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Indignai-vos
O intelectual francês Stéphane Hessel morreu aos 95 anos na terça-feira. Era sobrevivente dos campos de concentração nazista. Foi membro da resistência francesa. Em 2010, Hessel escreveu a obra "Indignai-vos", que serviu de inspiração ao movimento do Ocupe Wall Street e que traz uma mensagem aos jovens: "A pior das atitudes é a indiferença, é dizer não posso fazer nada, estou me virando. Quando assim se comportam, vocês estão perdendo um dos componentes indispensáveis: a capacidade de se indignar e o engajamento, que é consequência desta capacidade".
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Os ativistas do movimento "Fora Renan" embarcaram numa estratégia que deve ter impacto efetivo em sua incansável luta pelo afastamento do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB). Depois do promoverem um abaixo-assinado com 1,6 milhão de assinaturas em que reivindicam a cassação de Calheiros, eles agora estão estimulando os cidadãos a atuar em várias frentes na tentativa de derrubar o peemedebista. Nas últimas semanas conseguiram o apoio de cerca de 165 mil pessoas, que usando o site da organização não governamental Avaaz enviaram mensagens diretamente para as caixas de e-mail de senadores.
Mas não pararam aí. Na quarta-feira, dispararam e-mails aos apoiadores do "Fora Renan" propondo três novas estratégias de atuação: pressionar os senadores a abandonar Calheiros; mostrar aos parlamentares que a maioria dos brasileiros não quer o peemedebista na presidência da mais alta Casa Legislativa do país; e recorrer ao Supremo Tribunal Federal (STF) para que a corte dê agilidade ao processo que tramita contra o senador.
A ideia dos ativistas é continuar a exercer pressão sobre os senadores, que conjuntamente são responsáveis por colocar na presidência da Casa Legislativa um político que reiteradamente tem sido alvo de denúncias. Na mensagem enviada pelos ativistas, afirma-se que "se todos nós escrevermos e ligarmos para nossos senadores exigindo ação, vamos dar a eles um mandato da opinião pública impossível de ser ignorado para bloquear este sujeito sob suspeita". É uma estratégia que, de fato, pode causar uma série de inconvenientes aos senadores, que passam a ter de dar explicações ao eleitorado.
No que diz respeito à atuação dos ativistas junto ao STF, ainda não está muito claro como isso vai acontecer. Eles reconhecem que não podem interferir diretamente nas deliberações dos ministros do STF, mas dizem que vão pressionar para que o julgamento tenha uma duração razoável na corte. "Podemos exigir que, sendo estes casos de importância nacional, eles devem ser analisados rapidamente e não podem ser esquecidos em um lamaçal de desculpas e atrasos", explicam os ativistas.
Chama a atenção também a disposição dos ativistas em dialogar com seus apoiadores. Na página do Avaaz, eles abriram um fórum de discussão com o objetivo de aperfeiçoar seus métodos e tentar afastar Calheiros do Senado (http://bit.ly/Z3WD8X).
Pode-se dizer que o "Fora Renan" invadiu os gabinetes dos senadores e está sendo um laboratório para os novos movimentos sociais. Movimentos com esse começam a ocupar um lugar de destaque no plano político nacional. Os seus integrantes são abertos ao compartilhamento de ideias, usam intensivamente as redes sociais, mas também atuam no plano físico fazem passeatas, ligam para políticos, enviam fax reivindicando direitos, propõem projetos de lei e exigem moralização da política. São inclusivos e orientados a um fim comum: a vontade de tornar o ambiente político mais ético, republicano e democrático.
A experiência que vem sendo acumulada nas últimas semanas pelos ativistas do "Fora Renan" tende a se multiplicar muito rapidamente. É muito provável que os vários grupos de ativistas que atuam descentralizados mas possuem fóruns de convivência comum (Avaaz, Facebook, Twitter) estejam muito mais maduros nas eleições de outubro de 2014. E isso poderá ser decisivo para remover os maus políticos do parlamento.
Mesmo que Calheiros não deixe a presidência do Senado por força do "Fora Renan", uma coisa é certa: a partir de agora, os parlamentares vão ter de se espertar. Ou prosseguem nessa toada de produzir uma agenda positiva para o Congresso Nacional, com fim de regalias, ou irão ser esquecidos nas urnas, no próximo ano.