A existência de moradores de rua no Centro e em outros bairros de Curitiba tem movimentado um acalorado debate envolvendo associações de comerciantes, prefeitura, intelectuais e internautas nas redes sociais. O ponto central é: qual a política pública aceitável ou desejável para que cidadãos deixem de viver e dormir nas ruas da cidade?
O problema, de difícil solução, passa por uma série de possibilidades. Retirá-los à força. Fornecer mais e melhores abrigos para que cidadãos sem teto deixem de dormir ao relento. Sequestrá-los à noite e levá-los numa Kombi (provavelmente várias vezes, em dezenas de veículos) para o interior [ironia]. Intuitivamente, qualquer um percebe que a questão envolve uma série de direitos fundamentais – direito à moradia, direito de ir e vir, livre iniciativa e outras garantias constitucionais. E daí fica fácil de enxergar a complexidade que envolve o assunto.
Quando problemas envolvem muitas variáveis, que se inter-relacionam de forma sistêmica, achar uma solução só é possível com um engajamento social amplo, envolvendo setores público, privado, associações sem fins lucrativos, especialistas e cidadãos interessados. O caminho mais fácil é sempre jogar a responsabilidade nas costas de um governo, uma prefeitura. Mas há evidências suficientes hoje de que o governo não é, em muitos casos, o melhor gestor de políticas públicas ou empresas. Então a solução não é mais Estado para resolver o problema de forma única exclusiva, mas a colaboração de órgãos estatais com outros atores socialmente relevantes.
O professor e diretor do Centro para Democracia Deliberativa em Stanford, James Fishkin, criou um método que ficou conhecido como Pesquisa Deliberativa, que consiste em realizar debates com amostras estatísticas que sejam representativas da população, para criar políticas públicas. O que proponho aqui é uma mutação do conceito elaborado por Fishkin.
Chamo de hackathon social um método cujo nome é inspirado nas já bastante conhecidas maratonas hackers que criam aplicativos e tecnologias e beneficiam empresas ou toda a sociedade. Só que, em vez de aplicações tecnológicas, a metodologia serve para desenvolver várias abordagens para uma mesma política pública. Por esse método, pode-se, ou não, usar tecnologia. O importante é apresentar várias alternativas que poderão ser escolhidas e trabalhadas em conjunto pela sociedade, empresas, associações e poder público.
O hackathon social só vai dar certo se os participantes da maratona estiverem engajados em conhecer as necessidades dos usuários ou do alvo da política pública em discussão. Empatia é requisito mínimo necessário para que o método dê certo.
Para usar uma metodologia dessa natureza é preciso também humildade de todos os envolvidos. Até porque vai ser necessário equipes multidisciplinares altamente eficazes para a produção de soluções criativas.
Então, se a gente está realmente preocupado em resolver o problema dos moradores de rua, não adianta criticar uma postura ou outra, politizar desnecessariamente um problema que não é só da prefeitura, dos comerciantes ou dos cidadãos carentes que não tem teto para morar. É algo que diz respeito a todos. É um problema da multidão.
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