A revista britânica The Economist, assumidamente privatista e liberal – ou seja, contra quase tudo que o governo do PT vem promovendo no Brasil nos últimos anos – avaliou que o juiz Sergio Moro pode ter ido longe demais ao levantar o sigilo de todas as interceptações telefônicas envolvendo o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
A The Economist é a mesma que, em dezembro de 2012, defendia a demissão do então ministro da Fazenda, Guido Mantega, por considerar equivocada as intervenções do governo na economia. Mantega ficou no cargo até 1º de janeiro de 2015 e as consequências danosas da sua gestão ainda vão afetar a vida dos brasileiros por algum tempo.
A The Economist que fez a análise crítica de Moro é a mesma que, nesta semana, defendeu a renúncia de Dilma, por considerar que ela está inapta a governar o Brasil. A revista diz que essa opção é melhor que o impeachment, pois os processos abertos contra a presidente “são baseados em alegações não comprovadas” a respeito das pedaladas fiscais e são só um pretexto para tirar uma presidente impopular do cargo. A publicação opina que “democracias representativas não podem ser governadas por protestos e pesquisas de opinião”.
Difícil dizer se a revista está certa, ou se terá sucesso em sua defesa da renúncia – algo que parece impossível no momento atual. Na verdade, não é ela que vai dizer o que precisa ser feito ou não no Brasil.
O ponto a se destacar, porém, é que a revista exprime sua opinião sem amarras. Da mesma forma que critica Dilma, também critica Moro. Não precisa apoiar 100% um lado ou outro. É independente.
Essa independência também é imprescindível no Judiciário. Se Sergio Moro cometeu excessos – e acho que foi isso que aconteceu, do mesmo modo como acho que a Lava Jato é fantástica – há mecanismos de controle e, eventualmente, de punição.
O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Teori Zavascki quer avaliar se Moro cometeu excessos. Determinou que toda investigação sobre Lula seja enviada ao STF e pediu esclarecimentos ao juiz federal do Paraná. Isso, num país democrático, não deveria ser visto como algo extraordinário.
Neste ambiente de discórdia, porém, a decisão de Teori é vista como um “crime” por parcela da população. Em frente à residência dele, foram colocadas faixas de protesto. A partir desse ato, internautas/criminosos sugeriram que a casa dele fosse incendiada, que fosse fuzilado. Todos acusando-o de estar a serviço do PT.
Essas pessoas se esquecem muito rápido. Esse Teori é o mesmo Teori que em novembro determinou a prisão do então senador petista Delcídio do Amaral. Será que na ocasião ele estava a serviço do PT? Esse Delcídio preso é o mesmo Delcídio que resolveu soltar o verbo para incriminar Dilma e Lula. Ele mencionou mais um punhado de políticos, mas Dilma e Lula estão na vitrine e são os mais atingidos.
Teori mudou a história da República ao determinar a prisão de Delcídio. Na época, o pedido de impeachment havia perdido força. O Planalto contabilizava algumas vitórias na Câmara e no Senado. Alguns dias antes, Marina Silva veio a público para criticar o que ela chamou de “acordão” no Congresso para salvar Dilma do processo de impeachment e também blindar o presidente da Câmara, Eduardo Cunha.
A prisão de Delcídio mudou tudo. Os radicais, porém, se esqueceram do papel de Teori. Mas é bom lembrar que não é preciso ser 100% Moro para estar do lado da Justiça.
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