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Desculpe-me a intromissão, mas acho que está precisando de um conselho de alguém experiente. Sou professor, já no fim de carreira, e apoio meus colegas na luta por melhores salários e mais estrutura nas escolas. Para mim, a batalha do Centro Cívico foi de uma violência extrema e inexplicável. Gostaria que os responsáveis tivessem sido punidos exemplarmente. Mesmo assim, o tempo me ensinou que é importante relevar, perdoar e seguir em frente.

Mas o sr. não está colaborando.

Que ideia foi essa de divulgar o salário dos professores estaduais, como se eles fossem marajás e tivessem algo a esconder? Acredito que a sugestão tenha surgido de alguém da sua equipe. Eu, entre muitos, achei um absurdo. Mas, com a sequência de equívocos que continuaram a surgir, decidi escrever este e-mail. Tomara que o sr. tenha a chance de ler – será que seus assessores não o deixariam ver uma mensagem escrita com tão boa vontade?

Tenho a impressão de que esse é o problema principal: seus assessores não estão lhe repassando todas as informações necessárias para o sr. fazer uma boa gestão dessa crise com os professores. E talvez seja difícil para o sr. acompanhar o noticiário e saber de tudo o que acontece no Paraná. Então vou resumir algumas coisas importantes.

Seu governo resolveu colocar o salário de cada um dos professores do Paraná na internet. Não sei se agiram de má-fé ou por ignorância, pois, além do vencimento básico, incluíram como salário vários benefícios que são provisórios ou referentes a pagamentos atrasados. Conheço uma professora do interior que aparecia na listagem do governo com um salário de R$ 27 mil em maio. Puxa, fiquei até com inveja a primeira vez que vi. Mas resolvi tirar a dúvida e telefonar para ela. Daí soube que o salário dela está na casa dos R$ 5 mil (depois de 28 anos de trabalho, veja bem), que recebe mais vale-transporte e alguns outros benefícios acumulados. E que ela ganhou R$ 18 mil naquele mês porque o governo devia alguns atrasados...

Essa professora é minha amiga, conversei com ela por telefone, e estava muito chateada. E pelo jeito havia muitos casos como o dela. Apareceu em telejornais e nos jornais, será que ninguém lhe contou?

E será que nenhum assessor contou que a Justiça mandou corrigir as informações dessa lista de salários dos professores? A decisão, da 4ª Vara da Fazenda Pública, foi divulgada na segunda-feira passada (6), mas é do dia 29 de junho. O juiz deu um prazo bem generoso para o governo fazer as mudanças: 90 dias. Mas ele mandou tirar do ar, no prazo de 48 horas, um texto divulgado pelo seu governo que dizia que em 111 cidades os professores ganhavam mais que o prefeito.

Bom, o problema principal é que o texto estava baseado em salários incorretos. Mas, cá entre nós, e se o professor do interior ganhasse mais que o prefeito, isso seria errado? Acho que seria muito bom, isso mostraria que seu governo realmente valoriza o professor. E essa questão de remuneração é bem relativa. Tome-se como exemplo os deputados jovenzinhos da Assembleia Legislativa: sem experiência de vida, muito menos de função pública, e ganham R$ 25 mil por mês. Isso sim é questionável.

Então, senhor governador, essa questão dos salários dos professores está envolta em erros. Faria muito bem se não falasse mais do assunto. Como é que o sr. vem dizer que a greve dos professores acabou depois que o governo passou a divulgar a remuneração dos docentes? Grande equívoco, governador. Quando soube das suas declarações, feitas na terça-feira (7), resolvi escrever.

Foi no dia anterior que a imprensa noticiou a decisão do juiz da 4.ª Vara. O sr. não viu? Ninguém lhe contou?

Talvez tenha passado batido outra informação, divulgada pela Gazeta do Povo no domingo passado, dia 5: pelo menos 11 estados enfrentaram greve de professores em 2015. E no Acre a paralisação continua. Justo um estado comandado pelo PT. O sr. dizia que a greve no Paraná era movimento de petistas querendo desestabilizar o PSDB. Mas seus assessores não o informaram corretamente. Os docentes também cruzaram os braços em governos do PT, PMDB, PDT, PSB, PSD.

Senhor governador, acho que de posse dessas informações é possível assumir uma nova postura frente aos professores, virar a página. Não seria este o melhor caminho para o Paraná?”

Gaspari

A inspiração veio do jornalista Elio Gaspari, grande fiscalizador do poder público brasileiro e guardião da legalidade – algo que está se tornando raro hoje em dia.

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