Mais carros nas ruas. Tudo bem, desde que...

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Se todos os automóveis registrados no Detran do Paraná (são 3,3 milhões de carros, utilitários e caminhonetes) ficassem enfileirados, dariam uma volta e meia ao redor da Terra, na linha do Equador. Bastante, né? E o número de veículos vai continuar aumentando. As pessoas têm mais dinheiro, mais facilidade de crédito, e as montadoras só querem bater recordes de vendas. Fora as propagandas maciças e insuportáveis das concessionárias (sempre é a última oportunidade, o último feirão do ano), tudo bem. Todos têm direito de ter carro próprio.

De acordo com dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), o Brasil tem uma taxa de motorização muito inferior ao de outros países desenvolvidos. Enquanto aqui havia 15 veículos para cada 100 habitantes em 2009, a média era de 70 carros nas nações mais desenvolvidas. No Paraná, a relação entre a frota e a população de agosto de 2011 indica uma taxa de 31,8 veículos por 100 pessoas. Em Curitiba, que tem uma frota enorme, já temos índices de "primeiro mundo".

Esses números indicam que a tendência é que a frota brasileira aumente. Então teremos que conviver com engarrafamentos cada vez maiores e mais frequentes? Ficaremos sufocados pela poluição emitida pelos carros? Imagino que não. Mas, para evitarmos o pior cenário, o poder público precisa investir em meios de transporte coletivos ou alternativos. Se houver boas opções, as pessoas deixarão os carros na garagem no dia a dia, e só os usarão em ocasiões especiais. É isso o que acontece nos países mais desenvolvidos. Dá para escolher entre metrô, muitas linhas de ônibus, táxis, ciclovias ou ainda andar a pé – na maioria desses locais há segurança para isso. Muito longe da realidade da capital paranaense, infelizmente, conforme os exemplos que se seguem.

Em Curitiba os cicloativistas estão fazendo barulho e tentando modificar as políticas públicas da prefeitura para a bicicleta. A ciclofaixa do centro da cidade, por exemplo, foi bombardeada por críticas antes de ser inaugurada, o que será feito amanhã. A ideia inicial é limitar o uso para um domingo ao mês, das 8 às 16 horas. Mas as reclamações foram muitas, e pode ser que ocorram mudanças. Para quem quer ficar a par de tudo, basta acompanhar o blog Ir e Vir de Bike, no site da Gazeta do Povo.

O que parece impossível de mudar é a frota de táxis da cidade. Na terça-feira passada, após vários adiamentos, a Câmara de Vereadores iria votar um projeto para aumentar o número de veículos em circulação. Mas houve nova protelação. O texto tem alguns pontos que podem ser questionados por inconstitucionalidade, mas o que está emperrando a discussão é o tamanho da frota. Dados já divulgados pela Gazeta do Povo mostram que Curitiba tem apenas um táxi para 778 pessoas, bem acima do recomendável, que é um veículo para cada 300 habitantes. Os taxistas curitibanos não querem um aumento muito grande, porque temem perder dinheiro com a concorrência. Mas a verdade é que esperar um táxi hoje em dia em Curitiba exige paciência em dose tripla. O assunto é da alçada da prefeitura, mas até agora ela ficou de fora da discussão – o projeto foi proposto por um vereador.

Sobre os ônibus há muito que falar, mas o espaço aqui já está quase acabando. Então, só uma observação rápida. Às vezes, quando fico plantada em um ponto de ônibus, sem saber que horas o próximo virá, costumo olhar para o mapa da Rede Integrada de Curitiba (presente em todos os pontos do mobiliário urbano novo), tentando entender se há alguma informação realmente relevante que justifique sua presença ali. Até hoje não consegui, e fico imaginando qual é a dificuldade de trocar esse mapa por uma folha com o horário estimado em que o ônibus passa naquele ponto, a direção para qual vai e de onde vem. A capital paranaense está se gabando dos grandes e coloridos ônibus que têm, mas uma folha de papel com informações em preto e bran­­­co já seria de grande ajuda.

O metrô, pela complexidade e novidade, também merece uma coluna à parte. Só fica aqui a pergunta: como funcionará o novo modal, se a prefeitura tem tantas dificuldades para implantar coisas básicas, como ciclovias, novos táxis e folhinhas com horário de ônibus?