O papeleiro Bernard Madoff deu um tombo de US$ 50 bilhões de dólares nas melhores praças do mundo, de Nova York a Palm Beach, de Tóquio a Genebra. Esse ervanário equivale a toda a carteira de financiamentos de automóveis do Brasil no início deste ano.
Madoff era um "Senhor do Universo", ex-presidente do conselho da Bolsa Nasdaq, financiador do Partido Democrata. Morava num apartamento de 9 milhões de dólares, com iate nas Bahamas. Desde 1991 seu fundo rendia 10,5% ao ano.
Quem quiser, acredite na seguinte história: no final de novembro, quando o índice Standard & Poors registrava uma queda de 37,65%, o fundo de Madoff rendia 5,6%. Na terça-feira da semana passada, depois de ter mencionado que seus investidores pretendiam sacar US$ 7 bilhões, ele disse aos dois filhos, com quem administrava o negócio, que pretendia distribuir um bônus de US$ 200 milhões na empresa. No dia seguinte eles confrontaram-no com o problema de caixa, e Madoff confessou que estourara. Um de seus filhos chamou o advogado, que procurou as autoridades. Na quinta-feira, o "Senhor do Universo" estava preso. (Foi libertado com uma fiança de US$ 10 milhões.)
Os filhos de Madoff, como Nosso Guia no caso do mensalão, de nada sabiam. Tudo bem. Essa história só será conhecida quando um dos repórteres do mercado financeiro que acompanha o caso publicar um livro contando o que soube.
Segundo Madoff, seu fundo não passava de "um gigantesco esquema de Ponzi". Referia-se ao estouro de Carlo Ponzi, que em 1920 lesou 30 mil pequenos investidores americanos oferecendo-lhes rendimento de 50% em 45 dias. Era o velho golpe da pirâmide. Como não havia atividade econômica, muito menos preços de mercadorias que remunerassem a festa, ela acabou. Ponzi detonou algo como US$ 200 milhões em dinheiro de hoje. Uma ninharia.
Há uma diferença entre Ponzi e Madoff. Um enganou o andar de baixo. O outro lesou o de cima, de maganos de clubes de golfe, fundos de Wall Street e grandes bancos globais. Ponzi foi um vigarista episódico. Madoff é um vigarista num mercado financeiro neoponziano. Beneficiou-se da leniência dos serviços reguladores americanos.
Durante nove anos driblou denúncias, até que entrou mal num cruzamento e capotou. Ao contrário de Ponzi, Madoff oferecia um rendimento modesto, semelhante à Bolsa Copom de Nosso Guia. O estouro derivou da má-fé do doutor, mas operadores de má-fé fazem parte do jogo. A anomalia esteve na falta de fiscalização, num ciclo econômico durante o qual demonizou-se a vigilância do poder público. Madoff irá para a cadeia, de onde dificilmente sairá, pois tem 70 anos.
Ponzi pagou mais caro. Ele tinha 38 anos quando foi encarcerado e passou 11 preso, muitos dos quais costurando cuecas. Libertado, chegou ao Brasil em 1939 e viveu no Rio de Janeiro tentando pequenos negócios e lecionando inglês. Contava que na cadeia convivera com Nicola Sacco e Bartolomeo Vanzetti, os anarquistas eletrocutados em 1927.
Paralítico e cego, morreu em 1949 no hospital da Santa Casa. Vivia à custa da previdência social brasileira. Morou na Rua Engenho Novo 118, apartamento 102.
O doutor Henrique Meirelles deveria comprar o prédio e instalar nele a sede oficial do Copom.
Elio Gaspari é jornalista.
Número de obras paradas cresce 38% no governo Lula e 8 mil não têm previsão de conclusão
Fundador de página de checagem tem cargo no governo Lula e financiamento de Soros
Ministros revelam ignorância tecnológica em sessões do STF
Candidato de Zema em 2026, vice-governador de MG aceita enfrentar temas impopulares