A Polícia Federal está em greve desde 7 de agosto. Mas as operações de prisão e apreensão continuam, como pudemos ver no Paraná na quinta-feira, com o indiciamento de 30 pessoas da cúpula da Sanepar por crime ambiental. Não vem ao caso agora discutir quem são os culpados, pois isso cabe à investigação e a um eventual julgamento. Falemos então da ação da Polícia Federal, criticada por alguns por ser "eleitoreira".
Em entrevista na sexta-feira, o governador do Paraná, Beto Richa, disse que suspeitava da operação, e estranhou o fato de ela ter ocorrido durante o período de greve e também por coincidir com o período eleitoral.
Pois bem. Desde 7 de agosto, a PF deflagrou 12 operações em todo o Brasil. Parte da equipe continua trabalhando, enquanto outros fazem as reivindicações do movimento grevista.
Situação semelhante se passa nas universidades: a greve atingiu principalmente a graduação. Na pós-graduação, nos programas de mestrado e doutorado, a grande maioria dos professores continuou trabalhando, e as aulas ocorreram normalmente, assim como as pesquisas conduzidas por docentes e discentes.
Uma categoria pode perfeitamente entrar em greve e, ao mesmo tempo, continuar a atender a população ou produzir bens e serviços que sirvam à coletividade. É questão de opção. Mas há quem não entenda isso.
Os deputados estaduais do Paraná, por exemplo, não conseguem acompanhar as eleições municipais e trabalhar ao mesmo tempo. Por isso se autoconcederam um recesso de 18 dias, sem nenhum tipo de desconto salarial. Vão continuar recebendo normalmente.
A gestão pública brasileira, infelizmente, é bastante contaminada por interesses partidários. Mas isso não significa que qualquer ação da PF neste período tenha conotação eleitoreira. Se houvesse algum interesse de realmente influenciar o pleito municipal, imagino que os investigadores teriam maneiras mais diretas de fazer isso. Não fariam por meio de uma empresa de economia mista controlada pelo governo do estado.
Voltando ao calendário da PF: do início de agosto até 20 de setembro foram 12 operações. Arredondando, dá uma ação a cada dois dias e meio. É claro que o movimento grevista atrapalha o andamento das ações. As operações da PF costumavam ocorrer em um ritmo muito mais rápido. Do início de janeiro até 20 de setembro, foram 179 operações, praticamente uma a cada um dia e meio.
Drama eleitoral
Na verdade, não há muito o que questionar a fala do governador Beto Richa. Se a situação fosse inversa se o nosso governador fosse de um partido de esquerda, e o governo federal fosse comandado por um partido de direita, o primeiro também reclamaria se virasse alvo de uma investigação da Polícia Federal.
Os políticos usam e abusam da máquina pública durante as eleições, até o limite da lei às vezes a infringindo. Esse é um dos males da reeleição sem a necessidade de licenciamento do cargo. Outra situação que contribuiu para esse jogo de apoio e de empurra-empurra é o nosso calendário eleitoral, com pleitos a cada dois anos. O assunto foi tratado recentemente neste espaço, em 30 de junho.
Se as disputas majoritárias coincidissem, os candidatos não poderiam depender de padrinhos políticos como ocorre hoje. Os candidatos a prefeito, a governador e a presidente teriam que construir suas propostas de forma mais sólida, independentemente das outras esferas de poder.
É só parar para pensar: como seria se as disputas pela prefeitura de Curitiba, pelo governo do Paraná e pela Presidência da República ocorressem todas neste ano? Não adianta ficar fazendo suposições, mas dá para imaginar que muita coisa seria diferente. E para melhor.
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