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A prisão do tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, na 12.ª fase da Operação Lava Jato leva a uma questão de difícil resposta: por que o Partido dos Trabalhadores não o afastou antes? Manter no cargo pessoas que são alvo de denúncias é uma conduta grave, com potencial de minar instituições, partidos e órgãos públicos que desprezem a opinião pública.

Idade das Trevas 1

A sociedade paranaense continua sem saber como o governo do estado gasta o dinheiro do contribuinte. Não há ferramentas didáticas que permitam ao cidadão saber em tempo real como é gasto o dinheiro público. Nesse quesito a União está muito à frente do Paraná. Ao menos os parlamentares federais possuem senhas para acessar o sistema de acompanhamento fiscal do governo federal.

Idade das Trevas 2

Depois do descontrole das contas públicas no ano passado, está bastante claro a necessidade de um sistema de acompanhamento fiscal abrangente, que permita a análise em tempo real das despesas dos três poderes, do Ministério Público e do Tribunal de Contas do estado. É importante inclusive que, diferentemente do que acontece em nível federal, o sistema permita a qualquer cidadão assumir a tarefa de fiscalizar os gastos públicos, afinal, é ele quem financia o Estado, ao pagar impostos. Sem transparência, o Paraná continuará pertencendo à “Idade das Trevas” no que se refere à oferta de informação pública para o cidadão.

Alguns políticos não se importam com isso. O governador Beto Richa (PSDB), por exemplo, mantém Ezequias Moreira Rodrigues como secretário especial de Cerimonial e Relações Internacionais. Pivô no caso da sogra fantasma, Ezequias Moreira Rodrigues chegou a devolver cerca de R$ 500 mil recebidos ilegalmente da Assembleia Legislativa do Paraná e responde a processo penal do Tribunal de Justiça. Por diversas ocasiões Richa disse que somente irá afastá-lo caso seja condenado criminalmente.

O caso do PT é pior. Há um mês João Vaccari já tinha sido denunciado pelo Ministério Público Federal, acusado de corrupção e lavagem de dinheiro. Ainda assim o partido o apoiou e o manteve no cargo. Mesmo antes disso o PT de todas as formas tentou blindar o tesoureiro. Em fevereiro, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva teria defendido Vaccari em uma reunião da direção da legenda. Ele teria comparado as denúncias da Lava Jato ao mensalão e dito que havia uma tentativa de criminalizar o partido. Na dúvida, segundo Lula, era melhor ficar ao lado do companheiro.

Só a militância mais inocente, ou amoral, para acreditar em complô contra o PT. Vaccari foi preso na Lava Jato por causa de um conjunto de fatores:

1) o ex-diretor da Petrobras Pedro Barusco declarou que o tesoureiro recebeu US$ 50 milhões em propinas entre 2003 e 2013.

2) o dirigente da Toyo Setal Augusto Mendonça Neto afirmou que parte da propina paga, no valor de R$ 4,26 milhões, teria sido direcionada ao petista na forma de doações eleitorais ao partido entre 2008 e 2012.

3) o doleiro Alberto Youssef disse que entregou R$ 400 mil para a cunhada de Vaccari.

4) o vice-presidente da Camargo Corrêa, Eduardo Leite, revelou que foi procurado por Vaccari em 2010, que ofereceu a ele a possibilidade de usar dinheiro de propina para doações eleitorais.

5) o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa detalhou que Vaccari atuava como intermediador de propina.

6) há indícios de enriquecimento ilícito de familiares de Vaccari.

7) como permanecia no cargo de tesoureiro poderia persistir na prática de crimes ou impedir as investigações.

O PT se complica porque quer. Em vez de sair para o ataque contra “os inimigos de sempre”, faria bem ao partido mais humildade em reconhecer que seus dirigentes falham, assim como já falharam retumbantemente no passado (veja-se o caso do mensalão). Em vez de manter no cargo com todas as forças seus dirigentes acusados ou condenados por ilegalidades, a melhor prática seria afastá-los enquanto durassem as investigações.

Ter aceitado que Vaccari permanecesse como tesoureiro do partido mesmo denunciado pelo Ministério Público Federal foi um erro grosseiro. Está na hora de parar de procurar culpados externos ao partido e começar a examinar honestamente a conduta de parte de seus dirigentes.

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