| Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil

Brasília incendiou na quarta-feira (24), militares na rua fizeram arder feridas ainda abertas e mais uma vez vimos a desfaçatez de políticos e a arrogância dos agentes do mercado que querem nos impor suas vontades. Mas no mesmo dia um grupo de amigos se despediu feliz de um tal de James, já se preparando para reencontrá-lo em outro lugar; no mesmo dia uma menina Ana Clara foi encaminhada para fazer parte de uma nova família.

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O tempo presente muitas vezes causa indignação e nos oprime, mas sempre há as expectativas por coisas melhores. Por mudanças, nascimentos, reerguidas, ciclos que se fecham para dar início a outros. A Gazeta do Povo está em processo de mudança e na semana que vem encerrará as publicações diárias do jornal impresso. Com isso, essa coluna também se encerra.

Foram quase seis anos de textos semanais, falando sobre temas diversos de gestão pública de Curitiba, do Paraná, do Brasil. É difícil dizer adeus e ainda escolher um único assunto para finalizar minha participação como colunista.

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Seguem então, alguns recados variados, de temas mais delicados neste momento de tanta tensão.

1- Pessoas queridas que querem um Brasil melhor via Diretas Já: compreendo suas angústias, mas acho que quanto menos mexer nos dispositivos legais agora vigentes, menos pior. Já abordei o assunto na semana passada, falando de todas as dificuldades que novas eleições trariam. De lá para cá, vi vários analistas reiterando o mesmo.

Nesta quinta-feira (25), a Folha de S. Paulo publicou uma entrevista com o cientista político Fernando Abrucio, que em poucas palavras responde bem à pergunta sobre uma eleição indireta conduzida pela atual composição da Câmara dos Deputados: “É melhor termos um mandato tampão que prepare eleições com quatro ou cinco meses de campanha e de debate do que fazer eleições diretas correndo, sem tempo nem debate, e ficarmos com o mesmo Congresso. [...] Temos de compatibilizar legitimidade e estabilidade para termos boas eleições com amplo debate sobre a reconstrução do sistema político”.

2- Empresas, não rifem o Brasil pelas reformas. O governo de Michel Temer não tem mais sustentação, o que o segura são as reformas trabalhista e da Previdência, que tramitam no Senado e na Câmara dos Deputados, respectivamente. Empresas, deixem de lado esses assuntos e foquem no essencial: estabilidade política. A crise Michel Temer precisa de uma resolução rápida.

Ah, mas as reformas são urgentes para o Brasil voltar a crescer. Que tal um intervalo de um mês? Isso causaria o caos? A resposta é não, considerando o discurso de que as mudanças são todas necessárias para a sustentabilidade e produtividade do país no longo prazo.

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Aliás, poderíamos discutir mais a fundo se as reformas causarão os efeitos tão esperados na economia. Em maio de 2015, a Organização Internacional do Trabalho (OIT) lançou um estudo que mostra que a flexibilização das leis trabalhistas não incrementou os níveis de emprego nos países estudados e, em alguns países em que a regulamentação aumentou, o desemprego caiu.

3- A Reforma da Previdência é necessária para corrigir distorções, certamente, mas o lobby no Congresso gerou um texto injusto: mantém regalias para grupos privilegiados e prejudica a grande maioria dos trabalhadores comuns. Como já dito aqui, seria a maior reforma do estado de bem-estar social do país, e precisa ser melhor debatida. Não pode, não deveria ser conduzida a toque de caixa para que Temer (ou seja lá quem esteja no poder) use como escudo de legitimidade.

4- Deputados, tenham vergonha na cara. Se a impunidade era a regra, saibam que isso mudou, definitivamente.

5- Governantes em geral: respeitem o povo, tanto as pessoas que te idolatram no Facebook quanto os outros que, por dever de ofício, precisam fazer perguntas mais espinhosas. Os senhores bem sabem que foram eleitos para gerir de forma responsável, transparente e democrática.

6- Pessoas todas: boa sorte para definirmos os rumos do nosso país.

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