Se há uma tarefa que vale a pena investir tempo, dinheiro, afetos e emoções é a de tornar Curitiba a cidade com a vida cultural, econômica e social mais fascinante do país. Ambicioso, sim; difícil, também. Mas nada impossível. Cidades menores, com menos recursos, já fizeram isso no século passado. A experiência de Dartington, por exemplo, mostra que uma comunidade engajada e gente visionária juntas transformam sonhos em realidade.

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Em 1925, Dorothy e Leonard Elmhirst iniciaram o projeto “Experimento Dartington”, no sudoeste da Inglaterra. Compraram uma propriedade do século 14 que estava bastante arruinada pelo tempo, restauram-na e começaram a empreender uma série de atividades agrícolas e educacionais.

O projeto tomou tal proporção que rapidamente atraiu intelectuais do mundo todo, fazendo do pequeno vilarejo uma comunidade vibrante de ideias, experiências e produção cultural. Para se ter uma noção da proporção que o Experimento Dartington tomou, estiveram envolvidas pessoas como o Nobel em Literatura Rabindranath Tagore, o compositor modernista Igor Stravinsky, o escritor Aldous Huxley, o filósofo Bertrand Russell, a violoncelista Jacqueline du Pré, o ambientalista James Lovelock, entre outras personalidades.

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Ao longo do tempo, o lugar foi abrigando uma sucessão de instituições importantes. Em 1953, a Escola de Verão Internacional mudou-se para lá e ficou conhecida por ser uma instituição que oferecia a amadores a oportunidade de tocar com os principais músicos do mundo. Quinze anos depois, a Unidade Pesquisa Social, de Cambridge, foi transferida para Dartington. Nos anos seguintes, diversos empreendimentos sociais inspirados na visão de Dorothy e Leonard Elmhirst forma desenvolvidos na região, como um centro comercial de alta qualidade que vende artesanato e produtos locais. Antecipando os debates sobre o clima, em 1991, foi criado o Schumacher College, que hoje é referência em educação para o desenvolvimento sustentável.

É claro que a história tem seus altos e baixos – o fim da década de 90 foi um período muito difícil para as empresas locais. Isso faz com que Dartington continue constantemente a refletir como se reinventar.

O mais interessante do Experimento Dartington é que ele não surgiu porque a Coroa Britânica assim quis. Foi porque um casal de visionários, conseguiu engajar a comunidade em torno de uma perspectiva inspiradora. Dorothy tinha recebido uma herança considerável, o que a permitiu iniciar um belo exemplo de proposta para o desenvolvimento local. O Estado britânico veio contribuir só depois, engajando-se no projeto erigido pela comunidade.

Meio que silenciosamente, o Experimento Curitiba já começou, ao menos na área de participação política e transparência. O Instituto Atuação está desenvolvendo um belo plano para tornar a capital paranaense referência brasileira em democracia local. Mas há muito mais a se fazer em diversas áreas para que se possa construir uma cidade sustentável. E não há limites para a criatividade.

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Todas as ruas da cidade podem ter, por exemplo, hortas comunitárias. Todos os bairros podem ter programas de aceleração educacionais. Há uma infinidade de iniciativas da economia criativa sendo gestadas e que ainda não puderam se expressar em toda a sua potência. Há diversos ramos de negócios locais que podem se posicionar de forma global e atrair turistas para cidade. Dá para criar festivais fabulosos. Nunca Curitiba viu tantos ativistas criando um universo de coisas legais. Por que não conectar toda essa inteligência coletiva, estimular compartilhamento de informações e a cocriação de projetos comuns?

Costuma-se dizer que o futuro é construído a partir de onde as pessoas empregam suas energias, seus recursos materiais e intelectuais, seus afetos e suas esperanças. Investir no Experimento Curitiba, partilhando uma visão de cidade sustentável, vai fazer os cidadãos, juntos em comunidade, seres senhores de sua própria história.