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Dos feudos à república
A respeito das críticas feitas por José Sarney contra a imprensa, Celso Wzorek escreveu na página da coluna no Facebook: "Os políticos simplesmente se consideram senhores feudais. Sempre terão medo da imprensa livre, afinal a imprensa um dia conseguirá abrir a mente dos súditos, digo do eleitores, e o feudo pode se transformar em democracia. E numa democracia não existe lugar para senhores feudais."
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O presidente do Senado, José Sarney (PMDB), foi capaz de constatar um relevante fato acerca do declínio do Poder Legislativo, ao afirmar, dias atrás, que os partidos e o Congresso Nacional estavam em crise de representatividade, tendo de dividir poder com a imprensa e com organizações não governamentais. Mas foi incapaz de compreender os motivos da crise e de apresentar uma solução para resgatar a representatividade perante o eleitorado.
Ao discutir comunicação política em um seminário do PMDB, Sarney declarou ser necessário buscar uma estratégia para que partidos e políticos pudessem recuperar as fatias do poder que passaram a dividir com outros atores sociais. Entretanto, os partidos políticos e o Congresso Nacional têm tido pouco traquejo para se adaptar à mudança do ambiente público, produzida pelas tecnologias de informação e pelas redes sociais. Os partidos, por exemplo, são entidades fechadas, autorreferentes, voltadas à satisfação de seus próprios membros, avessas ao compartilhamento de ideias. São dominados por poucos indivíduos, personalistas, que raramente estão dispostos a partilhar ideias, pois, consideram-se poderosos o suficiente para guiar as massas sem ouvi-las.
Já a mídia e entidades do terceiro setor, por questões de sobrevivência, têm obtido considerável sucesso em se abrir para a participação da sociedade. Utilizando-se da virtude da internet em conectar as pessoas em redes, veículos de comunicação e organizações não governamentais cada vez mais assumem uma postura de estímulo à produção de informações em colaboração com o seu público. Esse vínculo, ainda que fraco, estabelece um sentido de comunidade entre os colaboradores. A imprensa e outras instituições sabem que não podem desprezar as informações produzidas pelos seus leitores-colaboradores. Por essa razão, estão dispostos ao diálogo e à construção de conhecimento compartilhado pela multidão. Ganham em legitimidade.
Enquanto a imprensa e organizações não governamentais se adaptam a uma nova realidade, os partidos permanecem estagnados. A crise, então, decorre da sua resistência à mudança, em meio a um mundo em constante movimento. É por isso que Sarney ao pensar soluções para a crise fala em criar mecanismos para solapar o poder conquistado pelos meios de comunicação e por entidades não governamentais. Como todos os políticos tradicionais, ele não percebe que para fortalecer as legendas seria necessário compartilhar poder.
Isso porque estes são tempos de "ascensão do cidadão regulador". O termo foi cunhado por Don Tapscott e Anthony D. Williams, na obra Macrowikinomics (algo como "economia de compartilhamento em larga escala"), e indica que se vive um momento de transição para uma cultura de participação pública nos processos de decisão e de fiscalização. São tempos que exigem das instituições o domínio de cinco áreas chaves para a inovação:
1) Criação de cultura de abertura estabelecer um ambiente que incentive o aprendizado conjunto;
2) Construção de plataformas de participação criar sistemas informatizados que possibilitem a colaboração;
3) Fomento de diálogo e melhoria contínua promover melhoria contínua de desempenho;
4) Proteção do interesse público participar da agenda pública envolve a obrigação de se pensar e de se agir em termos mais amplos;
5) Organização de ações coletivas mobilizar aliados que tenham objetivos comuns para atuar em cooperação.
Como primeiro passo para sair da crise de representatividade, partidos e políticos precisam reestruturar suas práticas. Ao estabelecer uma relação de iguais com a sociedade e com suas militâncias, compartilhando poder e elaborando conjuntamente políticas públicas, os políticos estarão reinventando as legendas e o Poder Legislativo. Como se vê, existe solução para as angústias de Sarney, mas elas podem não ser nada agradáveis aos caciques tradicionais.
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