Porto Alegre

Conheça alguns números sobre a frota de lotações:

• Criada em 1977; bilhetagem eletrônica adotada apenas em 2012; 403 veículos com 21 lugares;

• Atendimento de 29 linhas e 18 desmembramentos;

• Transporte de 60 mil passageiros por dia;

• Participação em apenas 1% dos acidentes na cidade.

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Como há quase tantos modelos de transporte público como o número de cidades no mundo, um texto é pouco para falar sobre a necessidade ou não de cobrador em ônibus. Por isso, e motivada por alguns e-mails, especialmente o do leitor Vitor Carvalho, volto ao assunto da coluna anterior (http://bit.ly/1p2kC5z).

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Quando se viaja mundo afora é possível ver que a atividade do cobrador não é fundamental para o bom funcionamento do sistema de ônibus. Nem é preciso ir tão longe. Em Porto Alegre, desde 1977 existe a opção de lotação. No início eram usadas apenas Kombis, para oito pessoas. A partir de 1992 foram autorizados veículos com 21 lugares.

Morei em Porto Alegre na minha adolescência e usei muito o lotação – a palavra é masculina mesmo. Ele custa mais do que o ônibus – atualmente, R$ 4,40 e R$ 2,95, respectivamente – mas oferece mais comodidade. Os veículos têm ar-condicionado e poltronas do tipo de ônibus executivo. Os lotações circulam em rotas fixas, mas o passageiro pode pedir para descer em qualquer lugar – "quero parar ali na esquina", "vou ficar na frente do colégio", etc.

Naquela época (como isso foi há 20 anos, a expressão é adequada, infelizmente) a passagem era paga na hora de descer: levantava com o veículo em movimento e, falando com o motorista, entregava-lhe o dinheiro. Algum problema? Em dois anos por lá, nunca soube de nenhum. Talvez ocorram alguns incidentes, como em qualquer evento cotidiano. O fato é que o número de acidentes envolvendo os lotações é muito baixo – em média, 1% do total registrado na cidade.

Enfim: o estresse dos motoristas e a falta de pontualidade do transporte público em Curitiba não estão diretamente ligados à dupla função. Dirigir e cobrar não é, em si, problema; o problema é a escassez de veículos e mão de obra para dar conta de uma tabela de horários irreal no trânsito caótico que temos hoje.

Uma situação local para reforçar esse argumento: os veículos da linha Jardim Social/Batel, especialmente no período noturno, estão sempre atrasados, e não é por causa da dupla função, mas porque o trajeto é via Avenida do Batel, na ida e na volta, completamente congestionada. Na quarta-feira passada, por exemplo, às 20 horas, três veículos chegaram ao mesmo tempo na Praça Carlos Gomes, todos atrasados. É de se esperar que os motoristas dessa linha apresentem um nível de estresse bem maior do que os da linha Cajuru, por exemplo, que não passa por ruas tão caóticas, ainda que os condutores também façam a cobrança.

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Argentina

Em época de Copa do Mundo, falar de Argentina causa melindres em alguns, mas viajar a Buenos Aires é uma delícia. Quando estive lá, há alguns anos, usei bastante o ônibus, o qual só pode ser pago com cartão-transporte ou moedas – diretamente em uma máquina, que dá troco, se for o caso. O motorista não aceita dinheiro.

Esse tipo de restrição pode causar problemas, mas mesmo situações emergenciais podem ser contornadas. Na última noite em Buenos Aires, eu e um amigo estávamos em uma das churrascarias de Puerto Madero quando caiu uma grande tempestade. Tentamos chamar um táxi – nós e a torcida do Boca Juniors. Uma hora de espera e nada. Saímos pela rua na maior chuva, e também não havia táxis disponíveis. A grande preo-cupação é que tínhamos poucas horas para ir até o aeroporto e tomar o avião de volta ao Brasil. Mas não tínhamos moeda para o ônibus, nem cartão-transporte – já estávamos no fim da viagem! Pegamos um ônibus e explicamos ao motorista. Ele ficou bravo, mas nos aceitou, e nem pagamos. Resumindo: não é por ocorrências como essa que o cartão-transporte deixa de ser a melhor opção.

Obviamente, Curitiba não precisa copiar nenhum modelo alheio. Mas é bom saber o que ocorre em outras bandas.

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