Do que você gosta no seu bairro? E o que não está funcionando muito bem? Tenho feito essas perguntas a dezenas de pessoas que encontro pelas ruas de Curitiba, e o resultado está sendo publicado na série Voz da Cidade, todas as segundas-feiras neste jornal, e no blog Giro pelos Bairros, no portal da Gazeta do Povo. Um dos problemas apontados é a falta de creches, um velho desafio dos prefeitos brasileiros que ainda não foi vencido, como mostrou reportagem publicada no sábado passado pela Gazeta a respeito do ensino infantil.
Ao andar pelos bairros, tenho visto muitas crianças andarem de lá para cá com suas mães ou responsáveis, bem no horário que deviam estar nas creches. O prejuízo é enorme. Para começar, nem a criança tem acesso ao ensino infantil, nem o responsável pode trabalhar, porque precisa ficar em casa para cuidar da criança. Mas a situação é muito mais grave: qual será o efeito disso no futuro escolar e no aprendizado da criança? Quanto tempo levará para esta família ter uma elevação de renda e ascender socialmente, se um dos pais deixa de trabalhar para ficar em casa? Certamente muitos pais gostam de estar próximos de seus filhos, mas não é isso que está em discussão.
Tenho escutado várias histórias, de pessoas que se inscreveram na creche quando os filhos nasceram e hoje, três, quatro anos depois, ainda não conseguiram vagas. Quem conseguiu entrar fica muito satisfeito, mas o problema é chegar lá.
De acordo com o Ministério Público Estadual do Paraná, 76% das crianças de zero a 3 anos e 42% das que têm entre 4 e 5 anos em todo o estado não estão matriculadas na educação infantil. Em Curitiba, estão fora da pré-escola 40% das crianças de 4 e 5 anos. O Plano Nacional de Educação (PNE) estabelece como meta para 2022 que 50% das crianças de 0 a 3 anos estejam matriculadas em creche e 80% das crianças de 4 a 5 anos na pré-escola.
Conseguiremos atingir as metas? Espero que sim, mas infelizmente não há como recuperar o tempo que as crianças de hoje estão passando na rua. Estamos muito atrasados; as creches são para ontem, muito tempo já foi perdido.
O Censo de 2010 mostra que a população de 0 a 4 anos em Curitiba caiu 15,4% em uma década. Em 2010 eram 127.498 crianças, e agora há 107.919. E isso que é preocupante: mesmo com esse decréscimo, as creches e pré-escolas são insuficientes. No bairro Cachoeira, por exemplo, a redução também ficou nesse patamar (-15,7%), mas isso não minimizou o problema da fila. Nesse bairro encontrei a senhora Dirce do Rocio, 63 anos, que estava com duas meninas pequenas no quintal. Netas? Não, são filhas da vizinha, que há três anos tenta uma vaga na creche e, durante todo esse tempo, conta com a ajuda de dona Dirce, assim pode ir trabalhar.
Se no bairro Cachoeira está assim, como será que está a situação das creches nos bairros onde a população infantil cresceu?
Em qualquer lugar do Brasil, o poder público costuma demorar muito para atender às demandas populacionais. Há muitas barreiras, claro, como a dificuldade de se encontrar terrenos livres para a construção de creches e todo o processo burocrático de licitação. Acontece que os detentores do poder acabam gastando dinheiro público com outras ações que não podem ser consideradas prioritárias, e por isso não se consegue dar uma resposta rápida a quem tem urgência.
Os governantes têm muitas obrigações, e seria ingênuo pensar que poderiam se dedicar apenas à construção de creches até que toda a fila seja atendida. Mas, vendo tantas crianças na rua, prefiro a ingenuidade à mediocridade.
Ideb
Agradeço à leitora Cláudia por uma correção à minha coluna passada, na qual tratei do Ideb, o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica. Há várias maneiras de analisar os resultados, e eu fiz uma confusão nos dados da rede pública. Minha intenção era falar apenas dos anos iniciais da rede municipal. Neste ranking, Curitiba efetivamente teve nota 5,8, ao lado de Palmas (TO) e Campo Grande (MS), como publicado. Mas a melhor rede municipal de ensino é a de Florianópolis, que passou de uma nota 5,2 em 2009 para 6,0 em 2011. Peço desculpas a todos e felicito todos os alunos, pais e professores que se esforçam para um ensino público de qualidade.
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