet (RGE Monitor) tinha um texto simplesmente apocalíptico: "O mundo está diante do forte risco de um colapso financeiro sistêmico e de uma severa depressão". Está na rede e é grátis, infelizmente em inglês. Se uma boa alma resolver traduzi-lo, fará uma caridade.