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Tudo bem que o Brasil não é para amadores, mas também não pode ser para um profissional do gabarito de Eduardo Cunha. A renúncia à presidência da Câmara dos Deputados é mais uma cartada do peemedebista para tentar evitar a cassação. Cunha espera emplacar o próximo presidente da Casa para ter um aliado na sessão em que a Câmara decidirá se o mandato dele será cassado. Por consequência, a sucessão no comando daquela Casa entra de forma torta na pauta de discussão nacional.

Verdade seja dita, chega a ser um alívio a saída de Waldir Maranhão (PP-MA) da presidência interina, dada a quantidade de trapalhadas que protagonizou no cargo. Só que a saída dele não impede a ascensão de um novo Cunha, ou um novo Maranhão. A discussão sobre o novo presidente da Casa deve ser a mais ampla possível, envolvendo intensamente a sociedade, porque é preciso se chegar a um nome que tenha a competência para resgatar o Legislativo do universo paralelo em que está vivendo e trazê-lo de volta à realidade. Há uma crise não debelada cuja solução depende de aprovação de projetos no Legislativo.

Mas Cunha, o articulador prodígio, vai forçar para que o escolhido seja um aliado que o livre da cassação e, por extensão, de ser julgado pelo juiz federal Sergio Moro. É inacreditável que apesar depois de ter sido afastado das funções de deputado, em decisão inédita do Supremo Tribunal Federal, o peemedebista continue contando com tamanho apoio nos bastidores, a ponto de seguir manobrando com desenvoltura, a ponto de pretender transmutar fraqueza (renúncia da presidência) em força (busca de aliado que o beneficie no processo de cassação).

Como essa legislatura já mostrou não ter limites para a prática da insensatez, há alto risco de que Cunha fabrique seu sucessor e consiga escapar da cassação. Assim, poderá continuar usando o Legislativo de fantoche para satisfazer os próprios interesses, sem se preocupar com a aprovação de propostas que tirem o país da crise. É o pior dos mundos.

Felizmente é ano eleitoral, o que traz a esperança de que a pressão popular possa surtir algum efeito contra as artimanhas de Eduardo Cunha. Ainda que as eleições sejam municipais, o que, portanto, não constitui em ameaça aos mandatos dos deputados, sempre há o interesse de conservar poder nas bases para o próximo pleito. Costuma-se dizer que as municipais são preparatórias para as nacionais e estaduais – o sucesso agora determina a boa sorte futura.

Por essas razões, nesse período os parlamentares ficam mais sensíveis à opinião pública. Precisam dela para eleger aliados ou sair vitoriosos como prefeitos. Questão de sobrevivência política que abre a oportunidade para forçá-los a voltar a ter bom senso. E é aí que entra a pressão popular.

No vergonhoso recesso branco que se aproxima a sociedade pode pressionar os deputados nas mais longínquas bases eleitorais. Apesar da quantidade de investigações e do processo aberto contra ele no STF, caso não haja pressão popular vai ser difícil se ver livre do peemedebista. Vai ser difícil também conseguir recuperar o país. Sem mobilizações, o Brasil vai continuar nas mãos de prodigiosos profissionais do padrão de qualidade de Eduardo Cunha, patinando para sair dessa imensa crise econômica, gerada por causas são políticas.

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