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Mais que boas intenções
Será necessário mais que declarações de boas intenções do novo presidente da Câmara Municipal de Curitiba, João Luiz Cordeiro (PSDB), também conhecido como João do Suco, para moralizar o Poder Legislativo local. Ele vai precisar mostrar que é um homem de ação. Se o tucano realmente quer fazer uma transformação na Câmara, ele pode começar tornando o Legislativo transparente de verdade. Pode, por exemplo, facilitar o acesso de todos os dados referentes a licitações e despesas de cada vereador com envio de cartas para eleitores. Que tal? Fica registrado o pedido público de O Coro da Multidão.
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Só a cara de pau explica a seguinte declaração do senador Ivo Cassol (PP-RO): "O político no Brasil é muito mal-remunerado porque tem que atender com passagem, dar remédio, ser patrono de formatura". Cassol fez a afirmação na terça-feira da semana passada, dia 20, quando pediu vista para análise do projeto de lei que pede o fim do 14.º e do 15.º salários pagos aos senadores. Dizer que políticos são "muito mal-remunerados" ofende a inteligência da população, já que os senadores têm benefícios não desfrutados pelos cidadãos "comuns".
Eles recebem salário de R$ 26,7 mil e R$ 15 mil de verba indenizatória mensal, além do direito à contratação de dezenas de funcionários. As regalias de suas excelências não param aí. Conforme matéria publicada no fim de semana pelo jornal O Globo, o Senado banca os gastos com assistência médica dos parlamentares e de seus familiares para o resto de suas vidas. Para poder usar a assistência vitalícia, basta ser senador por pelo menos 180 dias. Ou seja, se um suplente assumir por seis meses, ele e sua família terão para sempre o direito ao ressarcimento das despesas médicas pelos cofres públicos.
Aqueles que estão no exercício do mandato não têm limite de gastos. Já os ex-senadores e seus familiares têm como teto anual o valor aproximado de R$ 32 mil. Segundo levantamento de O Globo, de 2007 até agora, senadores e ex-senadores foram ressarcidos num total de R$ 17,9 milhões em despesas médicas. Todas pagas pelos contribuintes. É o melhor sistema de assistência à saúde do universo.
Esse benefício é uma aberração sem sentido. O cidadão "comum" precisa pagar de seu próprio bolso assistência médica se não quiser se socorrer ao Sistema Único de Saúde. Já senadores e seus familiares, como se observa, são seres superiores a esses cidadãos comuns. No Brasil, a eleição tem esse poder sobrenatural de tornar os eleitos seres melhores que os outros, com 15 salários e atendimento médico vitalício. Só que isso tudo é muito pouco para gente como Ivo Cassol.
É ultrajante ter de ouvir de um senador que político ganha mal. É ainda mais ultrajante ter de sustentar os gastos de famílias de senadores e ex-senadores que utilizam de um sistema imoral de assistência médica. Portanto, não basta o fim do 14.º e do 15.º salários, como defende a Associação dos Servidores do Ministério Público Federal (ASMPF) em ação ajuizada perante o Supremo Tribunal Federal (STF). Para pôr fim a esse sistema arcaico de ressarcimento de despesas médicas para uma casta de autoridades públicas e suas famílias, é necessário romper essa lógica de desigualdade que existe entre as autoridades públicas e o resto da sociedade.
Essa desigualdade só existe porque os cidadãos ditos "comuns" se submetem aos caprichos e vontades dos cidadãos especiais. Salvo exceções, as autoridades públicas jamais entenderão que são iguais aos cidadãos, se os "comuns" não reivindicarem essa igualdade. E a exigência do fim das regalias é urgente.
Para acabar com essas benesses será necessário um esforço coletivo que ultrapasse as barreiras das redes sociais, tão ávidas em debates mas, até o momento, tão pouco efetivas como instrumento de mudanças da realidade brasileira. A coluna, portanto, termina com uma questão para reflexão coletiva: como fazer senadores entenderem que devem contratar seus planos de saúde, se não quiserem enfrentar a fila do SUS?
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