As universidades desempenham função central na criação de ambientes inovadores ao formarem os atores que serão os responsáveis pela construção do conhecimento criativo. É uma verdade óbvia demais, afinal, dizer que o capital humano altamente qualificado se tornou uma condição essencial para o florescimento de um ambiente fértil de economia criativa. Mas a formação, assim como a disposição, de estudantes graduados e pós-graduados em empreender pelos caminhos da inovação e da economia criativa ainda é por demais deficiente. E as instituições de ensino superior detêm a responsabilidade de alterar esse quadro, se definitivamente estiverem comprometidas com o tema.
A inovação e as relações com a iniciativa privada são temas tabu nas universidades. Na maior parte do tempo, o que impera é o preconceito com as atividades do mercado, visto com um inimigo da academia e do conhecimento científico. Do ponto de vista curricular, às vezes o assunto é tratado em disciplinas isoladas. Em algumas instituições, o tema se restringe a um departamento específico. Isso por si não é ruim, mas limita o alcance do conhecimento. Além disso, em alguns casos, o espaço para se discutir inovação são restritos a incubadoras ou a departamentos administrativos que sofrem obstáculos intermináveis para estabelecer uma política consistente que permeie toda a estrutura universitária.
Some-se a isso os impasses legais que muitas vezes impedem as universidades públicas de se serem ágeis para firmarem parcerias com grandes empresas, as dificuldades das filantrópicas em criar aceleradoras que deem vazão à sua produção científica-tecnológica, às imposições do MEC nas grades curriculares. De outro lado, os estudantes não sabem das inúmeras possibilidades que poderiam lhes proporcionar o conhecimento de modelos mentais indutores da criatividade, da visão sistêmica, da noção de impacto, da criação de inovação. E o desconhecimento leva à falta de engajamento para atuar em iniciativas empreendedoras.
Apesar de toda a sorte de desafios que se necessita superar, o meio acadêmico já se deu conta da importância da inovação estar na pauta prioritária de ação das reitorias. Há a consciência da necessidade de reestruturação administrativa, da mudança de cultura de professores e do comportamento dos estudantes. Não há, entretanto, fórmula ideal a ser copiada. Estudar modelos consolidados, como o do Vale do Silício ou o de Israel, é importante mas não confere garantia de sucesso. As iniciativas e os métodos podem variar, mas é importante que o tema da inovação se torne onipresente no cotidiano acadêmico, dentro de uma visão estratégica orientada para o desenvolvimento sustentável.
Não se trata de um modismo. Tampouco impede que a pesquisa pura continue a ser desenvolvida como sempre foi. Trata-se de elevar à consciência que a academia não pode ser uma ilha de poucos contatos com a comunidade em seu entorno. E de que novas práticas que gerem riquezas e benefícios sociais devem ser bem-vindas, assim como outros atores que podem contribuir significativamente para o desenvolvimento de inovações. Mudanças dessa natureza, certamente irão acelerar o processo de geração de conhecimento criativo e inovador em toda a área de influência das universidades.
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