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Cansei de ser pato
Se na Espanha, vimos neste ano protestos dos "Indignados". No Brasil vemos a mudez dos "Acomodados". Porém, acreditando que o país está num processo de mudança ainda silenciosa, a coluna foi criada no início de 2011 para que cidadãos interessados pudessem expressar seus posicionamentos, compartilhar ideias e construir projetos conjuntos. Se você deseja participar da campanha (ainda sem nome) que vai discutir a "Câmara que queremos" em 2012, manifeste-se. Eu cansei de ser pato. E você?
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A revista americana Time escolheu "O Manifestante" como a personalidade do ano de 2011. A escolha foi justificada pelos diversos protestos que ocorreram no mundo durante o ano, entre eles as manifestações da Primavera Árabe, o fenômeno Occupy Wall Street e os Indignados de Madri. Foi a forma que a revista encontrou de homenagear as pessoas que foram às ruas protestar por democracia e que perceberam que podem mudar o rumo da história. Parodiando a Time, o Coro da Multidão escolheu uma personalidade brasileira que deveria ser homenageada. E essa personalidade é "O Pato".
De fato, trata-se de uma anti-homenagem. Popularmente chama-se de pato aquele que é um mau jogador de baralho ou, então, aquele que paga a conta dos outros. Aqui, quem paga a conta das perversidades que vem sendo perpetradas contra as instituições é a população acomodada. Num ano de exposição constante de denúncias, tanto no plano nacional quanto no plano local, somente "O Pato", aquele personagem alegórico que passivamente paga a conta dos desmandos políticos realizados no país, dá uma dimensão adequada de nossos equívocos.
Seis ministros foram removidos do cargo por conta de denúncias de aparelhamento e desvios de recursos dos ministérios. O Conselho Nacional de Justiça órgão que foi criado para o controle administrativo do Poder Judiciário vem sofrendo ataques corporativistas de setores da toga e pode se tornar inoperante, caso seja efetivamente retirada a competência de investigar magistrados. Jader "Ficha Suja" Barbalho (PMDB) assumiu uma vaga no Senado, apesar da Lei da Ficha Limpa. Deputados na Assembleia buscam meios de conseguir o retorno de seus 14.º e 15.º salários. E, na Câmara de Curitiba, a pior crise já conhecida, com vereadores omissos diante de graves denúncias envolvendo o presidente do Legislativo, João Cláudio Derosso (PSDB), sua esposa e contratos de publicidade milionários. Apesar disso, não houve mobilização de peso, em favor da democracia e do respeito às instituições.
Se "O Manifestante" merecidamente ganhou destaque internacional, nada mais justo que "O Pato" ganhar destaque local. Afora os protestos que ficaram conhecidos como Marchas Contra a Corrupção, não houve algo de expressão popular que pudesse conter o ímpeto antirrepublicano que tomou conta de partidos e setores do Judiciário. Até mesmo as marchas tiveram alcance limitado. Se em Brasília as duas primeiras reuniram cerca de 25 mil pessoas, a terceira delas não reuniu nem cem. E fora da capital do país, esse movimento teve alcance reduzido na casa dos 5 mil manifestantes em São Paulo e de centenas de pessoas em Curitiba. As marchas podem até vir a se tornar símbolo da expressão popular e ter relevância no futuro, mas o seu impacto até agora foi mais midiático que transformador.
Seria desejável que isso acontecesse. É crucial que um movimento transformador se inicie urgentemente no país e há condições favoráveis para tanto no próximo ano. As eleições municipais podem servir bem a este propósito. Nesse sentido, é preciso realizar uma campanha em duas frentes. A primeira, de prestação de contas dos atuais vereadores, demonstrando os seus erros e acertos ao conduzir a política local. A segunda, de discussão em escolas, associações de moradores e outras entidades sobre qual é o perfil de vereador que precisamos. A coluna vai encampar essa ideia, mas sabe que não se constrói nada sozinho. Por esse motivo, pede a colaboração de todos os interessados.
"O Pato" de 2011 pode ser "O Manifestante" de 2012. E é nisso que aqueles que não gostaram do rótulo deveriam apostar as suas fichas.
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