O partido inimigo da imprensa efetivamente existe, mas, diferentemente da visão histérica de alguns, ele é composto por políticos amarelos, azuis, vermelhos, laranjas, verdes e qualquer outra cor que exista nas logomarcas das siglas. Há uma corrente forte no Brasil que diz que o PT é contra a mídia, mas não se deixe enganar: essa é uma visão reduzida da realidade.

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O PT mantém algumas posições ideológicas claras – foram poucas as que sobreviveram após quase 12 anos na Presidência da República – e a regulamentação da mídia é uma delas. Em editorial publicado nesta semana, O Estado de S. Paulo observa que há pelo menos dois motivos "justos" que exigem a regulamentação. Um deles é que o Capítulo V da Constituição Federal (artigos 220 a 224, que tratam da Comunicação Social) ainda está desregulamentado. Outra razão é que o Código Brasileiro de Telecomunicações, de 1962, que normatiza o rádio e a televisão, está completamente defasado, e é de uma época em que nem a internet existia.

Para o Estadão, as boas intenções acabam por aí. O jornal conclui que os políticos do PT são "adeptos da mordaça, do cerceamento da liberdade de expressão e de imprensa".

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Não tenho elementos para fazer uma afirmação do tipo. Mas, na tentativa de ajudar no debate, posso compartilhar algumas coisas sobre o ofício de repórter e como políticos tentam cercear a liberdade de expressão – apesar de, publicamente, negarem isso veementemente.

Quando digo que o inimigo da mídia "veste" diversas cores, é porque, realmente, há cerceadores da atividade da imprensa em todos os partidos. Mas, geralmente, não são os políticos que assumem essa ardilosa tarefa. São os assessores que fazem isso. Ou os puxa-sacos.

Não é de agora que ocorrem situações do tipo: é publicada uma reportagem falando sobre algum problema de um governo. Digamos que é uma reportagem sobre o gasto excessivo com publicidade no governo estadual. No outro dia, um assessor liga. O objetivo não é contestar os dados apresentados – afinal, estão corretos. A intenção é tentar "dividir o prejuízo" com o grupo político adversário, ou minar a confiança do repórter. Um exemplo do que o assessor fala: "Mas você viu que na prefeitura o gasto com publicidade foi de X?"; ou: "Esse assunto nem tem importância, considerando que o governo conseguiu investimentos recordes...".

Às vezes o assessor não tem disposição para argumentar nada, mas precisa fazer algo, talvez por seguir ordens, talvez apenas para tentar esclarecer algum ponto. O repórter questiona: "há alguma correção a fazer?", mas a resposta é negativa: "é apenas para você saber, não há necessidade de fazer nenhuma correção".

Difamação

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Há casos em que assessores fazem realmente difamação. Um repórter liga para um setor e faz algumas perguntas. O assessor responde por e-mail: "Bom dia. Para evitar que informações equivocadas sejam publicadas, como ocorreu com a matéria da Rosana Félix, peço a gentileza de enviar por e-mail quais informações você precisa...".

Este e-mail é de agosto de 2012, mas ainda guardo no meu escaninho, como lembrança. Assim como guardo todos os e-mails que enviei anteriormente e que me dão a segurança (e a prova) de que não publiquei "informações equivocadas".

O assessor também sabia que não havia "informações equivocadas" – afinal, não houve necessidade de nenhuma correção. Mas faz parte da tática de tentar reduzir o número de reportagens negativas contra o governo para o qual trabalha.

Também há muita difamação em alguns blogs, que por vezes agem de maneira irresponsável. Em época de eleição é sempre um risco, e já vimos disso acontecer: um blogueiro, sabe-se lá como, tem acesso às perguntas que um repórter enviou a determinado político. Como isso acontece? E, o pior: as perguntas são escancaradas no blog, com comentários maldosos do blogueiro.

Pessoalmente, considero esses pequenos atos um grande atentado à liberdade de imprensa. São pequenas coisas que, somadas, podem levar um repórter ou um editor à autocensura. Quem sai ganhando com isso? A sociedade é que não.

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Como são coisas de bastidores, que de uma maneira ou outra fazem parte do ofício jornalístico, essas situações não são faladas publicamente. Mas, como as eleições estão próximas, vale a pena dedicar algumas linhas para histórias como essas contadas aqui.

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