Deixando os acontecimentos mais prosaicos de lado – crise econômica, crise política, crise moral, crise de debate público –, existem transformações importantes acontecendo no mundo, que ajudam a orientar a ação prática de ativistas sociais ou empreendedores criativos. Nem sempre óbvias, seguem quatro tendências que devem marcar o ano:
1) O poder continuará a se degradar
E, nos moldes do que Moises Naim defende em O Fim do Poder, vai prosseguir sendo mais simples de obter, difícil de conservar e fácil de perder. Novas tecnologias, redes sociais e mudança de valores na sociedade permitem que ele troque de mãos com muita rapidez. Como não há cartilha que dê conta da complexidade que se tornou a aquisição de poder, esse cenário causa incerteza, sem dúvida. E aí está a segunda tendência para 2017, analisada a seguir.
2) Esses são os tempos do inconcebível
Nunca antes o planeta teve tantos cientistas, tantas pessoas lendo e discutindo nas redes sociais, tantos aviões no ar, tanta gente empreendendo no setor tecnológico e na indústria criativa. Como isso ocorre em escala exponencial, os eventos excepcionais que antes eram exceção viram a regra. O mundo pode até parecer “virado do avesso” – você certamente vai ouvir muita gente falando que “não dá para entender o que está acontecendo” ou que “quem não está confuso, não está bem informado”.
3) Colonialismo digital
Com a economia abalada e investidores esperando o cenário melhorar para voltar a investir, uma grande ameaça é o acirramento das diferenças tecnológicas do Brasil com os países desenvolvidos. O uso intensivo de tecnologia da informação em toda a cadeia produtiva vai deflagrar ganhos até então desconhecidos. Como toda a vez que a tecnologia da informação entra num novo mercado ela dobra a produtividade do setor a cada ano e meio (Lei dos Retornos Acelerados), não é exagero dizer que a “indústria 4.0” vai destruir a concorrência e impor sua hegemonia sobre todos os agentes econômicos que estiverem despreparados.
4) Originalidade se torna o conceito dominante
Apesar de boa parte da indústria tradicional ainda não saber como inovar, a ideia de inovação tende a se tornar o novo normal da gestão empresarial. Ao se tornar a norma, passa a não fazer mais sentido falar meramente sobre a necessidade de inovar. De outro lado, o conceito de economia criativa continua em ascensão. Ao mesmo tempo, o localismo se torna de novo uma força emergente.
A territorialidade se manifesta como movimento de resistência (por vezes silenciosa e discreta) à globalização, volta a ser valorizada e a desempenhar papel central nos arranjos econômicos.
Economia criativa e localismo, quando combinados, tornam-se uma mistura perfeita para se gerar produtos e serviços únicos – originais –, cujo toque regional serve de atrativo para a conquista de mercados globais.
A identificação dessas quatro tendências serve como ponto inicial para se discutir que estratégias são passíveis de se adotar num cenário de liquidez do poder, incerteza, ameaça tecnológica e retorno à valorização das atividades locais. Mas esse é um assunto que precisa de mais espaço, uma coluna toda, e será discutido na próxima semana.
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