E os sindicatos foram para a rua. O fato se dá um mês depois de ocorrerem as manifestações organizadas por grupos informais via redes sociais. É curioso. Até pouco tempo os sindicatos tinham o "monopólio" dos protestos públicos, eram a única "voz das ruas". Só que, assim como boa parte dos movimentos estudantis, resolveram se aliar a governos por tempo demais e estão perdendo o passo da História.

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As centrais sindicais permaneceram adormecidas enquanto ocorriam as maiores manifestações de cidadãos brasileiros dos últimos 20 anos. Viram as pessoas irem para as ruas sem precisar de sua liderança. E isso não deve ter sido agradável. Cooptadas pela máquina pública, as centrais andavam muito silenciosas. E depois que irromperam os protestos do mês de junho é difícil não chegar à conclusão de que os novos movimentos sociais foram os motivadores das manifestações sindicais.

A História não perdoa. Dificilmente a letargia sindical será um fato a ser esquecido no curso do tempo. Da mesma forma que os estudantes, as centrais já tiveram grande relevância política. O poder de mobilização dos sindicatos não deve ser subestimado e vai continuar relevante. Prova disso são as manifestações de ontem. Porém, agora não há mais monopólio. A agenda pública da sociedade terá de ser partilhada por novos atores em ascensão. São os indivíduos interessados, movidos por múltiplos interesses, hiperconectados e que acabam de realizar seus primeiros feitos como força política.

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A comparação entre o modelo de atuação das centrais sindicais com os manifestantes da "revolta da tarifa" ou "revolta junina", ocorrida há um mês, é inevitável. Os novos movimentos sociais e os sindicatos são em tudo diferentes – nos métodos de mobilização (redes sociais/comunicação tradicional), na estrutura de organização (lideranças horizontais/lideranças verticalizadas), nos propósitos que os inspiram (mudança de valores da sociedade/benefícios para categorias de trabalhadores). Não é novidade dizer que a tecnologia fez emergir comportamentos que não estavam previstos nos manuais de sociologia do século 20. E que também impulsionou novos modelos de cidadania. Mas é curioso notar como a emergência dos novos movimentos interfere no comportamento de atores tradicionais da sociedade, como os sindicatos.

Na Grécia antiga, a musa da História era Clio, "aquela que confere fama". Neste momento, em todo o mundo, na Turquia ou no Brasil, a fama pende em favor dos novos movimentos sociais.

Tendências

Fim do plebiscito

O fim do plebiscito é mais uma evidência de que um projeto de reforma política não sairá do Congresso Nacional. Dificilmente os parlamentares irão propor mudanças que alterem radicalmente o jogo de poder. É mais conveniente efetivar mudanças para que tudo continue igual. Conclusão: a reforma política vai definitivamente precisar do povo acordado e atuante.

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Medida inútil 1

Na ânsia de querer mostrar serviço e cumprir uma agenda positiva, o Senado votou na quarta-feira um projeto que beira à irrelevância. Os parlamentares aprovaram uma proposta de emenda à Constituição (PEC) que acaba com a figura de segundo suplente e proíbe parentes na mesma chapa de senador. A medida não muda o essencial que é acabar com o cargo de suplente. A aprovação da PEC, portanto, foi uma medida inútil.

Medida inútil 2

A suplência é, na prática, uma "reserva de mercado" político. Permite que o senador possa deixar o cargo para ser ministro – o sonho de consumo de boa parte dos parlamentares – e retorne quando bem entender. Enquanto está licenciado, um substituto temporário cuida da vaga.

Medida inútil 3

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O ideal seria acabar com a vaga de suplente, que muitas vezes é um financiador de campanha ou coordenador eleitoral eficiente. Os suplentes, quando assumem o cargo de senador, podem até ter uma boa trajetória. Mas não é isso que está em discussão. Suplentes não recebem votos nem assumem diretamente compromissos públicos com os eleitores. Qual é a sua opinião sobre a existência de suplentes para senador?

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Veja também
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  • O gigante acordou?
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