Apesar das proporções titânicas, é curioso que pouco ou quase nada se planeje para evitar mais escândalos envolvendo a Petrobras ou outras companhias estatais. Não se fala em medidas corretivas que garantam a redução drástica da corrupção na estatal. Não se discute a incapacidade crônica do setor público em operar a maior empresa do país.

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Embora a presidente Dilma Rousseff tenha afirmado que o Planalto não vai interferir nas investigações e que o julgamento dos acusados vai mudar o Brasil, não se vê no governo o ímpeto necessário para implantar medidas corretivas. Membros do governo, da base aliada e da militância agem de modo parecido com o de Lula. Em evento realizado pela hidrelétrica Itaipu Binacional, em Foz do Iguaçu, ontem, ao ser questionado sobre a Lava Jato, o ex-presidente mandou jornalistas falarem com a Polícia Federal.

Evitar o problema, minimizá-lo ou fingir que ele não existe é próprio do ser humano. Um estudo recente de dois pesquisadores da escola de negócios da Duke University mostra que as pessoas negam o problema ou reduzem a importância dele, quando querem evitar que sejam aplicadas medidas que possam resolvê-lo. Troy Campbell e Aaron Kay publicaram um artigo sobre a pesquisa no Journal of Personality and Social Psychology de novembro deste ano, em que relatam o resultado de uma sucessão de experimentos com duas centenas de eleitores republicanos e democratas.

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Segundo reportagem publicada pela revista Wired, um dos experimentos mostrou que eleitores republicanos tendem a minimizar o aquecimento global quando a solução apresentada a eles é reduzir a emissão de combustíveis fósseis.

O pensamento republicano é historicamente favorável ao uso de combustíveis fósseis. Já os eleitores democratas são ligeiramente menos propensos a aceitar a tese de mudanças climáticas se a solução proposta tiver como base o livre mercado. Os democratas adoram medidas interventivas em mercados.

Os experimentos levaram Troy e Kay a uma conclusão desanimadora: quando se trata de política, as emoções distorcem a razão, facilitam a negação de problemas e evitam que as pessoas apoiem medidas que podem resolvê-los mas que ao mesmo tempo desagradam suas convicções.

Os pesquisadores advertem que o estudo não é conclusivo, dado a pequena amostragem. Mas mesmo assim, a pesquisa serve de alerta para que as pessoas, em especial os militantes apaixonados, percebam que a consciência pode trair a razão quando refletem sobre problemas políticos.

Reconhecer a armadilha do pensamento tendencioso é importante para que se evite minimizar assuntos graves e para que se tenha a clareza da necessidade de se buscar soluções eficazes.

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Distorção política

O maior escândalo já descoberto no país é reflexo da péssima cultura política. Não é exagero. O Conselho de Controle de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) detectou 4 mil pessoas e outras 4 mil empresas que, desde 2011 até os dias de hoje, efetuaram transações suspeitas no valor total de R$ 23,7 bilhões e que podem estar envolvidas no esquema da Lava Jato.

A Petrobras já foi motivo de orgulho nacional. Hoje a imagem está tão combalida que fica difícil imaginar como irá resgatá-la no futuro. Ocorreu um aparelhamento criminoso na estatal que certamente envolve muitos dirigentes partidários. Puni-los faz parte do processo de mudança. Mas é insuficiente.

Vigiar, punir e...

Investigar e punir são apenas duas das ações necessárias para evitar barbaridades em estatais . É preciso acabar com indicações políticas, mesmo que os indicados sejam funcionários de carreira. O reiterado aparelhamento do Estado tem gerado corrupção em estatais e em ministérios.

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É preciso também ampliar a transparência nas contratações realizadas pelas estatais. A engenharia financeira para a lavagem de dinheiro na Petrobras demonstrou a facilidade dos envolvidos em superfaturar obras, desviar recursos e transformá-los em verbas lícitas.

A melhoria das condições de trabalho de órgãos fiscalizadores, como do Tribunal de Contas e da Controladoria Geral da União, é imprescindível. A fim de coibir o superfaturamento, o fortalecimento da fiscalização preventiva, de outro lado, também é necessário.

Como nada disso é discutido o mundo político vive da negativa do problema. Finge-se que não houve corrupção. Ou, quando se admite, minimiza-se o fato e acusa-se os adversários – "isso aconteceu também em outros governos". Driblar as medidas corretivas com o discurso não é a melhor abordagem para resolver o escândalo da Petrobras.

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