O discurso se repete há várias eleições e se repetirá ad eternum. Candidatos que prometem mudanças, muitos deles, realmente, com sérias e boas intenções, chegam ao poder e não conseguem fazer nada. Ensaiam e depois se justificam: "Bem que eu tentei. Fiz de tudo, mas lá dentro... não dá para fazer nada." A culpa não é deles, é do sistema.
Tudo na natureza e nas relações entre os humanos é gerido na forma de sistemas: temos as estruturas organizadas do planetário, de chuvas, o circulatório, o elétrico e o plano político brasileiro. Mudar um modo de governar encalacrado de vícios e favorecimentos é tarefa quase impossível, pois a própria organização se retroalimenta a fim de resistir às alterações propostas. Quando se mexe em um sistema, seja ele qual for, há sempre um feedback de equilíbrio, que faz as coisas voltarem a ser como antes. Resistências sutis aparecem não se sabe de onde.
Se temos ingerência sobre um conjunto de elementos, podemos ir corrigindo-o aos poucos, atacando-o onde ele se mostra resistente e com o tempo obtemos a mudança pretendida. Mas se não conseguimos abraçar a sua totalidade, somos alijados e não podemos fazer nada. É por isso que de boas intenções e promessas o inferno anda cheio e o ambiente político idem.
Não se muda um sistema que não quer ser mudado o político.
A sociedade brasileira está em constante mutação, já a nossa classe política encalacrou no poder. Enquanto a sociedade civil anseia por inovações e cresce a despeito das mazelas governamentais, os políticos que pregam a mudança não conseguem realizá-la. Para eles, transformações significam perda de privilégios, pois a corrupção é lucrativa, o nepotismo resiste às leis por meio de subterfúgios criados pelos próprios políticos e os acertos e conchavos são feitos quase à luz do dia. É preciso algo mais do que vontade eleitoreira para alterar alguma coisa. Enquanto a sociedade não se conscientizar sobre seus direitos e, por conseqüência, exigir práticas civilizadas por parte dos organismos governamentais exercendo pressão, nada acontecerá. Quando um candidato disser na sua campanha: "Vou mudar tudo." Acredite nele, mas não creia na mudança.
Nada de novo no front
A frase acima, título de um romance do escritor alemão Erich Maria Remarque, sucesso na década de 20, se tornou gíria popular no Brasil durante muito tempo para se referir à ausência total de ação, em alguma coisa. É assim que estamos em se tratando de campanhas eleitorais, nada de novo. Beto cresce em intenções de voto e os outros em rejeições. É esperar para ver a possível crônica de uma vitória anunciada.
Eloi Zanetti é especialista em marketing e comunicação empresarial e escreve às quintas-feiras.
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