A pauta esquecida

• 0

Ninguém dava a mínima para saber quem seria eleito presidente dos poderes legislativos brasileiros. Parlamentares gostavam de dizer que a eleição era um assunto interno e que não tinha relevância alguma para a população saber quem seria o escolhido. Esse discurso era dominante, mas sucessivas denúncias tornaram essa posição indefensável.

Basta lembrar dos escândalos dos Diários Secretos da Assembleia Legislativa do Paraná, dos atos secretos do Senado e da farra das passagens das duas casas do Congresso Nacional. É muito difícil agora, após reiteradas farras com dinheiro público, sustentar a versão de que não há interesse coletivo em saber quem será escolhido para a presidência dos Legislativos e qual a conduta que o eleito terá na administração da Casa.

Em tempos recentes, o ex-deputado federal Gustavo Fruet (PSDB) até tentou colocar o debate ético e de autonomia do Legislativo frente às investidas do Poder Executivo na pauta de discussões, quando disputou a presidência da Câmara dos Deputados em 2007. Fruet foi candidato da "terceira via", em oposição aos dois pretendentes governistas, Arlindo Chinaglia (PT) e Aldo Rebelo (PCdoB). Sua campanha levou a um fato inusitado – Chinaglia e Rebelo precisaram discutir temas como transparência nos gastos, voto aberto e aumento de salário de deputados, que, embora sejam claramente de interesse público, até então eram assuntos convenientemente ignorados.

Na ocasião foi eleito Arlindo Chinaglia, mas Fruet ficou com o mérito de ter mostrado que o presidente do Legislativo tem responsabilidade com toda a sociedade e que não se pode administrá-lo como se fosse o quintal de sua casa, beneficiando amigos, facilitando uso de recursos públicos para interesses pessoais de parlamentarres, ou mesmo, ficando a reboque das vontades e decisões unilaterais do governo federal. A lição de Fruet poderia ser lembrada neste momento em que se deve eleger a primeira mesa diretora da Assembleia, após a série Diários Secretos.

Seria importante que questões de interesse de toda sociedade transcendessem os muros daquela casa de leis. O passado recente demonstrou a necessidade de total abertura e mudanças. E isso poderia se refletir no compromisso dos candidatos ao cargo. Mas, infelizmente não foi isso que se viu. Em momento algum houve um posicionamento firme sobre a necessidade de resgatar a imagem do Legislativo, de torná-lo definitivamente transparente. Em momento algum se viu debates sobre a necessidade de a Assembleia se abrir para um diálogo franco com a sociedade.

Pois, faltando um dia para a eleição da mesa, as negociações – obscuras – se deram somente nos bastidores. Dos acordos feitos, ao que tudo indica, o deputado Valdir Rossoni (PSDB) pode surgir como candidato único, com o apoio do governador Beto Richa (PSDB). Isso caso a movimentação feita por Nelson Gar­cia (PSDB) não tenha passado de um jogo de cena para obter maior "influência" junto ao Poder Executivo.

Sem um debate público sobre as deficiências e vícios que pairam sobre o Legislativo, quem perde é a sociedade. Ao menos que o próximo presidente, quem quer seja, resolva conduzir definitivamente o Legislativo paranaense a um novo patamar de civilidade, como espera a sociedade paranaense.