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Mau sinal para o Ministério Público...

Com os holofotes voltados para o desfecho da CPI do Cachoeira, julgamento do mensalão e posse do novo presidente do Supremo Tribunal Federal, um assunto relevante ficou nas sombras. Uma comissão especial da Câmara dos Deputados aprovou na quarta-feira, dia 21, uma proposta de emenda à Constituição que acaba com o poder investigatório do Ministério Público (MP). Cabe aqui a pergunta. A quem interessa impedir que o MP possa fazer investigações criminais? Ora, interessa aos criminosos, mais especificamente, aos do colarinho branco.

... bom para os napoleões do crime, ...

O Ministério Público possui as competências necessárias para investigar crimes complexos, que necessitam de análise contábil, financeira e jurídica aprofundada. Ao impedir o órgão de investigar, os grandes criminosos estarão mais seguros da impunidade. Caso a proposta seja aprovada pelo plenário da Câmara e pelo Senado, muitos processados por crimes de corrupção irão festejar. É provável que todos os processos criminais em trâmite, que tiveram origem na atuação do órgão possam ser anulados. No Paraná, a denúncia que resultou da reportagem dos "Diários Secretos" corre o risco de ser anulada, já que foi iniciada pelo MP.

... péssimo para a sociedade.

A proposta de acabar com o poder de investigação do Ministério Público vai trazer prejuízos incontornáveis. Ao conceder o monopólio de investigação às polícias, perde-se um aliado importante no combate à corrupção. Explica-se. O MP é um órgão independente, sem ingerência do Poder Executivo. Ao impedi-lo de investigar, acaba-se por conceder um poder demasiado grande aos órgãos do Executivo responsáveis pelas polícias. Imagine um estado brasileiro atrasado, no qual o governador tenha controle total sobre as investigações locais realizadas pela polícia. Qual será a garantia de que não haverá influências indevidas. Dar poder ao MP para conduzir investigações criminais é uma questão de sensatez.

*Publique-se*

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Se as eleições deste ano foram um fiasco de participação popular nas redes sociais, o mesmo não se pode dizer dos movimentos da sociedade organizada, que foram às ruas para disseminar informações contra a compra de voto, corrupção e ilegalidades eleitorais.

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No Paraná, existiram bons exemplos. Por iniciativa da Seção Paraná da Ordem dos Advogados do Brasil, foram constituídos no estado 18 grupos que atuaram nestas eleições com uma plano de ação educativo – os chamados Comitês 9840. Na capital, cerca de 60 entidades participaram do comitê, que empresta o seu nome da Lei de Compra de Voto, como é chamada popularmente a Lei Federal n.º 9840 de 1999. "Aqui em Curitiba participaram ativamente organizações como CNBB [Confederação Nacional dos Bispos do Brasil], os sindicatos dos médicos e veterinários, a Federação da Agricultura do Paraná, Rotary, Lyons, Instituto GRPCom", afirma a secretária geral do comitê, Zuleika Giotto.

"Individualmente é muito difícil o cidadão influenciar a política. O comitê é uma forma de várias entidades apartidárias participarem da política."

Além de ações educativas com o objetivo de orientar a população sobre o que é permitido e o que é crime eleitoral, o comitê criou um "disque denúncias" para que os cidadãos pudessem relatar casos de infrações eleitorais. Segundo Zuleika, o comitê recebeu 180 denúncias, que tinham algum tipo de prova – testemunhas, fotos, páginas na internet. O grosso das denúncias era de propaganda irregular e compra de voto. "Deu para perceber que as pessoas querem participar da política. Muita gente ligava para se informar", afirma.

O curioso da situação relatada por Zuleika é que a experiência no comitê vai muito além do protagonismo educativo. Das discussões internas, nos debates informais do cotidiano, os dez mais atuantes membros do Comitê 9840 de Curitiba passaram a discutir a cidade. Começaram a pensar estrategicamente. Ela afirma que o grupo sentiu falta de um debate sobre a transparência pública e de uma discussão aprofundada sobre sustentabilidade da região metropolitana. "A transparência precisa ser acessível. Não se pode querer que uma dona de casa tenha conhecimentos de um contador para entender o custo da merenda escolar", afirma ela.

A experiência do Comitê 9840 mostra que ações inicialmente pequenas – orientar sobre crimes eleitorais – podem ter desdobramentos complexos – uma análise de políticas públicas para a cidade. Os grupos do Comitê 9840 fazem parte daquela sociedade organizada que fez a diferença em 2012.

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