• Carregando...

Tornei-me mãe e isso causa um grande impacto no meu trabalho. Então, acho válido levantar alguns pontos antes de partir para o trabalho propriamente dito – que é o monitoramento e avaliação de políticas públicas e ações governamentais em todas as esferas.

Entre a publicação da última coluna antes de minha licença-maternidade e a de hoje passaram-se oito meses, um período altamente conturbado politicamente. Tomada pela felicidade e preocupações do meu novo papel, acompanhei superficialmente alguns episódios marcantes na história recente do Paraná e do Brasil. Mas o que vi, ouvi e li foram o suficiente para proporcionar alguns momentos de pânico: como criar uma criança nesta nossa sociedade tão desigual, injusta e corrupta?

(Silêncio ensurdecedor)

Passado o desespero e a sensação de que está tudo errado, eis que é possível reconhecer avanços na nossa sociedade, os quais dão esperança para construir um país melhor para nossas crianças – e motivação para continuar na labuta de denunciar abusos e irregularidades cometidas pelas autoridades.

Aliás, não são apenas autoridades e políticos que andam fora de linha. As investigações da Lava Jato, das contas de brasileiros no HSBC na Suíça e das fraudes no Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (Carf) da Receita Federal deixaram bem claro que a corrupção e a bandalheira no Brasil não têm cor ou credo: uma lista extensa de empreiteiras, empresários, políticos, artistas, atletas e outros foram flagrados em irregularidades.

Até mesmo médicos renomados do Paraná ocuparam as páginas policiais. Atuavam em clínicas particulares quando deveriam cumprir expediente integral no Hospital de Clínicas.

Pausa novamente. Como chegamos a este ponto, de cada um por si, salve-se quem puder?

Sim, é deprimente pensar a respeito. Por outro lado, vejam só: estamos falando a respeito. Esses casos todos foram flagrados. Vieram à tona. São alvo de investigações policiais. Em vez de noticiarmos apenas as filas de pacientes esperando atendimento médico, os jornais mostraram uma das causas do problema: profissionais concursados que recebiam mas não trabalhavam, prejudicando a saúde pública.

Na Operação Lava Jato, pelo menos por enquanto, não houve blindagem de empresas participantes do esquema. Ainda ontem foram cumpridos mandados contra os presidentes de duas grandes empreiteiras, Odebrecht e Andrade Gutierrez. Executivos presos anteriormente já contribuíram com delações e informações relevantes sobre esquemas de corrupção que corroem as finanças públicas, o que ajudará no maior controle a partir de agora.

E, falando em delação, estamos presenciando outra grande investigação no Paraná, para analisar um esquema de corrupção antigo e perene na Receita Estadual. Nessa operação foi preso Luiz Abi Antoun, que é mais do que parente distante do governador Beto Richa: homem de confiança e que exercia influência sobre o tucano.

Essa operação, além de desvendar um rombo histórico na arrecadação tributária do Paraná, dá um alento ao mostrar que não há mais intocáveis. Se até mesmo um primo do governador, homem que circulava pelos gabinetes dos poderosos, está na cadeia, outros tão ou mais poderosos hão de acompanhá-lo.

Por fim há que se comemorar a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) liberando a publicação de biografias sem prévia autorização. A ministra do STF Cármem Lúcia foi bem clara: “o cala a boca já morreu”. Não quer dizer, obviamente, que se pode falar qualquer coisa em nome da liberdade de expressão. Nem em biografia, nem em lugar nenhum. Nesta semana, a rede Havan conseguiu que um internauta se retratasse por ter espalhado mentiras sobre a empresa pelo Facebook.

A liberdade de expressão deve ser exercida com responsabilidade, e lugar melhor para isso não há: o jornal, seja impresso, seja on-line. Para falar de todas as prisões, fraudes e irregularidades. Para falar de pessoas, cidades, da nossa história, esporte e cultura. Para falar de boa mesa, viagens, animais e coisas boas. Para fazer homenagem ao nosso mítico contista e vampiro, Dalton Trevisan, como a Gazeta do Povo fez ao longo da semana (http://bitly.com/semanadovampiro). Para fazer tudo isso e contribuir para que nossas crianças cresçam com bem-estar em uma sociedade mais justa, igualitária.

É bom estar de volta.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]