Hoje é dia de apresentar uma pessoa muito importante e poderosa, que sofre de um tipo raro de esquizofrenia: por vezes é muito severa, em outras é benevolente demais. Também faz algumas confusões e, por mais que tenha boas intenções, nem sempre consegue ajudar a quem mais precisa: a sociedade paranaense.
Essa pessoa tem um nome muito curioso, mas que não era incomum quando nasceu, em 1947. Ele se chama Otribu Nalde Contas. Como se pode ver, Otribu já é bastante experiente, mas nem sempre age com a sabedoria esperada para pessoas dessa idade.
O trabalho de Otribu é complexo: precisa cuidar de contas que afetam a vida de 10 milhões de cidadãos. Para isso, conta com colaboradores bem capacitados e competentes, que conhecem fórmulas, planilhas, leis e regras. Mas também há aqueles colaboradores incompetentes, que só estão onde estão porque têm padrinhos poderosos. Otribu, apesar de tentar agir sempre com base nos princípios éticos, acaba cedendo às pressões desses padrinhos.
O trabalho de Otribu se divide em três grandes frentes: 1) analisar as contas do grande palácio; 2) analisar as contas de 399 palácios médios e pequenos; 3) analisar contratos e contas de outras centenas de instituições que de alguma forma atuam com dinheiro público.
A esquizofrenia de Otribu começa a aparecer aí. Ele se esmera em rigores com os palácios pequenos e também com algumas instituições. Por outro lado, o grande palácio, por mais que apresente contas com problemas, não costuma ser punido.
Há mais de uma década o grande palácio precisa investir 12% de suas receitas na saúde. Nesse período, muitos poderosos já ocuparam aquele trono, e quase sempre descumpriram a regra. Quando ela é levada à risca, ajuda, de forma direta ou indireta, 10 milhões de cidadãos. Mesmo assim, Otribu, foi benevolente e as contas foram todas aprovadas. Mesmo nos casos em que os investimentos ficaram em torno de 8,3%, 9,1% ou 10,3%.
Por outro lado, os palácios pequenos e médios precisam investir 15% de suas receitas em saúde. Anos atrás, um palácio pequeno, que cuida de aproximadamente 14 mil cidadãos, aplicou 14,85%. Outro palácio menor ainda, que cuida de 8 mil cidadãos, aplicou 14,02%. Em um terceiro caso, um palácio responsável por 44 mil cidadãos, investiu 14,5%. Nesses casos (e em muitos outros parecidos), Otribu foi extremamente rigoroso, e desaprovou as contas.
Há quem veja o trabalho de Otribu e desconfie da sua habilidade com números. Pensam assim: se ele punisse o grande palácio, serviria de exemplo para todos os outros 399 e todas as outras instituições que lidam com dinheiro público.
Mas é difícil mudar o comportamento de Otribu, que atira para vários lados, atingindo não apenas os palácios, mas também outras instituições.
Há instituições grandes e importantes, responsáveis pelo ensino e pesquisa científica, que também estão na mira de Otribu. Em vez de se dedicarem às suas atividades principais, precisam, a cada dois meses, enviar cerca de 2 mil relatórios a Otribu. Representantes dessas instituições já tentaram negociar com Otribu. Mostraram como essa burocracia atrapalha e drena recursos que seriam melhor aproveitados no ensino e na pesquisa. Mas não conseguiram mudar a cabeça de Otribu, que respondeu: "As regras são do meu regimento interno, e é assim que são".
Otribu também coleciona boas histórias, em que fez coisas importantes para todos os 10 milhões de paranaenses. Mas, no fundo, não fez mais que sua obrigação. Por isso, são seus deslizes que mais chamam a atenção.
Um desses deslizes aconteceu recentemente. Otribu decidiu contratar uma empresa para construir um prédio maior para ele e seus colaboradores trabalharem. Como é de praxe, o contrato precisa obedecer a muitas regras e passar por várias fases. Mas uma investigação, que ainda está em curso, aponta para a possibilidade de ter ocorrido fraude nesse processo.
Depois que a história toda veio à tona, Otribu decidiu cancelar a contratação. Mas ele continua dizendo que tudo que fez foi dentro da legalidade. O novo prédio estava orçado em R$ 36,4 milhões. Independentemente do resultado da investigação, os 10 milhões de pessoas que estão sob a jurisdição de Otribu se perguntam: o que vai melhorar com o novo prédio? Não seria melhor Otribu tratar de sua esquizofrenia antes?
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