Tendências
Ofendendo a inteligência 1
Ao vociferar contra o Ministério Público e contra a mídia, o presidente nacional do PT, Rui Falcão, está prestando um desserviço à democracia. Em reunião da bancada do PT na Câmara, Falcão anteontem declarou que a imprensa "abre campo para as aventuras golpistas". Disse também que os meios de comunicação e o Ministério Público fazem oposição ao governo e estão tentando desqualificar a política. Menos, Falcão, menos.
Ofendendo a inteligência 2
Nenhum partido ou governante gosta de ser alvo de críticas. O PT de Falcão não é diferente. Ele considera inaceitável que o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, encaminhe para a promotoria de primeira instância o pedido de investigação de Lula sobre suposta participação do mensalão. Gurgel está cumprindo com o seu papel constitucional, ao investigar condutas de dirigentes políticos. E a imprensa, mesmo que por vezes cometa equívocos, tem possibilitado um debate amplo sobre os rumos do país.
Ofendendo a inteligência 3
Embora seja verdade que nos dez anos em que o PT esteve à frente do governo federal, os mecanismos de fiscalização pública se tornaram mais eficientes, Falcão sinaliza noutra direção. No encontro com os deputados na quarta-feira passada, ele defendeu a regulamentação mídia. Pelos seus ataques ao Ministério Público é de questionar se não há a intenção em controlar o poder de fiscalização da imprensa. O PT podia reconhecer seus equívocos e seguir adiante de cabeça erguida. Mas está optando por um caminho difícil que tem servido para fazer aquilo que Falcão diz querer evitar desqualificar a política.
Com uma vassoura nas mãos, o jovem faz a limpeza simbólica do gramado em frente do Congresso Nacional. Uma jovem mãe segura uma bandeira e um balde, no qual está escrito "estão jogando meu futuro por água abaixo". Dentro do balde, um bebê. A imagem, estampada na capa da Gazeta do Povo de ontem, mostrava que se os senadores aceitam bem ter Renan Calheiros (PMDB-AL) como presidente do Senado, parte da população não se sente confortável com a possibilidade do retorno do peemedebista à presidência daquela Casa Legislativa.
Os vinte manifestantes que fizeram o protesto não estão sozinhos. No Avaaz, site de abaixo-assinados virtual, aproximadamente 260 mil pessoas estão se mobilizando para tentar impedir que Calheiros seja eleito. Diz o texto do abaixo assinado: "O senador Renan Calheiros, que acaba de ser denunciado criminalmente ao STF pelo procurador-geral da República, é o favorito para ser o próximo presidente do Senado. Somente uma mobilização gigantesca pode impedir esta vergonha."
A pergunta que fica é: terão sucesso os manifestantes? Renan Calheiros será rejeitado? A resposta provável não é animadora. Será surpreendente se Renan Calheiros não for eleito presidente hoje. Ele estará voltando à cadeira que teve de renunciar no final de 2007, para evitar a cassação. Na ocasião, descobriu-se que um amigo, lobista de uma empreiteira, havia pago as despesas do senador, entre elas, a pensão de uma filha de Renan Calheiros com a jornalista Mônica Veloso.
Porém, mesmo com o peemedebista na presidência, não há motivos para que a sociedade desanime em sua luta pela ética na política. Há uma forma de conseguir que, no futuro, a situação não se repita. Hoje o voto na eleição das Mesas Diretoras da Câmara Federal e do Senado é secreto. É por essa razão que pouco importa a opinião pública. Nos moldes atuais, senadores e deputados federais jamais poderão ser punidos nas urnas por suas más escolhas.
Há diversas propostas de emenda à Constituição tramitando no Congresso Nacional que poderiam resolver esse problema. O que se precisa é de manifestações da sociedade em favor dessa mudança. Para o fim do voto secreto no Congresso Nacional, são válidas as manifestações públicas em frente do Congresso ou nas ruas das cidades, assim como são válidos os abaixo-assinados virtuais, o envio de cartas ou de mensagens por fax. Com o voto aberto, talvez, os parlamentares fiquem constrangidos em colocar no comando do Poder Legislativo brasileiro políticos que estejam sendo alvo de denúncias.