Desde Adam Smith os principais problemas das relações econômicas são a confiança, a responsabilidade, a probidade. Sem confiança, o empreendedor evita alocar recursos. Sem pessoas assumindo responsabilidade e sem serem probas, não há confiança e o sistema se desestabiliza, contaminando as instituições. Logo, a economia depende de certas condições morais. Mas não só ela.
Para o Brasil que começa 2016, está claro que a política e as instituições também dependem de certa moralidade. O ano que passou foi fértil em mostrar o quanto os parlamentares brasileiros, mais preocupados em obter vantagens pessoais na crise que com o bem-estar duradouro da sociedade, impediram a retomada do crescimento econômico do país.
O governo federal foi incapaz de articular sua base aliada no Congresso, perdeu boas brigas tentando realizar o ajuste econômico. O presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), prossegue no cargo, atrapalhando o processo de cassação contra si no Conselho de Ética, pressionando outras instituições para evitar investigações de graves denúncias na Lava Jato, além de deflagrar o impeachment por vingança. Fez tudo às claras, aos olhos dos colegas parlamentares, dos procuradores da República, dos ministros do Supremo Tribunal Federal e da sociedade, sem que nada lhe acontecesse. Nem mesmo a oposição a esse governo inábil teve forças para assumir um papel de liderança e apresentar um caminho para o Brasil. Preferiu a prática do “quanto pior, melhor”, dificultando a aprovação do ajuste e contrariando o discurso da responsabilidade fiscal, da qual sempre foi fiel guardiã desde os tempos do presidente Fernando Henrique Cardoso.
Ao mesmo tempo em que as instituições da política comprovaram o quão péssimos são os quadros partidários que ocupam posições de comando, a sociedade não foi capaz de se insurgir como um contraponto relevante. Dois comportamentos igualmente destrutivos emergiram em 2015 e contaminaram qualquer debate minimamente equilibrado.
De um lado, esteve a idiotia das militâncias extremistas, que se comportaram como torcidas organizadas de futebol, e, numa estratégia simplista, partiram irracionalmente para o ataque ou para a defesa do governo. Se em algum momento você compartilhou o lixo insano partidarizado das redes sociais, certamente contribuiu para piorar o debate público, que agora se encontra polarizado e incapaz de buscar soluções para um país imobilizado pela crise política.
De outro, não se viu a sociedade criar uma alternativa coerente aos militantes e tolos das redes sociais. Está muito claro que as manifestações de 2013, espontâneas e cheias de esperança, agora se repetem como farsa, capturadas por movimentos extremistas das mais variadas matizes ideológicas. O que não significa, entretanto, que não aja espaço para os cidadãos e suas organizações formais e informais assumirem um papel de liderança e de influência, para evitar que 2016 seja mais um ano perdido.
Neste início de ano, os cidadãos devem se questionar qual legado querem deixar para 2016. A falta de confiança em uma solução é tamanha que todos estão em compasso de espera. Para recuperar a confiança na economia, a sociedade precisa fortalecer algumas condições morais. É necessário um choque de responsabilidade. Os políticos envolvidos na Lava Jato precisam ser responsabilizados e removidos do Congresso Nacional. As contas públicas precisam ser equilibradas – não dá para gastar mais do que se arrecada. E, acima de tudo, a sociedade precisa voltar a ter serenidade no debate público, descartando as discussões emocionais pueris e se concentrando em alternativas realistas para tirar o país da crise.
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