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Os preços dos produtos e serviços subiram muito nos últimos anos, mas, em certos aspectos, teriam de subir ainda mais, para evitar uma situação ainda pior. Esse parece ser o caso da gasolina.

Nos últimos anos, a demanda pelo combustível cresceu bastante, impulsionada pela venda recorde de veículos, a qual, por sua vez, está diretamente relacionada com as isenções fiscais patrocinadas pelo governo federal. Segundo os dados de varejo do IBGE, as vendas de combustíveis de 2011 até junho de 2013 subiram 11,5%, contra 6% do comércio como um todo.

Fora os danos causados ao meio ambiente e à saúde, o maior consumo de gasolina onerou as contas da Petrobras. Estamos longe da autossuficiência. Em 2011 e 2012, o Brasil importou cerca de 21 milhões de barris de gasolina (barris equivalentes a petróleo – bep), a um custo de US$ 3 bilhões. Nos primeiros seis meses deste ano, a importação já chegou a 13,6 milhões de barris, e o preço do produto está mais alto.

Os números são da Agência Nacional do Petróleo (ANP) e deveriam ser confiáveis, mas não refletem bem a realidade, por causa de mais uma estratégia de contabilidade criativa adotada pelo governo federal. (Será a trigésima ou centésima estratégia diferente? Alguém consegue acompanhar?) O fato é que a importação de petróleo cresceu nesse período e, para piorar, a cotação do dólar, que no começo de 2011 era R$ 1,67, está batendo em R$ 2,40.

Mas o preço da gasolina para o consumidor está estável – você pode não acreditar, mas é isso mesmo. Segundo o IBGE, entre junho de 2011 e junho de 2013, subiu 1,7% no Brasil. No Paraná, o aumento foi um pouco maior, segundo os dados da ANP. O litro do combustível foi vendido a um preço médio de R$ 2,64 na metade de 2011 e passou para R$ 2,76 no mês passado – variação de 4%. Ainda assim, inferior à inflação do período (o IPCA acumulado é de 12%).

A Petrobras é uma empresa brasileira, e seria ótimo se ela pudesse absorver a alta dos combustíveis. Mas, justamente por ser uma empresa, ela precisa ter lucro, para reinvestir e contribuir com o desenvolvimento socioeconômico do país. E este é um momento crucial para ela. Em outubro começa o leilão para exploração dos campos de pré-sal, e a empresa terá uma participação compulsória de pelo menos 30% nos consórcios vencedores. Isso exige dinheiro em caixa.

O ministro das Minas e Energia, Edison Lobão, reiterou que a empresa tem plena capacidade de fazer os investimentos planejados e manter a participação de 30% nos consórcios. Lobão ressaltou que a empresa teve lucro de R$ 6 bilhões no trimestre passado. Na verdade, isso não serve como garantia. A Petrobras atua numa área complexa e de grande risco. Nesta semana, foi condenada pela Justiça Federal a pagar pelo menos R$ 1,4 bilhão ao Fundo Estadual do Meio Ambiente do Paraná, por causa dos prejuízos causados ao meio ambiente pelo vazamento na Repar, em 2000. A empresa ainda pode recorrer e, no momento, não terá de desembolsar nada. Mas ela precisa ter um colchão bem recheado para eventualidades como essa.

Pois bem. Se a Petrobras precisa investir e, ao mesmo tempo, precisa importar petróleo; o dólar está em uma fase de alta; e os preços praticados internamente estão descasados com a realidade do mercado internacional, a única solução é aumentar o preço dos combustíveis.

Não quero o aumento da gasolina, mas parece uma situação inevitável, ainda que o efeito imediato será uma pressão sobre a inflação.

O dragão da inflação assusta, mas pelo menos é um bicho conhecido, e já sabemos como domá-lo – basta aplicar os remédios corretos. O grande perigo é que surjam novos "monstros" na economia brasileira, alimentados pela gigante contabilidade criativa que o governo federal utiliza para transformar gasto em investimento, antecipar receita e jogar dívida para frente. Se o preço dos combustíveis não subir, será preciso recorrer mais uma vez a essa criatividade, pois as contas não fecham.

Não dá para saber o que vai ocorrer. O Ministério da Fazenda, que está por trás de toda a invencionice contábil, anda tão descolado da realidade que é possível que venha a comemorar a criação de uma nova empresa estatal: "Monstros S.A". Isso sim é algo a ser evitado.

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