A eleição para a prefeitura está chegando e certamente um dos temas que irá fazer parte obrigatória do debate público será a necessidade de transformar o município em uma cidade inteligente. A ênfase, nesse assunto, tem corriqueiramente se dado sobre as possibilidades de atuação do setor público como o principal agente responsável pela implantação e gerenciamento de toda a infraestrutura de uma smart city. Essa é uma visão equivocada. Afinal, parte-se do princípio que tecnologia de informação e mentes iluminadas – eleitas pelo povo ou concursadas da burocracia estatal – irão dar conta de criar as cidades inteligentes.

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A má compreensão desse tema não é exatamente culpa da classe política. O tema é relevante, está na moda e rapidamente vem sendo reformulado. As cidades inteligentes já foram compreendidas como sistemas digitais que conectam habitantes e poder público de uma cidade, facilitando a vida dos cidadãos, gerando economia de custos para a prefeitura e incluindo todos os segmentos da população. Recentemente, outros aspectos como sustentabilidade e desenvolvimento humano também passaram a ser valorizados.

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Mas levar esses novos fatores em conta ainda não é suficiente para dar o tom de profundidade que o tema merece. Sem espaços de conhecimento que produzam inovação, cidades inteligentes são entidades vazias. Afinal, de que adianta você ter à disposição belas ferramentas tecnológicas, redes sem fio de banda larga grátis, um ambiente informativo e lúdico de realidade aumentada, se a sociedade pouco cria, compartilha ou se apropria desses elementos para gerar riqueza cultural ou econômica?

Não adianta falar em cidade inteligente se você esquecer de incluir a inteligência coletiva, colaborativa e aberta dos cidadãos. Uma cidade só pode ser considerada verdadeiramente inteligente se tiver espaços de construção de conhecimento em que as pessoas possam compartilhar experiências e desenvolver em conjunto novos saberes, produtos ou serviços.

Esses espaços necessariamente precisam ser conectados entre si. Eles podem ser mantidos por aceleradoras, incubadoras, laboratórios, universidades, fundações, associações de classe, entidades do terceiro setor. Podem ser mantidos por governos. Mas o mais importante é que eles estejam conectados uns aos outros em uma rede de colaboração, que permita o compartilhamento de conhecimentos entre os participantes desses diferentes espaços.

Uma importante contribuição para o tema pode ser resgatada em artigo publicado em 1994 (A dinâmica da teoria da criação do conhecimento organizacional) por Ikujiro Nonaka, em que o pesquisador japonês discute as condições fundamentais para a geração de conhecimento e a possibilidade de gerenciá-lo como o recurso de uma organização. Ele introduz o conceito de “ba” – que, numa tradução livre, significa “lugar”. O “ba”, para Nonoka, é um espaço – que pode ser físico, virtual, mental – compartilhado por pessoas que constroem juntas conhecimento.

Ao enfatizar a importância desses espaços, Nonaka contribui significativamente para quem pensa estratégias de cidades inteligentes. Ele inclui o componente que faltava para dinamizar a geração de conhecimento inovador em redes colaborativas. Quando numa visão de smart city se inclui esse conceito, as cidades se tornam capazes de criar espaços indutores de inovação que as farão genuinamente inteligentes.

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