Deonilson Roldo não é um nome conhecido do grande público. Pouco dá entrevistas. Dificilmente se faz notar em eventos, cerimônias oficiais. Jamais recebeu um único voto dos eleitores do Paraná. Mas representa, hoje, a maior força política do estado. É os olhos, os ouvidos e, principalmente, a cabeça do governador Beto Richa (PSDB). Não à toa, é conhecido pelos deputados estaduais da base aliada pela alcunha de “primeiro-ministro”.
Jornalista, Déo, como costuma ser chamado no círculo do poder, acompanha Richa desde a prefeitura de Curitiba, onde foi chefe de gabinete do tucano e secretário de Comunicação. Atualmente, acumula as mesmas duas secretarias, só que no governo do estado. Na prática, porém, é como se comandasse várias outras pastas ao mesmo tempo.
No início do atual mandato, o governo Richa foi estruturado sob um tripé. Na Casa Civil, o experimentado ex-deputado federal Eduardo Sciarra faria o meio de campo com a Assembleia Legislativa e seria uma ponte com o governo federal, do qual seu partido, o PSD, é aliado. Trazendo a experiência bem-sucedida da gestão municipal de Maringá, Silvio Barros teria, no Planejamento, a missão de pensar o desenvolvimento do Paraná. E, finalmente, com carta branca para tirar as finanças estaduais do buraco, Richa importou Mauro Ricardo Costa.
Dos quatro anos de mandato, a tríade ruiu em quatro meses. Com medidas 100% impopulares e jogo de cintura zero para negociações, as apostas do governador para o primeiro escalão conseguiram como resultado deputados no camburão do Choque; a Assembleia ocupada por servidores; 213 feridos na batalha do Centro Cívico; mais de 70 dias de greve dos professores; e a queda vertiginosa da popularidade do chefe.
Alguns episódios ajudam a ilustrar a trajetória de desgraça dos três secretários. Em meio às discussões do reajuste dos servidores, Sciarra deu por encerradas as negociações e, para revolta dos deputados, viajou para o exterior.
Técnico até o último fio de cabelo, Mauro Ricardo comprou briga com todos ao fechar as torneiras do caixa do estado e nem sequer atende a telefonemas de parlamentares.
Já a família Barros, na qual se inclui Silvio, provocou a ira do governador ao defender internamente reposição salarial zero para o funcionalismo e, diante da pressão, se manifestar publicamente em defesa de um acordo em favor dos servidores.
Por ora, o tripé do secretariado ainda não teve o destino de ex-colegas que foram convidados a deixar, por exemplo, a Procuradoria-Geral, a secretaria da Educação, a pasta da Segurança Pública. Mas, neste momento, é como se não estivessem nos cargos. O poder de todos eles, com o aval de Richa, está nas mãos de Deonilson Roldo.
“Está uma m...! O único com quem podemos contar efetivamente é o Déo”, revela um parlamentar governista. O entendimento da base aliada é que “falou com o Déo, falou com o Beto”, resume outro deputado.
Primeiro a chegar e último a deixar o Palácio Iguaçu, o chefe de gabinete do governador é quem “toca tudo” no Executivo do Paraná. Um deputado aliado explica que Richa é o político, o garoto-propaganda, enquanto Deonilson é o gestor do dia a dia. “O Beto não é muito afeito às questões administrativas do cotidiano, de fiscalizar, controlar, de ver o orçamento. O Déo é que acaba decidindo tudo, as decisões meio que caem para ele”, revela.
Outro parlamentar, porém, faz questão de ressaltar que nada é feito sem que Richa avalize.
Nos últimos tempos, governador e primeiro-ministro tiveram de se transformar em bombeiros, prontos para apagar incêndios a todo o tempo. Mas a promessa de Richa aos 33 deputados fieis ao Executivo nos piores momentos é que as coisas vão melhorar.
“O prejuízo para a gente já aconteceu, mas ele [governador] nos agradece e pede para termos esperança de que esse sofrimento vai ser compensado com obras nos nossos municípios. Ele está muito confiante de que a capacidade de investimento do estado vai crescer”, conta um parlamentar governista.
Ele e os colegas só esperam que isso não demore muito a se concretizar, porque dizem já estar cansados de serem hostilizados nos municípios da base eleitoral de cada um.