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Há quatro anos a ideia de mudança explodia na cabeça de milhares de jovens na Espanha, que, a partir de mobilizações em redes sociais, foram às ruas protestar contra a corrupção e contra uma crise econômica que tinha feito terra arrasada no mercado de trabalho. Na época (22/5/2011) foi publicado neste espaço um texto intitulado “Antes que seja tarde, aprendamos as lições dos espanhóis”, que alertava que era importante tornar a sociedade brasileira mais engajada antes que houvesse declínio econômico e decadência política.

Como a sociedade mudou pouco e a crise foi se desenvolvendo, hoje surgem no Brasil movimentos semelhantes aos que ocorreram na Espanha há quatro anos. Há 20 dias centenas de milhares de pessoas foram às ruas em todo o país e prometem novas manifestações para o dia 12 de abril. Os protestos de rua de 15 de março foram eficientes para atemorizar o governo Dilma Rousseff, mas não impediram que o Congresso Nacional tivesse receio de aumentar gastos e manter regalias para si e para outros poderes.

A experiência internacional tem demostrado que no longo prazo os protestos de massa têm tido eficácia limitada. Na Espanha, o movimento que ficou conhecido por 15-M até conseguiu algum êxito em reformas, mas nada que alterasse significativamente a estrutura do poder.

Mesmo quando conseguem a façanha de derrubar regimes autoritários, as manifestações não garantem um futuro democrático. Suas consequências podem ser amargas (crise econômica, insegurança jurídica, aumento da violência).

Ativismo digital

Ao lado dos protestos mobilizados via redes sociais, a estratégia que mais tem sido usada por ativistas é o desenvolvimento de aplicativos sociais para participação cidadã e transparência pública. Mas, da mesma forma que nas manifestações, é de se perguntar por que as tecnologias sociais (ainda) não mudaram o Brasil.

Existe uma razão simples para isso. A maior parte das iniciativas são espontâneas – por vezes maratonas de programação de fins de semana –, desconectadas e descontínuas. Elas têm muitos méritos. Mas o modelo usado até o momento é de alcance limitado. Para que as iniciativas de desenvolvimento social tenham impacto estrutural, entretanto, é preciso administrar cada uma dessas iniciativas como uma empresa startup.

Os tempos são auspiciosos. O controle do mundo está mudando de mãos, o poder é volátil. O pesquisador Daniel Pink tem afirmado que o futuro pertence a criadores, reconhecedores de padrões e fabricantes de significados. Segundo ele, artistas, inventores, designers, contadores de histórias, conselheiros agora passam a colher as mais ricas recompensas da sociedade e a partilhar suas maiores alegrias. Vive-se um contexto de explosão criativa que empreendedores sociais precisam aproveitar. Se bem direcionado, valerá mais que dezenas de manifestações.

Tecnologia evolutiva

A tecnologia precisa ser evolutiva – estar em constante adaptação para sobreviver ao comportamento dos usuários. Para não desperdiçar tempo e dinheiro, algumas dicas são úteis para os empreendedores sociais:

1) Obedeça a lógica de aprendizagem ágil. Por mais que um aplicativo social possa ser desenvolvido rapidamente (o que é sempre desejável), é preciso ter em mente que terá de ser remodelado, adaptado e readaptado, com ciclos de aprendizagem rápidos, a fim conquistar o gosto dos usuários. De nada adianta ter uma excelente e cara ferramenta que ninguém usa. Como a probabilidade de fracassar é imensa, fazer rápidos ciclos de aprendizagem, testes semanais, medições objetivas, e ir ajustando tudo no caminho, é o que separa os vitoriosos dos fracassados.

2) Descubra o usuário. As centenas de milhares de pessoas que foram às manifestações no mês passado são prova de que existe público interessado em gastar tempo para não deixar a política só na mão de políticos. É preciso descobrir quem é o usuário, o que o motiva, quais as dores e os interesses.

3) Crie uma rede de apoiadores e aposte suas fichas no crescimento deles. Faça testes rápidos e baratos para expandir o número de pessoas que usam seu aplicativo.

4) Faça primeiro o simples. Não acredite em soluções mágicas. Não acredite que as pessoas naturalmente vão aderir em massa. Não acredite em viralização espontânea. Isso é uma fantasia.

Ativistas sociais precisam compreender o comportamento do cidadão a ponto de fazerem suas ideias explodirem na mente deles. O caso espanhol mostra que movimentos de massa têm sua importância, mas sozinhos não alteram o funcionamento da política. Podem, entretanto, servir de alavanca para empreendedores liberar a energia criativa, mudar a cultura e dar poder ao cidadão.

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