Desde que assumiu o primeiro mandato, em 2011, o governador Beto Richa firmou um compromisso: contratação de 400 técnicos para a Emater no Paraná. “Estamos nos esforçando para equipar a Emater, que foi desestruturada, por falta de visão estratégica dos últimos governos”, declarou Beto Richa em 17 de março de 2011.
Em 2011 não aconteceu nada, tampouco em 2012. Em 2013 crescia a expectativa para liberação do edital do concurso. Em junho de 2014, finalmente, o concurso para a Emater foi realizado, junto com o da Agência de Defesa Agropecuária (Adapar), criada em 2011. O governo ressaltava que o último grande concurso para a Emater havia sido feito em 1991.
Os 400 aprovados no concurso foram chamados para exames médicos em agosto de 2014. Expectativa grande: após 23 anos, o quadro do instituto de extensão rural do Paraná seria finalmente recomposto.
Que nada. Beto Richa continua ignorando a necessidade urgente de contratação na Emater. O edital expira em 2 de julho. Se as nomeações não ocorrerem dentro deste prazo, todo o processo seletivo vai para o lixo.
Em setembro de 2015, a Secretaria da Agricultura e a Secretaria da Fazenda definiram um cronograma para a nomeação dos 400 aprovados, que seria feita em 1º de março, após um Plano de Demissão Voluntária (PDV) da Emater. O secretário da Agricultura, Norberto Ortigara, saudou o governador pelo acordo: “Nossos sinceros agradecimentos ao governador Beto Richa pela clareza do entendimento e pela firmeza da decisão”.
O cronograma atrasou, mas as primeiras etapas foram cumpridas. A intenção do PDV era oferecer vantagem para servidores com mais tempo de casa deixarem a instituição, desonerando a folha de pagamento e com isso permitindo a contratação dos 400 técnicos, que, em início de carreira, custariam menos aos cofres públicos.
O PDV teve adesão de cerca de 150 servidores, dentro das projeções feitas pela Emater. Em troca, estavam esperando a nomeação de 400 pessoas, que inclusive já fizeram a opção pelo local de trabalho.
O compromisso era nomear 400, desde os primeiros dias de Beto Richa no governo do Paraná. Mas a Secretaria da Fazenda não está liberando a contratação, apesar do combinado, apesar do PDV, apesar da demora. “Contratar os 400 de uma vez terá um impacto muito grande sobre a folha de pagamento do Estado”, disse uma porta-voz da Fazenda à Gazeta do Povo.
Acontece que a contratação em tacada única se deve aos erros de planejamento da gestão de Beto Richa. Se as nomeações tivessem sido feitas aos poucos desde a aprovação no concurso, em 2014, o impacto seria baixo. De quem é a culpa por isso?
A Fazenda agora insiste na contratação de apenas 143 técnicos, correspondente às adesões ao PDV. Mas não foi esse o combinado. O governador vive mencionando a importância do agronegócio para o Paraná, mas, na hora de agir, não faz nada.
Beto Richa ficará impassível diante da “desestruturação” da Emater, que ele mesmo havia criticado em 2011? Como o governador quer fazer? Lembrando que já está definida a cidade de lotação dos 400 aprovados no concurso.
Será que Beto Richa irá pessoalmente a Bandeirantes, por exemplo, dizer que não será contratado engenheiro agrônomo para lá? Iria acompanhado do líder do governo na Assembleia, Luiz Claudio Romanelli (PSB), que tem reduto eleitoral por lá? Ou iria para a Lapa, cidade em que o aliado Elio Rush conquistou muitos votos, para juntos anunciarem que a contratação para a cidade foi cancelada?
O que Beto Richa quer fazer? Jogar no lixo o concurso da Emater ou estruturar o órgão de apoio à agricultura?
(Correção em relação ao impresso: 1) a Secretaria da Fazenda argumentou que o edital tem validade de dois anos, prorrogável por mais dois, conforme iniciativa da Administração Pública; 2) a coluna citava erroneamente Santa Terezinha de Itaipu como reduto eleitoral de Romanelli. Na verdade, o local é reduto do deputado Ademar Traiano (PSDB), presidente da Assembleia Legislativa e aliado de Richa.)
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