Logo depois de derrotar a bruxa má, no filme O mágico de Oz, Dorothy volta para a sala do trono do Mágico, para fazê-lo cumprir sua parte do trato que haviam feito. Diante da aterradora cabeça flutuante – enorme e terrível – que é a representação do feiticeiro, ela depõe a vassoura da bruxa derrotada. Como recompensa, espera que ele cumpra o que lhe havia prometido – fazê-la retornar para casa. Mas o Mágico recusa cumprir a parte que lhe cabe. Torna-se agressivo e disposto a brigar. Enquanto a tensão aumenta, o cão Totó, uma representação da intuição da menina, fareja a verdade sobre o feiticeiro – atrás do trono há um pequeno homem, cordial, controlando a cabeça ilusória do poderoso Oz.
Em “A jornada do escritor”, o consultor de histórias do cinema norte-americano Christopher Vogler interpreta essa cena como uma metáfora da indústria de Hollywood, “que tenta com todas as forças ser assustadora e espantosa, mas que é feita de pessoas comuns com medos e fraquezas”. Muito além do cinema, o comentário de Vogler se ajusta perfeitamente para a atual política brasileira, com seus atores insólitos e suas intenções nefastas. Foi dissipada a ilusão de grandeza de pessoas como o ex-presidente Lula, a presidente Dilma Rousseff, o deputado Eduardo Cunha, os senadores Renan Calheiros e Aécio Neves e tantos outros representantes em quem o povo depositou confiança.
A Lava Jato levantou a cortina e eles se revelaram pessoas banais. Seus vícios e imperícias se traduzem em acusações de envolvimento em escândalos de corrupção. Sem contar o desastre econômico, que levou à contração do PIB em 3,8% em 2015 e a previsão mais recente já bate em contração de 3,7% neste ano. E enquanto a economia se deteriora, o Congresso Nacional e o governo permanecem inertes, sem discutir nem aprovar reformas que coloquem o país de novo na rota de crescimento. A incompetência traduzida em fatos serve para desconstruir a imagem que gostam de compor de si mesmos – a pessoa mais honesta do Brasil, a mãe dos pobres, os agentes da governabilidade, os salvadores da pátria.
O mágico de Oz faz lembrar que os altos agentes de estado são pessoas prosaicas e , muitas vezes, exercem seus defeitos com graves consequências. Ensina também que não há soluções mágicas para o retorno ao mundo da prosperidade. Dorothy queria ir para casa, mas o mágico, apesar de mentir que a ajudaria, não tinha poderes para isso. Depois de perder a viagem de balão, que, segundo o pequeno homem, seria capaz de fazê-la retornar, só lhe restou a força da própria vontade. Batendo os calcanhares e soprando um “não há lugar como o lar”, numa manifestação em voz alta do seu desejo, ela retorna ao Kansas.
Assim como Dorothy tinha dentro de si a resposta para voltar ao mundo comum, da normalidade, dentro de cada indivíduo há um poder semelhante. Ao abandonar o exercício da política para atuar como comentarista nas redes sociais, parte da sociedade vem desperdiçando seu tempo com banalidades, enquanto o cenário político e econômico continua a se deteriorar. É preciso forçar a vontade para uma pauta positiva de ação política. Não só fazendo exigências verbais para que o país volte a funcionar, mas forçando que isso aconteça. Se as redes são boas para achincalhar, elas são melhores ainda para construir.
Sabendo que os homens e mulheres que governam a República são fracos e medrosos, abre-se um flanco de oportunidades para que a sabedoria dentro de cada um se manifeste. Os cidadãos podem fazer isso acontecer se candidatando a cargos, lutando pela democratização dos partidos, fiscalizando o poder público, disseminando uma cultura de participação, ingressando em grupos de hacker ativismo e, até mesmo, pressionando para que uma solução mais rápida para a economia seja posta em andamento.
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